Estreia do míssil hipersônico Oreshnik russo é resposta à escalada de Biden na Ucrânia
Fomos forçados a usar míssil hipersônico em resposta aos ataques a território russo pelo regime neonazi de Kiev, usando mísseis norte-americanos ATACMS, afirma Putin
A provocação, vazada para o The New York Times, de que “autoridades norte-americanas e europeias” estão discutindo a “entrega de armas nucleares” para o regime neonazi de Kiev, teve como resposta a declaração do presidente russo Vladimir Putin, na cúpula da organização de cooperação dos países ex-soviéticos, CSTO, no Cazaquistão, de que “não permitiremos, usaremos, quero enfatizar, exatamente todos os meios disponíveis à Rússia”.
Na cúpula, Putin também informou aos países membros da CSTO sobre o Oreshnik (Avelã), o míssil hipersônico, que comparou a um “meteorito”, que se desloca a 3 km por segundo, a 4.000 graus centígrados de temperatura, com múltiplos veículos de reentrada com alvo independente (MIRV), que tudo reduz a pó no epicentro do ataque, contra o qual não há defesa, embora sem ser nuclear.
Cuja estréia em grande estilo contra um antigo complexo militar industrial herdado da União Soviética, em Dnipro, causou calafrios nos maníacos de guerra de Washington e da Otan.
Em Astana, Putin revelou, ainda, que a produção do Oreshnik já começou, e esclareceu que a produção de mísseis avançados russos é dez vezes a produção ocidental atualmente, e deverá crescer em torno de 30%.
“Fomos forçados a testá-lo em condições de combate – precisamente fomos forçados, como já disse, em resposta aos ataques de armas ocidentais no território das regiões de Bryansk e Kursk com mísseis ATACMS e Storm Shadow”, destacou o chefe de Estado russo.
A provocação da “entrega de armas nucleares”, que veio a público no dia 21, ecoa a escalada do governo Biden para botar gasolina na fogueira na Ucrânia, quando está a menos de 60 dias de deixar o poder, e inclui a autorização ao regime Zelensky para uso de mísseis dos EUA para ataques profundos dentro da Rússia, uma superpotência nuclear; a liberação da entrega de minas terrestres; e a oficialização, pelo Pentágono, da contratação de ‘empreiteiros’ para operar armas da Otan em território ucraniano.
Além de “rumores” sobre a entrega a Kiev dos mísseis de cruzeiro Tomahawk. E da pressão sobre Kiev para que reduza de 25 anos para 18 anos a idade de convocação para a guerra.
“O que você acha, no nível do bom senso?”, retrucou Putin ao jornalista que lhe fez a pergunta sobre armas nucleares da Otan na Ucrânia, na entrevista coletiva após a cúpula na quinta-feira (28).
“Se o país com o qual estamos essencialmente lutando agora se tornar uma potência nuclear, o que devemos fazer? Nesse caso, tomaremos e usaremos todos, quero enfatizar isso, exatamente todos os meios de derrota disponíveis para a Rússia – tudo. Não permitiremos isso. Vamos observar cada movimento deles”, disse Putin.
A provocação via NYT coincide com o avanço russo ao longo de toda a frente na Ucrânia e colapso perceptível nas hostes ucranianas. O qual, segundo a Reuters, está ocorrendo “na velocidade mais rápida desde o início da guerra”, que está entrando “na sua fase mais perigosa”.
Publicações ocidentais começaram a fazer as contas sobre quantos minutos levaria para um Oreshnik atingir os principais centros da Otan na Europa. Um jornal russo, de Smolensk, calculou que um míssil Avelã disparado desde o enclave mais ocidental russo, Kaliningrado, voando a Mach 10, Varsóvia em 1 minuto e 21 segundos; Berlim, 2 minutos e 35 segundos; Paris, 6 minutos e 52 segundos; e Londres, 6 minutos e 56 segundos.
A propósito, a Rússia não teria desenvolvido esse míssil se os EUA – justo no primeiro mandato de Trump – não tivesse se retirado unilateralmente do Tratado INF de 1987, que proibia EUA e União Soviética, depois Rússia, de terem e usarem mísseis entre 500 e 5000 km, assinado por Reagan e Gorbachev.
Putin citou estimativas de especialistas militares de que, no caso de uma utilização massiva de Oreshnik, isto é, “um grupo num só ataque”, o seu poder “será comparável ao uso de armas nucleares”.
“Embora o Oreshnik, é claro, não seja uma arma de destruição em massa. Em primeiro lugar, porque – e isto foi confirmado pelo teste de 21 de novembro – estas são armas de alta precisão e, em segundo lugar, e isto é o mais importante, não há carga nuclear e, portanto, não há contaminação nuclear após a sua utilização”, disse o líder russo.
A histeria tem se multiplicado nas hostes imperiais nos últimos dias, com figuras recordistas em descrédito em seus próprios países, como francês Macron e o britânico Starmer, divagando sobre o envio de tropas à Ucrânia, e com os dois tendo entregado uma centena e meia de mísseis ao regime neonazi para provocações contra a Rússia.
Anteriormente, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, naquele jeito franco dela, havia considerado a entrega de bombas atômicas ao regime Zelensky como uma “loucura” que levaria o mundo a uma “total catástrofe”.
“Entendemos que isso faz parte de uma campanha de propaganda com componentes políticos”, disse Zakharova, acrescentando, ainda, “e com evidente motor suicida”.
A porta-voz russa lembrou ainda que na conferência de Munique de 2022 Zelensky já havia ameaçado “revisar a renúncia às armas nucleares”, condição formalizada pela Ucrânia ao se tornar um Estado independente no período pós-soviético.
O vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, por sua vez, advertiu que tal passo – a entrega de armas nucleares por Washington ao regime de Kiev – levaria a uma expansão “completamente incontrolável do conflito” e significaria a quebra de todo o sistema na esfera de não proliferação e controle de armas, que ainda está em vigor apesar da política destrutiva dos EUA.
Ele destacou que a paz é inteiramente possível, dentro dos parâmetros já apontados pelo presidente Putin em junho. A saber: retirada completa do Exército ucraniano das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson; reconhecimento das realidades territoriais consagradas na Constituição russa; status neutro, não alinhado e não nuclear da Ucrânia – isto é, nada de Otan; desmilitarização e desnazificação da Ucrânia; garantia dos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos ucranianos de língua russa; e cancelamento de todas as sanções impostas à Rússia.
Por sua vez, o Diretor do Serviço de Inteligência Estrangeiro Russo, Sergei Naryshkin, em uma reunião dos chefes das agências de segurança e serviços de inteligência dos estados membros da CEI, disse que “a iniciativa estratégica no campo de batalha pertence inteiramente ao exército russo” e que no Ocidente, eles agora não pensam na derrota estratégica da Rússia, mas “em como não se perder e preservar o regime russofóbico em Kiev”. Mas – sublinhou – o principal é que “a Rússia rejeita categoricamente qualquer tipo de “congelamento” do conflito ucraniano”.
Dentro da Rússia, está havendo um debate sobre até onde pode ir uma negociação com Trump sobre a guerra na Ucrânia, face às suas declarações de que iria dar fim ao conflito “antes da posse” e vazamentos de comentários de quadros que ele convocou para lidar com a questão, que apontam exatamente no sentido de um congelamento da guerra, um adiamento da anexação da Ucrânia pela Otan, uma “saída coreana” – ao invés de uma saída à vietnamita.
Com auxiliares como Pete Hegseth, Marco Rubio e o agora enviado especial à Ucrânia, Keith Kellogg, tal debate é imprescindível. O general Kellogg agora está favorável a uma “saída coreana” (congelamento), mas anteriormente já foi favorável a decretar uma zona “no fly” sobre a Ucrânia, que teria causado uma guerra direta da Rússia com a Otan.
Ou aliados, como o senador Lindsey Graham, que disse abertamente que “esta guerra é sobre dinheiro. … O país mais rico de toda a Europa em minerais de terras raras é a Ucrânia, no valor de dois a sete trilhões de dólares em minerais. … Portanto, Donald Trump vai fazer um acordo para recuperar nosso dinheiro, para nos enriquecer com minerais de terras raras, um bom negócio para a Ucrânia e para nós.”
No mesmo dia em que Oreshnik saiu de seu silo – como observou o ex-embaixador indiano M. K. Bhadrakumar – a Tass publicou uma entrevista incomum com Andrey Sushentsov, diretor do Valdai Discussion Club, reitor do Instituto de Relações Internacionais (MGIMO) do Ministério das Relações Exteriores da Rússia e membro do Conselho Científico do Conselho de Segurança da Rússia.
Para Sushenkov, “Trump está a considerar acabar com a crise ucraniana, não por simpatia pela Rússia, mas porque reconhece que a Ucrânia não tem qualquer hipótese realista de vencer. O seu objetivo é preservar a Ucrânia como uma ferramenta para os interesses dos EUA, concentrando-se em congelar o conflito em vez de o resolver. Consequentemente, sob Trump, a estratégia de longo prazo de combater a Rússia persistirá. Os EUA continuam a beneficiar da crise ucraniana, independentemente da administração que estiver no poder”.
“Os Estados Unidos recuperaram a sua posição como o principal parceiro comercial da União Europeia pela primeira vez em anos. São os europeus que estão suportando o fardo financeiro do prolongamento da crise ucraniana, enquanto os EUA não têm qualquer interesse em resolvê-la. Em vez disso, é mais benéfico para eles congelar o conflito, mantendo a Ucrânia como uma ferramenta para enfraquecer a Rússia e como um ponto de tensão persistente na Europa para manter a sua abordagem de confronto”.
“Trump fez inúmeras declarações que diferem das políticas da administração de Joe Biden. No entanto, o sistema estatal dos EUA é uma estrutura inercial que resiste a decisões que considera contrárias aos interesses americanos, pelo que nem todas as ideias de Trump se concretizarão”.
“Trump terá uma janela de dois anos antes das eleições parlamentares intercalares, durante as quais terá uma certa liberdade para fazer passar as suas políticas no Senado e na Câmara dos Representantes. Depois disso, as suas decisões poderão enfrentar resistência, tanto a nível interno como dos aliados dos EUA”.
Em tempo: em Astana, um jornalista perguntou a Putin se haveria ataques com o Oreshnikk contra os centros de decisão na Ucrânia. O presidente russo respondeu citando uma piada dos tempos soviéticos sobre a previsão do tempo: “a previsão é: hoje, durante o dia, tudo é possível.”
Fonte: Papiro