Economista Luiz Gonzaga Belluzzo critica precarização do trabalho em Assembleia da CTB
Na Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, realizada de forma remota na quinta-feira (5), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo destacou a importância da mobilização popular para enfrentar os desafios sociais e econômicos do Brasil. O encontro, promovido pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), discutiu pautas como a redução da jornada de trabalho, a justiça fiscal e o combate à precarização do trabalho.
Movimento pelo fim da escala 6 por 1
Belluzzo iniciou seu discurso exaltando a mobilização dos trabalhadores e a atuação da CTB na defesa de pautas essenciais para a redistribuição de renda e melhoria das condições de trabalho. Ele destacou a proposta do fim da escala de trabalho 6 por 1, permitindo duas folgas semanais, como uma bandeira crucial. “A maioria dos países europeus já reduziu suas jornadas de trabalho em resposta à evolução tecnológica, mas no Brasil, a precarização segue predominando”, afirmou.
Ele mencionou dados que refletem a dimensão do problema: nos Estados Unidos, mais de 40% da força de trabalho é precarizada, e o cenário brasileiro apresenta índices semelhantes. Belluzzo relatou suas conversas com trabalhadores de aplicativos, como motoristas de Uber e entregadores, evidenciando a exaustão enfrentada por esses profissionais e a exploração promovida pelas plataformas digitais.
O economista também criticou o papel das plataformas digitais e o sistema financeiro na extração de valor dos trabalhadores. “A economia das plataformas é um mecanismo de exploração que não oferece uma remuneração condigna aos trabalhadores”, disse.
O economista alertou para a precariedade enfrentada pelos trabalhadores informais, que muitas vezes desconhecem ou negligenciam direitos essenciais, como a contribuição previdenciária.
Belluzzo classificou as recentes reformas da Previdência como políticas que, na prática, desamparam a população idosa. “O gasto com o envelhecimento é considerado um desperdício”, disse, lamentando a forma como a sociedade vem tratando o cuidado com a velhice.
Críticas à financeirização e desigualdade tributária
Ele também destacou a necessidade de uma reforma tributária progressiva. “A proposta de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil precisa ser acompanhada de uma elevação das alíquotas para as faixas de renda mais altas. O atual sistema sobrecarrega as classes médias e trabalhadoras.”
Belluzzo apontou que a concentração de riquezas e a supremacia do capital financeiro criam uma “iniquidade fiscal impressionante”, prejudicando a inclusão social e econômica. Ele defendeu uma revisão ampla nas políticas fiscais para priorizar o fortalecimento da produção e dos trabalhadores, em oposição ao rentismo.
Crítica ao modelo de previdência e à redução da participação popular
O economista também apontou a necessidade de repensar a composição dos gastos sociais e do orçamento público, defendendo uma maior atenção às demandas populares. Ele lembrou sua experiência no governo de José Sarney, logo após o fim da ditadura militar, quando, segundo ele, havia uma maior participação social nas decisões econômicas estratégicas.
“O Conselho Monetário Nacional, que hoje está reduzido a três pessoas, tinha representantes dos trabalhadores, dos empresários e de uma parte da sociedade civil. Eram cerca de 20 a 25 membros. Hoje, quem decide se a taxa de juros sobe ou não são três pessoas. Foi um encolhimento da participação popular impressionante”, afirmou.
Relembrando sua trajetória durante a redemocratização brasileira, Belluzzo enfatizou que mudanças estruturais só são possíveis com mobilização popular. “Sem o povo nas ruas, não avançaremos. A luta social é fundamental para corrigir as desigualdades e fortalecer o ideal iluminista de igualdade”, declarou. Ele também alertou para a necessidade de se combater a influência desproporcional do sistema financeiro na vida das pessoas e nas decisões políticas.
Mobilização como chave para o futuro
Encerrando sua fala, Belluzzo elogiou a movimentação liderada pela CTB, apontando-a como um sinal de renovação da luta social no Brasil. “Estamos diante de uma oportunidade de transformar a sociedade e reafirmar o papel dos trabalhadores na construção de um país mais justo.”
O economista vê na articulação sindical e nos movimentos sociais um caminho para enfrentar a precarização, a desigualdade e o enfraquecimento da solidariedade social. “O que estamos testemunhando aqui é a possibilidade de inaugurar uma nova fase de luta social. E isso é algo que deve ser celebrado e fortalecido”, concluiu.
Belluzzo parabenizou a CTB pela iniciativa da assembleia e reforçando a necessidade de articulação social para enfrentar os desafios econômicos e políticos. Ele destacou que a defesa dos direitos trabalhistas, especialmente em um contexto de ataques a conquistas históricas, exige engajamento e união.
“Eu celebro e cumprimento a CTB por essa iniciativa. É isso que precisamos: criar movimentos que representem e deem voz aos trabalhadores. É fundamental que façamos isso com coragem e determinação”, concluiu.
(por Cezar Xavier)