Imagem revive Malunguinho, tema da Viradouro. Foto: reprodução/ redes sociais/Viradouro

Ecoando a riqueza cultural brasileira e a influência africana, as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo não fugiram, no carnaval de 2025, dos temas que tradicionalmente abordam. E nesse universo de magias e pluralidade, algumas escolheram homenagear figuras marcantes do país, embora algumas delas não sejam conhecidas do grande público. 

Entre os homenageados estão nomes consagrados da música, como Milton Nascimento, Cazuza e Benito di Paula, além de figuras emblemáticas do imaginário popular, como o líder quilombola João Batista e Xica Manincongo, considerada a primeira travesti brasileira. 

Pela primeira vez,  o desfile do Rio de Janeiro será dividido em três dias — 2,3 e 4 de março —, com quatro agremiações se apresentando em cada um. 

Campeã do carnaval do ano passado, a Unidos do Viradouro, de Niterói, será a terceira a desfilar no primeiro dia e terá como tema “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”. 

O samba-enredo conta a história de João Batista, o Malunguinho, do quilombo Catucá, em Pernambuco, perseguido por sua luta pela liberdade e pelos direitos de seu povo no século 19. 

Segundo conta a escola, em suas fugas por entre as matas, João Batista aprendeu com os indígenas os segredos das ervas e acabou se tornando o “Mensageiro de Três Mundos: Mata, Jurema e Encruzilhada”, tornando-se uma entidade afro-indígena.

Um dos maiores artistas brasileiros, Milton Nascimento será o tema de uma das escolas mais tradicionais do país, a Portela, que fechará os desfiles no último dia. Um dos trechos do samba-enredo resgata, com poesia, a trajetória de Milton: 


Dorme a maldade após o temporal
Na bandeira a liberdade, vem Bituca triunfal
Cheguei com meu povo, mesmo sentimento
Onde Candeia é chama
Brilha Milton Nascimento

Segunda escola do último dia, a Paraíso do Tuiuti, de São Cristóvão, terá como samba-enredo “Quem tem medo de Xica Manincongo”. 

Xica foi trazida à força, como escravizada, do Congo para Salvador, no século 16. 

Por sua sexualidade e sua personalidade ousada e diversa dos costumes impostos na época pela Igreja Católica, chegou a ser considerada feiticeira, foi condenada à morte pelo Tribunal do Santo Ofício e queimada viva em praça pública. 

Um trecho da música mostra bem os preconceitos que Xica enfrentou: 

Só não venha me julgar Ô Ô
Pela boca que eu beijo
Pela cor da minha blusa
E a fé que eu professar
Não venha me julgar
Eu conheço o meu desejo
Este dedo que acusa
Não vai me fazer parar

Outro nome fundamental da música brasileira e que também subverteu os valores conservadores em épocas mais recentes é Cazuza, escolhido pela Camisa Verde e Branco, de São Paulo. 

Compositor e cantor que se notabilizou por uma poesia cortante e músicas que marcaram especialmente os anos 1980 e 1990, mas que até hoje embalam os brasileiros, Cazuza faleceu em julho de 1990, vítima do HIV. 

Um trecho do samba resgata partes de músicas que marcaram a história da música brasileira:

Exagerado eu sempre fui
Apaixonado, contestador
Não me furtei em ser debochado
O amor inventado, feito um beija flor…
Eu sei só as mães são felizes
São cicatrizes e solidão

Oh meu brasil o tempo não para, não para não
A Barra Funda mostra sua cara
Relembrando o seu apogeu
Declama em lindos versos
O poeta não morreu!

Na capital paulista, as agremiações do grupo especial desfilam nos dias 28 de fevereiro e 1º de março e a Camisa Verde e Branco será a sétima do primeiro dia. 

Outra escola que resolveu homenagear um músico brasileiro foi a Águia de Ouro. Com o tema “Em Retalhos de cetim, a Águia de Ouro do jeito que a vida quer” cantará a vida e a obra do sambista Benito di Paula, um dos principais nomes da MPB. 

O samba-enredo também costura trechos de seus sucessos: 

É meu amigo Charlie
Se você quiser eu posso até mostrar
A força do canto da Vila Pompeia
Brilhando de novo no carnaval
Ao som dos aplausos meu amigo Charlie Brown

A escola da Zona Oeste paulistana será a primeira a entrar na avenida no dia 1º de março.