Rogério Djalma, novo secretário municipal de Saúde do PCdoB Betim

A recém-eleita direção municipal do PCdoB Betim (MG) instituiu, na última terça-feira (30) a primeira Secretaria Municipal de Saúde na história do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). O sindicalista Rogério Djalma, coordenador do Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região, foi eleito secretário para conduzir os trabalhos dessa frente estratégica de luta.

Djalma tem larga experiência na área. É conselheiro municipal de Saúde há décadas e preside a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cist) do Conselho Municipal de Saúde de Betim. À frente do Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos, conduziu inúmeras conquistas para as trabalhadoras e trabalhadores.

Recentemente, o Sindicato promoveu o 1º Encontro de Cipeiros de Betim e Região com o intuito de reforçar a prevenção de acidentes e doenças, suas atribuições dentro da empresa, desafios e medidas preventivas voltadas à saúde e segurança dos colegas. Com o Encontro, a entidade garantiu a formação e capacitação permanente, além de reforçar a atuação dos cipeiros como agentes fundamentais para a construção de um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.

O Departamento de Saúde atua, também, na prevenção, acompanha as eleições de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) e promove atividades para alertar os operários sobre riscos à saúde. “Por isso, temos um departamento responsável pelo atendimento de trabalhadores e trabalhadoras que sofreram acidentes de trabalho ou foram acometidos por doenças relacionadas ao trabalho”, diz Rogério Djalma.

A saúde e os comunistas de Betim

 A história de organização dos comunistas em Betim é fruto da relação direta da classe operária e a frente de luta da saúde. Estamos falando do século passado após a instalação da Refinaria Gabriel Passos da Petrobras e, principalmente, a partir da inauguração da fábrica da Fiat Automóveis, que consolida a transição de cidade de base agrária para uma cidade de base industrial.

Essa recente classe proletária que inicia sua formação tem uma histórica conquista em 1976 ao obter a carta sindical e fundar o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Material Elétrico de Betim.

Já dentro das fabricas, os comunistas organizam-se e suas influências sobre os trabalhadores começam a crescer. Em 1978, estoura uma greve e é a primeira vez que a Fiat, FMB e Krupp veem suas máquinas pararem. A pauta de reivindicações era em torno do reajuste salarial e por melhores condições de trabalho, pois, principalmente na Fiat, a velocidade das linhas de produção já dava os primeiros sinais de adoecimento nos operários.

Por iniciativa dos militantes do PCdoB, foram iniciados os ciclos sindicais objetivando o debate em torno de problemas vivenciados nas fábricas, em destaque os relacionados diretamente com a saúde dos trabalhadores. Àquela altura, o proletariado de Betim, além dos comunistas, sofria influência de lideranças da Pastoral Católica, Ação Católica Operária e o MR-8.

Em 1978 estoura outra greve, com o slogan “Abaixo o acordo do pelego! Todos à greve!”. Os operários paralisam os trabalhos após a celebração de um acordo firmado pela direção do sindicato à revelia da categoria. Nessa paralisação, os comunistas são protagonistas e aumentam a sua influência perante a base.

Na eleição da direção do sindicato de 1981, o PCdoB e a Pastoral Operária de Betim organizam a chapa 1, que se sagrou vitoriosa frente à chapa organizada pelo MR-8. Em 1984, mais uma greve. Essa contou com a participação de artistas mineiros como Rubinho do Vale, Titane, Tânia Mara e Tadeu Franco.

Neste momento histórico, os comunistas já gozavam da confiança dos operários e iniciaram a construção de uma chapa para a disputa da direção do sindicato nas eleições de 1987. Encabeçada pelo camarada Edmundo Vieira, a Garra Metalúrgica venceu a disputa contra outras duas chapas, uma delas organizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

A bandeira da defesa da saúde dos operários era empunhada sem vacilar, compôs as propostas da chapa, e na posse da nova diretoria em 1987, Edmundo Vieira anuncia a criação do Departamento de Saúde do sindicato, com a contratação de um médico do trabalho e uma engenheira de segurança, além do lançamento do jornal “Saúde é Vida” – ações que inauguraram uma nova fase nessa frente.

Dr. Geraldo Pimenta, médico do trabalho, ex-vereador de Betim e ex-deputado estadual pelo PCdoB, recorda das ações de saúde que permitiram a ampliação e organização dos operários nas fabricas de Betim e do próprio sindicato, a partir da atuação do Departamento de Saúde.

“Em 1990, o metalúrgico Donizete faleceu com leucopenia, câncer que afeta a medula óssea, sendo causado por intoxicação com solventes, óleos minerais, solda elétrica e radiações. Elementos presentes no ambiente fabril da época. Essa perda comoveu a categoria e desencadeou ações de luta que visavam melhores condições de trabalho e o pagamento de adicional de insalubridade, até que as condições de dentro das fabricas fossem adequados”.

O médico do trabalho se recorda da “caravana com operários, organizada pelo Departamento de Saúde do sindicato, que saiu de Betim rumo a Brasília para denunciar ao ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, as mutilações que ocorriam no interior das fabricas em Betim. Após essa ação, diversas empresas modernizaram as suas máquinas para adequar a uma realidade sem mutilações”.

Dr. Pimenta lembra com muita honra o momento em que foi “escolhido pela direção do sindicato para representá-los como candidato a vereador nas eleições municipais de 1996. Essa escolha se deu pelo trabalho que o partido, principalmente no sindicato, desenvolveu na frente de luta da saúde junto aos operários e seus familiares. Fui o primeiro comunista de Betim eleito vereador (2000), reeleito (2004) e eleito para um mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tomando posse em 2015”.

Outra característica marcante da relação histórica dos comunistas com a frente da saúde se deu nas mobilizações populares na periferia de Betim. Lutas por melhores condições de vida, como água encanada e tratada, esgoto, habitação, energia elétrica, calçamento e asfaltamento de ruas e becos, alimentação adequada e serviços públicos de saúde. Aqui destaca-se, entre outros, o saudoso camarada Artur Januário, comunista e líder comunitário do bairro Jardim Teresópolis, fruto de ocupação, uma das maiores periferias de Minas Gerais, localizada em frente à Petrobras e à Fiat.

Os comunistas destacam-se na atuação do controle social do SUS betinense. Somando-se à militância do camarada Rogério Djalma estão outros camaradas defensores do SUS que compuseram e compõe o Conselho Municipal, os Regionais e Locais de Saúde. Aqui destaca-se a atuação do saudoso camarada Wiliam Sorriso, na ampliação da rede do controle social, e do camarada Augusto Viana, que presidiu o Conselho de 2018 a 2021. Gestão caracterizada pela ampliação da participação e modernização da legislação municipal do conselho.

Na gestão do SUS, os comunistas de Betim também se destacaram. Diversos comunistas já cumpriram a função de gerentes de Unidades Básicas de Saúde desde a década de 1990 até os dias atuais, destacando Marilene Pimenta pelo seu pioneirismo. A Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação foi ocupada por Claudio Koller, na gestão do prefeito Jesus Lima (PT), em 1996, e a Diretoria do Hospital Público Regional de Betim, com a camarada Patrícia Evangelista, nas gestões dos prefeitos Vittorio Medioli (sem partido), em 2017, e Heron Guimarães (UB), em 2025.

No governo da prefeita Maria do Carmo (PT), em 2009, a camarada Regina Greggio, Maria do Rosário Rivelli e o camarada Dr. Márcio Melo Franco foram secretárias e secretário mnicipais adjuntos de Saúde. Nos dois mandatos do prefeito Vittorio Medioli, iniciado em 2017, o camarada Augusto Viana desempenhou a tarefa de secretário municipal adjunto de Gestão da Saúde e de Secretário Municipal de Saúde. A camarada Patrícia Evangelista também assumiu a Secretaria Municipal de Saúde no segundo mandato do Vittorio.

Augusto Viana recorda que o maior desafio que os comunistas tiveram na gestão do SUS em Betim foi durante o enfrentamento à pandemia de Covid-19. “Betim foi exemplo nacional e obteve reconhecimento internacional. As ações de enfrentamento ao vírus foram pautadas pela ciência, através de pesquisas cientificas, ampliação da rede assistencial, envolvimento da sociedade, constituição de uma força tarefa e uma governança pautada no planejamento em evidência científica”.

O ex-Secretário Municipal de Saúde aponta que os resultados das ações de enfrentamento desenvolvidas no município no período pandêmico refletiram diretamente no menor índice de óbitos por 100 mil habitantes nas cinco maiores cidades de Minas Gerais à época.

“Betim registra as menores taxas de óbitos por 100 mil habitantes no período de 2020 a 2024, comparadas à Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem e Juiz de Fora. Quando é realizado o recorte para o período onde prevaleceram as ações de enfrentamento, ou seja, sem a vacina, de março de 2020 a 17 de janeiro de 2021, a taxa de óbitos em Betim é significativamente menor comparadas às outras quatro cidades. Em Betim a incidência de óbitos por 100 mil habitantes foi de 93,72, em Contagem foi de 101,79, em Belo Horizonte de 105,81, Uberlândia de 108,10, e Juiz de Fora foi de 119,65 óbitos a cada 100 mil habitantes”, revela Augusto Viana.

Evidencia-se que a história de luta pela saúde foi determinante para a organização, fortalecimento e ampliação do PCdoB e ao mesmo tempo, os comunistas retribuíram para o fortalecimento e ampliação da saúde pública e do SUS em Betim.

O presidente municipal do PCdoB Betim, Flávio Rodrigues “Saddam”, identifica que essa atitude vanguardista de constituir a Secretaria Municipal de Saúde “é um encontro dos comunistas com a sua história e com a história da saúde em Betim. Essa frente de luta já nos rendeu muitas conquistas e laços profundos com o povo. Esperamos que essa nova secretaria permita um salto na nossa atuação, constituindo comissões de saúde nas fábricas, nos sindicatos e nos movimentos sociais, organizando e fortalecendo o PCdoB e servindo de inspiração para o conjunto das direções do nosso Partido”.

* Augusto Viana da Rocha é membro da direção do PCdoB Betim e do PCdoB-MG, da Comissão Nacional de Saúde do PCdoB e do Coletivo da Saúde do Ministério da Saúde