Senegal ordena retirada das tropas e bases francesas no país
O presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, afirmou que como potência colonialista a França precisa fechar todas as suas bases militares no país e no conjunto da África. Conforme Faye, que assumiu o governo em março, a manutenção desta ocupação é “incompatível” com a soberania que o Senegal busca conquistar.
“O Senegal é um país independente, é um país soberano, e a soberania não aceita a presença de bases militares externas em um país soberano”, reiterou o líder na quinta-feira (28).
Segundo Faye, isso significa abrir caminhos e andar com as próprias pernas sem interferência, mas valorizando as contribuições. “Hoje, a China é nosso maior parceiro comercial em termos de investimento e comércio. A China tem presença militar no Senegal? Não. Isso significa que nossas relações estão cortadas? Não”, disse ele.
Reiterando sua autonomia, o presidente senegalês disse que a França continua sendo um “parceiro importante em termos de investimento” e garantiu que, sempre que respeitem a legislação do país, cidadãos e empresas francesas são bem-vindos.
Em meio aos preparativos da manifestação que lembra o 80º aniversário de uma carnificina promovida pelo exército francês, o líder senegalês defendeu a rica trajetória de lutas do povo africano pela sua sobrevivência.
Recentemente, vários outros países francófonos na África Ocidental e Central, como Mali, Burkina Faso e Níger, expulsaram as tropas de ocupação francesas de seu território. Somente no Níger, 1.500 soldados de Paris saíram até dezembro de 2023.
Posteriormente, de forma independente, os países africanos recorreram à Rússia, com quem assinaram acordos de segurança.
Fontes do governo francês disseram que o país vinha sendo forçado agora a reduzir a sua presença militar de outros países africanos – de 1.000 soldados para 300 no Chade; de 600 para 100 na Costa do Marfim e de 350 soldados para 100 no Gabão. Autoridades locais afirmam que a luta é pela retirada completa das tropas.
Faye disse ter recebido uma carta do presidente Emannuel Macron admitindo a culpabilidade francesa pela carnificina ocorrida em 1º de dezembro de 1944, no acampamento militar de Thiaroye, vilarejo nos arredores da capital do Senegal, Dacar. “Macron reconhece que foi um massacre, muito claramente, de forma inequívoca, nos termos”, relatou.
Avaliando como “um grande passo” dado pelo líder francês, que também pediu desculpas por não poder comparecer à comemoração do aniversário de 80 anos de Thiaroye, o presidente senegalês ressaltou que “reconhecer que um massacre foi cometido deve, obviamente, ter o efeito de fazer reparações… pensamos que naturalmente é isso que deve acontecer”.
Conforme a historiadora francesa Armelle Mabon, em novembro de 1944, cerca de 1.600 soldados africanos que lutaram pela França foram feitos prisioneiros de guerra pela Alemanha e enviados de volta ao acampamento militar de Thiaroye.
De acordo com a historiadora francesa Armelle Mabon, assim que chegaram a Thiaroye, os soldados protestaram contra atrasos nos salários, com alguns se recusando a retornar aos seus países de origem sem suas contribuições. Entre os manifestantes estavam os tirailleurs, atiradores de elite senegaleses.
Diante da reivindicação, os franceses abriram fogo. Apesar dos dados divulgados pelas forças coloniais apontarem 35 mortos, várias fontes afirmam que foram mais de 300 os executados.
A carnificina está documentada no filme ‘Camp de Thiaroge’, do cineasta e escritor senegalês Sembène Ousmane, produzido conjuntamente com a Argélia. O filme descreve o completo desprezo da potência colonial pelos africanos que lutaram pelo país na Segunda Guerra Mundial. Sem saber o que fazer frente a tantas verdades, a França proibiu sua veiculação por 17 anos até 2005, quando foi finalmente lançado em DVD.
Fonte: Papiro