Sistema GeoRisk. Foto: Rodrigo Cabral/MCTI

Com o objetivo de aprimorar a capacidade de previsão e monitoramento de deslizamentos de terra, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou, nesta segunda-feira (17), em São José dos Campos (SP), o GeoRisk, um novo sistema desenvolvido pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do MCTI.

A ferramenta oferece alertas mais precisos com até 72 horas de antecedência — período que era até então de 24 horas. De acordo com o Cemaden e o MCTI, desde o início dos testes, o GeoRisk foi capaz de detectar 90% dos principais desastres associados a deslizamentos de terra.

Com isso, garante-se maior precisão e rapidez no aviso e suporte às autoridades para a tomada de decisão de envio de alertas à população, o que contribui diretamente para salvar vidas e evitar maiores perdas materiais num contexto em que a crise ambiental vem resultando em condições climáticas cada vez mais adversas.

“Lançar este novo sistema, que aprimora a qualidade das previsões de risco de deslizamentos, nos coloca na vanguarda da antecipação de riscos. Trata-se de uma ferramenta inovadora, com o potencial de salvar vidas e evitar perdas materiais”, declarou a ministra do MCTI, Luciana Santos.

Luciana salientou, ainda, que “há um processo que já nos afeta com fortes chuvas, enchentes, secas, ondas de calor, com impacto em diversos setores e em nossos modos de vida”.

Ela alertou que esses eventos vão se agravar e isso cobra ações “coordenadas e urgentes”. A ministra ainda ponderou que o país tem um desenvolvimento urbano descontrolado, o que agrava a situação. “Mais de 80% da população brasileira nesse país continental vive nos centros urbanos e muitas vezes em áreas de risco, ou em morros ou em alagados”, pontuou.

Somente em 2024, o Cemaden emitiu mais de 3,6 mil alertas de desastres, maior número desde o início do monitoramento em 2011. Ao todo, houve quase 1,7 mil desastres, terceiro maior registro da série, sendo 53% relativos a riscos geológicos, como os deslizamentos de terra. Outros 47% diziam respeito a riscos hidrológicos, como enxurradas e transbordamentos de rios e córregos. 

Ao todo, 251 pessoas perderam a vida em decorrência de desastres causados pelas chuvas, a maioria, 183 mortes, 70% do total, ocorreu nas enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Com isso, 2024 foi o quarto ano mais letal para esse tipo de eventos desde 1991.

Análises mais precisas

Pedro Camarinha, engenheiro responsável pelo GeoRisk, explica que “o sistema pega muitos e variados dados, realiza análises complexas através de equações que nós utilizamos aqui no nosso dia a dia e entrega isso de uma forma prática e de fácil entendimento para o usuário final”.

As informações que alimentam a ferramenta são retiradas de diferentes modelos meteorológicos, além de dados ambientais e históricos de desastres. Com base nesse conjunto de elementos, fornece previsões de risco em cinco níveis (muito baixo, baixo, moderado, alto, muito alto).

De acordo com o MCTI e o Cemaden, “a combinação de múltiplos modelos de previsões numéricas de tempo e o uso de ‘limiares críticos de precipitação’ constituem uma abordagem complexa e pouco aplicada globalmente, o que determina o caráter inovador do sistema”.

Camarinha argumenta que “não há qualquer sistema público para esta finalidade no mundo, principalmente se incluirmos vários aspectos da complexidade inerente à abrangência do nosso território nacional e suas dimensões continentais”.

Para atingir a melhor precisão possível, o sistema foi aprimorado ao longo de três verões consecutivos, por meio de testes estatísticos e calibragem com aprendizado de máquina (machine learning), aumentando a sua precisão.

O engenheiro acrescenta que o GeoRisk “tem uma robustez metodológica que nos permite ir aprendendo, ao longo do tempo, se os nossos alertas estão sendo efetivos ou não, se eles se concretizam realmente em ocorrências ou não e com o passar do tempo nós vamos calibrando cada previsão de uma maneira cada vez melhor”.