EUA e Israel bancam terroristas contra governo independente da Síria
Os patrocinadores do genocídio em Gaza – Israel e EUA – estão por trás da blitzkrieg terrorista que, em uma semana, surpreendendo o exército sírio, chegou à cidade de Hama, depois de tomar Aleppo, e está prestes a travar uma batalha por Homs, que poderia abrir caminho até Damasco. A escalada já provocou o deslocamento de quase 300 mil pessoas de seus lares.
A investida da Hayat Tahrir-al-Sham (HTS), metamorfose da ex-Frente Al Nusra e ex-Al Qaeda na Síria, não passa de uma “conspiração americano-sionista”, assinalou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, denunciando a coordenação pelos EUA e Israel. A HTS é considerada terrorista pelo Conselho de Segurança da ONU, assim como as antecessoras, Al Nusra e Al Qaeda.
Na blitzkrieg, participam, também, outros agrupamentos, como o autodenominado ‘Exército Nacional Sírio’. Eles partiram de Idlib, província a noroeste na fronteira com a Turquia, onde estavam confinados, desde 2020, por acordo de desescalada na guerra da Síria mediado pela Rússia, Turquia e Irã.
A agressão em curso na Síria é “patrocinada pelos EUA e por Israel”, concordou o líder do Hezbollah libanês, Naim Qassem, acrescentando que Washington quer “criar o caos na Síria”.
É de se notar que a blitzkrieg terrorista teve início no mesmo dia em que Israel aceitou o cessar-fogo com o Líbano e, conforme os próprios terroristas, os bombardeios de Israel contra a Síria ao longo do último mês tiveram um papel chave em minar as posições do governo sírio e de seu exército.
Em Doha, onde se reuniu com os congêneres do Irã e da Turquia, o chanceler russo Sergei Lavrov afirmou que a principal tarefa agora em relação à Síria é deter os confrontos.
“A situação se agravou acentuadamente nos últimos dias devido à ofensiva agressiva claramente premeditada contra as forças do governo por Hayat Tahrir al-Sham (ex-Frente Al-Nusra), uma organização designada pelo Conselho de Segurança da ONU como um grupo terrorista, ao qual se juntaram várias facções menores”, disse Lavrov
“Estamos absolutamente convencidos da inadmissibilidade de usar terroristas como Hayat Tahrir al-Sham para atingir objetivos geopolíticos, como está acontecendo agora com a organização desta ofensiva a partir da zona de desescalada de Idlib”, acrescentou.
Ele disse, ainda, que a Rússia, juntamente com o Irã e a Turquia, tomarão medidas para garantir que os apelos à desescalada na Síria sejam ouvidos.
O que não falta são evidências da cumplicidade entre os terroristas salafistas e o regime genocida israelense, desde que veio à tona que Israel lhes forneceu fundos, armas, munições e até tratamento médico.
O ex-coronel do exército israelense Mordechai Kedar admitiu abertamente o apoio dos “rebeldes” para “remover o triângulo do Hezbollah, Irã e Assad”. Os “rebeldes”, disse ele, até manifestaram seu desejo de “abrir embaixadas israelenses em Damasco e Beirute”.
Na sexta-feira, os governos do Iraque e do Irã manifestaram seu apoio ao governo Assad, e chamaram a deter os terroristas. Israel concentrou tropas no Golã ocupado, para dar apoio ao avanço dos terroristas e ameaçar diretamente de invasão.
De acordo com a agência de notícias russa RIA Novosti, citando fontes dos serviços especiais sírios, “conselheiros” neonazis ucranianos “desempenharam um papel fundamental na captura de Aleppo – fornecendo drones e sistemas americanos de navegação por satélite e guerra eletrônica, e ensinando colaboradores sírios e agentes do Partido Islâmico do Turquestão como usá-los”.
Ainda segundo o respeitado comentarista internacional Pepe Escobar, “as comunicações do Exército Árabe Sírio (SAA) foram completamente bloqueadas por esses sistemas de guerra eletrônica: “Os grupos de assalto e drones foram equipados com dispositivos GPS criptografados e uso extensivo de IA, de modo que o uso e a navegação de UAVs de ataque e drones kamikaze ocorreram a longa distância”.
Também o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Política Externa do Irã, Ebrahim Rezaei, acusou o governo ucraniano de fornecer drones a terroristas na Síria, dizendo que Kiev deve ser responsabilizada por suas ações, informou a agência de notícias ICANA neste sábado.
Os acordos de Astana visaram congelar o conflito, separar as forças e abrir espaço para uma pacificação, com o recuo negociado das forças jihadistas para Idlib, sob monitoramento turco. Na época, a Turquia alegava que uma operação militar para invadir Idlib produziria uma nova leva de refugiados sírios, o que não poderia aceitar.
Para analistas, a operação visa aproveitar o fato de que tanto a Rússia quanto o Irã estão sobrecarregados respectivamente pela crise na Ucrânia e ameaça de guerra com Israel, enquanto outro componente chave da derrota dos terroristas nos anos precedentes, o Hezbollah, encontra-se enfraquecido após a invasão do Líbano, não podendo, segundo esse raciocínio, prestar o mesmo patamar de ajuda que, desde 2015, virou o jogo na Síria.
Em meio à blitzkrieg terrorista, a mídia ocidental fantasia que degoladores de cabeças, torturadores em massa e fundamentalistas empedernidos viraram, como ironizou o ex-embaixador britânico, Craig Murray, “rebeldes fofinhos”.
A CNN dedicou à questão quase uma obra-prima da dissimulação, escrevendo sobre o capo do HTS, ex-emir da Al Nusra e a quem Washington diz ter um prêmio de US$ 10.000.000 sobre sua cabeça, Abu Mohammad Al-Jolani: “Como líder rebelde da Síria passou de jihadista radical a ‘revolucionário de blazer’”.
O relato da CNN se refere ao “início [em 2016] da transformação gradual de Jolani do clássico jihadista antiocidental para um revolucionário mais palatável”. Ele disse à PBS em 2021 que “não tinha desejo de travar guerra contra nações ocidentais”.
“Nos anos que se seguiram, Jolani substituiu seu traje camuflado jihadista por um blazer e uma camisa de estilo ocidental, estabeleceu um governo semi-tecnocrático em Idlib, sobre o qual seu grupo detinha o controle, e se promoveu como um parceiro viável em esforços regionais e ocidentais para conter a influência do Irã no Oriente Médio”, também segundo a CNN.
“De fala mansa e barba bem cuidada, Jolani, de 42 anos, sentou-se com a CNN pela primeira vez esta semana usando uniforme militar verde. Ele exalou confiança e tentou apresentar uma visão de mundo moderada durante a entrevista, evitando referências à jihad e apresentando repetidamente sua luta como uma “revolução” para libertar a Síria da opressão de Assad.”
A CNN, apesar de por de lado sua longa ficha de crimes atrozes na chefia da Al Nusra, admite na matéria, citando grupos de direitos humanos, que Al Jolani prendeu e eliminou “rivais”, conduziu “duras repressões” e “torturou e abusou de dissidentes”.
Por outro ângulo, o Times of Israel, deleitou-se em apresentar a seus leitores um comandante militar do assim chamado Exército Livre da Síria, que só desejava na vida depor Assad e sonhava com a paz total com Israel [isso em meio ao genocídio de palestinos em Gaza].
Perguntado se teve contato com ‘autoridades israelenses’, ele comentou: “Direi apenas que somos gratos a Israel por seus ataques contra o Hezbollah e a infraestrutura iraniana na Síria e esperamos que Israel plante uma rosa no jardim sírio após a queda de Assad e apoie o povo sírio em benefício da região”.
Como lembrou o ex-embaixador Murray, há quase uma década houve um testemunho aberto no Congresso nos EUA de que, até aquele momento, mais de meio bilhão de dólares haviam sido gastos em assistência às forças rebeldes sírias, e os israelenses têm fornecido abertamente serviços médicos e outros aos jihadistas e apoio aéreo eficaz.
O ex-embaixador fez questão de advertir que a vitória do fundamentalismo salafista implicará na destruição do pluralismo na Síria e sua substituição pelo supremacismo. “Quando toda a mídia corporativa e estatal no Ocidente divulga uma narrativa unificada de que os sírios estão muito felizes por serem libertados pelo HTS da tirania do regime de Assad – e não diz nada sobre a tortura e execução de xiitas e a destruição de decorações e ícones de Natal – deveria ser óbvio para todos de onde isso está indo”.
“Ao contrário de muitos leitores, nunca fui fã do regime de Assad ou cego para suas violações dos direitos humanos. Mas o que inegavelmente fez foi manter um estado pluralista onde as mais incríveis tradições históricas, religiosas e comunitárias – incluindo sunitas (e muitos sunitas apoiam Assad), xiitas, alauitas, descendentes dos primeiros cristãos e falantes de aramaico, a língua de Jesus – foram todos capazes de coexistir”. O mesmo – acrescenta – vale para o Líbano.
“O que estamos testemunhando é a destruição disso e a imposição de uma regra ao estilo saudita. Todas as pequenas coisas culturais que indicam pluralismo – de árvores de Natal a aulas de idiomas, vinificação e mulheres sem véu – acabaram de ser destruídas em Aleppo e podem ser destruídas de Damasco a Beirute”, concluiu o ex-embaixador.
Fonte: Papiro