Endividamento cai, mas comprometimento da renda com dívidas cresce, aponta CNC
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Os brasileiros estão comprometendo uma fatia maior de suas rendas com dívidas neste início de ano, constatou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada esta semana pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O fenômeno é atribuído aos juros altos da economia: enquanto a população está com menos acesso ao crédito, as dívidas já contraídas ficaram mais caras com o novo ciclo de aumento do juro básico da economia, atualmente em 13,25%.
“Apesar da queda do endividamento, as dívidas estão consumindo uma parcela maior da renda das famílias brasileiras, especialmente por causa dos juros altos e prazos mais curtos. Esse cenário pode manter a inadimplência em patamares elevados nos próximos meses”, afirma o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.
Segundo a CNC, o comprometimento da renda dos brasileiros cresceu em janeiro, com 20,8% dos brasileiros afirmando terem destinado mais da metade de seus rendimentos para o pagamento de dívidas. O estudo também mostra o crescimento da percepção de endividamento, com 15,9% da população considerando estar “muito endividada”, ante 15,4% em dezembro do ano passado.
Por outro lado, as restrições de crédito e a prudência da população em contrair dívidas no atual cenário restritivo foi responsável por fazer o endividamento geral recuar 0,6 ponto percentual em janeiro ante dezembro, atingindo 76,1% da população.
“Os juros elevados e a seletividade do crédito fazem com que os consumidores procurem fazer menos dívidas e, como efeito adverso, aumentam sua percepção de endividamento. A leve melhora da inadimplência indica que houve um esforço nas casas brasileiras para equilibrar suas finanças, mas o comprometimento crescente da renda acende um sinal de alerta para a economia em 2025”, avalia o presidente do Sistema CNC, José Roberto Tadros.
A entidade projeta crescimento do endividamento e da inadimplência ao longo de 2025, já que os resultados de janeiro tendem a refletem também o recebimento de 13º salários, momento em que a população costuma colocar suas contas em dia.
O número de famílias com dívidas em atraso recuou de 29,3% em dezembro, para 29,1% em janeiro. O percentual das que afirmam não ter condições de pagar o que devem caiu de 13% para 12,7%. Apesar disso, os resultados ainda estão acima dos patamares observados em janeiro de 2024 (28,3% e 12%, respectivamente).
No recorte por faixa de renda, a pesquisa demonstra que as famílias mais vulneráveis estão em maior dificuldade diante do cenário econômico. Para os núcleos familiares com renda de até 3 salários mínimos, o endividamento, acima do geral, atinge 79,5%, enquanto 37,8% estava com dívidas em atraso em janeiro.
O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de endividamento, atingindo 83,9% do total de devedores. As dívidas com crédito pessoal cresceram 1,3 ponto, atingindo 10,9% em janeiro, enquanto os carnês representam as dívidas de 16,8% dos endividados.
Assim como visto nos últimos anos, a CNC projeta que a economia em contração e as rendas apertadas serão responsáveis por fazer crescer a parcela da população que precisa recorrer ao crédito até mesmo para o consumo dos bens mais básicos. A entidade projeta que a partir de março os níveis de endividamento e inadimplência devem voltar a subir sob a perspectiva da manutenção da Selic no patamar atual, com expectativa que chegue ao final de 2025 com 77,5% da população endividada e 29,8% inadimplente.
“A necessidade de recorrer ao crédito para consumo, somada à manutenção de juros elevados, deve tornar a gestão financeira um desafio ainda maior para os consumidores brasileiros”, conclui o economista Felipe Tavares.
Fonte: Página 8