Oposicionista Luisa enfrenta no segundo turno Noboa, que devastou economia do Equador
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Com mais de 80% das urnas apuradas na noite deste domingo e 0,3% de diferença, os resultados apontam que o Equador terá a candidata oposicionista Luisa González, do movimento Revolução Cidadã, e o atual mandatário, o bilionário Daniel Noboa, disputando a presidência no segundo turno, dia 13 de abril. As urnas também decidiram os 151 membros da Assembleia Nacional e os cinco representantes do Parlamento Andino.
Embora os números repitam o duelo presidencial de 2023, a situação do país sul-americano é ainda mais catastrófica do que a do final do governo do banqueiro Guillermo Lasso (2021-2023), que precisou abandonar o poder após uma grave crise institucional. O Equador está atolado num violento banho de sangue e afetado por múltiplos apagões, vendo sua economia desmoronar, numa onda de desemprego, fome e migração. Entre outros atropelos à Constituição, o candidato-presidente vem promovendo uma reforma tentando permitir novamente a instalação de bases militares dos Estados Unidos em território nacional.
Desde setembro passado, os apagões ultrapassam as 12 horas diárias, situação atribuída à seca que reduziu a produção hidroelétrica, sua principal fonte de energia, e à falta de investimento em infraestrutura. Sem luz, a produção industrial também despencou, encolhendo o Produto Interno Bruto (PIB). No quarto trimestre de 2024, o PIB recuou 1,5% na comparação anual, um dos piores resultados desde a pandemia. A taxa de pobreza aumentou de 26% em dezembro de 2023 para 28% no mesmo mês de 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INEC).
“Noboa violou a lei e a Constituição”, afirmou González, esclarecendo que “o líder do Executivo fez campanha com uso e abuso dos bens do Estado sem deixar o cargo, afrontando todas as regras do país”. “Foram mais de cem milhões de dólares usados por Noboa em sua campanha eleitoral”, destacou.
A criminalidade voltou a bater recordes em janeiro, “o mês mais violento da história”, denunciou Luisa, com 731 homicídios, uma média de 23,5 por dia, quase um por hora. “Não se pode falar em controlar a violência sem pensar na justiça social, na construção de um Equador de paz, não de guerra”, enfatizou.
Entre os vários exemplos do caos instalado na questão da segurança pública está o noticiado pela imprensa local: uma menina de oito meses foi encontrada a cerca de 500 metros do corpo de sua mãe, de 29 anos, morta com vários tiros na cabeça. O caso viralizou nas redes sociais, após a pequena criança ser transferida por uma unidade policial especial.
Com Noboa, lembrou Juan Paz y Miño Cepeda, doutor em História pela PUC do Equador, “o surto de delinquência e de crime organizado reforçou o clima de medo e de insegurança”. “O problema se agravou, apesar de Noboa ter decretado a existência de um ‘conflito armado interno’ para fazer frente às organizações criminosas e ao terrorismo, atribuindo à polícia e às forças armadas um papel repressivo e de controle, denunciado até por organizações de defesa dos direitos humanos”, condenou. Para o professor, “a economia em crise, o colapso do emprego e a vida em perigo têm produzido uma migração constante e um sentimento crescente de abandono de um país onde a democracia foi bombardeada”.
Na avaliação de Marcela Arellano Villa, dirigente da Confederação das Organizações Sindicais Livres do Equador (Ceosl), apoiadora do Movimento Pachacutik, do candidato presidencial Leonidas Iza, o momento é de enterrar o parasitismo neoliberal. Líder da Confederação Nacional das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Leonidas Iza chegou em terceiro lugar, e é um importante aliado à esquerda.
“O desastre provocado pela direita representada pelo banqueiro Lasso, pelo bananeiro Noboa e a situação mundial obrigam as organizações sociais e políticas antineoliberais a se posicionarem contra o atual presidente. Espero que tenhamos a capacidade de colocar os interesses coletivos como prioridade e formar uma frente ampla para derrotar Noboa”, sublinhou.
Às 22h30 equatoriana (meia-noite e meia do Brasil), Luisa González fez um pronunciamento desmontando a farsa montada por Noboa e sua mídia de que “venceria no primeiro turno com mais de 50%”. “Fizeram de tudo tentando desmobilizar a fiscalização da nossa militância, mas pouco a pouco fomos avançando e fomos além, rompemos a votação dos últimos dez anos. Por isso agradeço ao nosso povo e à nossa Pátria. Daniel Noboa representa o medo e nós a esperança. Estamos contrapondo a mentira com a verdade, a violência com a paz, o estado de guerra com a justiça social. A Pátria é maior do que o ódio, a delinquência e o abandono. Por isso convocamos a unidade de todos para construir um futuro de paz, desenvolvimento e dignidade”, concluiu a líder oposicionista.
Fonte: Papiro