Fama de tarado força Matt Gaetz a desistir do ministério da Justiça de Trump
Ex-deputado Gaetz diz que desistiu para “poupar a administração Trump” do desgaste no momento crítico da transição. Já o tarado que é candidato a chefe do Pentágono, Pete Hegseth, jura que está firme no pedaço.
O ex-deputado Matt Gaetz desistiu da nomeação a procurador-geral [ministro da Justiça] dos Estados Unidos por Donald Trump, conforme anunciou em publicação no X nesta quinta-feira (21), após sua aprovação no Senado ir pelo ralo, diante das denúncias de assédio que chegaram a ser investigadas por um comitê da Câmara, que o inviabilizaram.
Trump havia anunciado seu nome há uma semana, no dia 13, apresentando-o como um “advogado profundamente talentoso e tenaz”. Uma reforma no Departamento de Justiça é “desesperadamente necessária”, asseverou.
É a primeira baixa do circo de horrores em que se transformou a formação do ministério de Trump, com pelo menos mais um – além do próprio biliardário laranja – sendo perseguido pela fama de tarado, no caso seu candidato à chefia do Pentágono, Pete Hegseth.
Na véspera, Gaetz, quando a coisa já estava fedendo, havia se reunido com senadores, no esforço de não perder a boquinha. “Está claro que minha confirmação estava injustamente se tornando uma distração para o trabalho crítico da transição Trump/Vance”, postou Gaetz.
“Não há tempo a perder em uma briga desnecessariamente prolongada em Washington, portanto, retirarei meu nome da consideração para servir como procurador-geral. O Departamento de Justiça de Trump deve estar no lugar e pronto no primeiro dia”, acrescentou.
Após o anúncio de Gaetz, Donald Trump o elogiou e disse que o ex-deputado terá “um futuro maravilhoso”.
“Aprecio muito os esforços recentes de Matt Gaetz em buscar aprovação para ser procurador-geral. Ele estava indo muito bem, mas, ao mesmo tempo, não queria ser uma distração para a Administração, pela qual ele tem muito respeito”, disse o republicano em publicação na Truth Social.
“Matt tem um futuro maravilhoso, e estou ansioso para assistir a todas as grandes coisas que ele fará!”, insistiu.
De parte do Comitê de Ética da Câmara, houve certo estímulo à desistência, ameaçando tornar público o relatório da investigação dos malfeitos do quase-chefe do judiciário de Trump, entre os quais “má conduta sexual [contra uma menor] e uso ilícito de drogas”.
Gaetz, nega, nega tudo. Mas, por via das dúvidas, renunciou ao mandato. O placar na Comissão de Ética estava empatado.
Segundo uma fonte citada pela CNN, as reuniões do ex-deputado com senadores nesta semana “pareciam ir bem”, mas, no final, constatou-se um “problema de matemática” em termos de obter apoio suficiente para a confirmação do tóxico personagem.
Apesar da pressão, motivado pelos “méritos” de Gaetz ao encabeçar o movimento que derrubou, na presidência da Câmara no ano passado o republicano Kevin McCarthy, substituído por Mike Johnson, mais alinhado com Trump, o biliardário reeleito chegou a ensaiar uma “nomeação durante o recesso parlamentar”, um atropelo completo do estatuto da gafieira. Acabou recuando.
Agora, vão ter que achar outro anormal para chefiar o Departamento de Justiça.
Por enquanto, apesar do fedor que o acompanha, Pete Hegseth pretende estar incólume para assumir seu posto no Pentágono, no lugar do lobista general de pijama Lloyd Austin.
De acordo com a BBC, há um relatório policial de 22 páginas que detalha o que descreve como “suposto encontro de agressão sexual em 2017 entre uma mulher e Pete Hegseth”, quando este era apresentador da Fox News.
À polícia, a mulher disse que Hegseth pegou seu telefone e bloqueou a porta de um quarto de hotel durante uma conferência republicana na Califórnia. Ele assevera que o encontro foi consensual; nunca foi preso ou acusado.
O advogado de Hegseth, Timothy Parlatore, disse anteriormente à CBS News, que apresentador pagou à mulher para ficar quieta para que ele não corresse o risco de perder o emprego na Fox News.
A polícia ouviu a vítima, um funcionário do hotel, uma enfermeira e uma testemunha que estava no hotel no momento do incidente.
Trump está mantendo a indicação e em um comunicado na quinta-feira chamou Hegseth de “veterano de combate altamente respeitado que servirá honrosamente ao nosso país”.
Ele é aquele cara esquisito, com tatuagens que parecem suásticas mas ele garante que são signos medievais, “Cruz de Jerusalém”, coisa da era dos cruzados. Foi lobista dos irmãos Koch, aqueles bilionários fascistas que patrocinam tudo que não presta nos EUA. Até 2015, ele encabeçava uma ong que propunha a privatização da assistência aos veteranos.
“Este relatório corrobora o que os advogados do Sr. Hegseth disseram o tempo todo: o incidente foi totalmente investigado e nenhuma acusação foi apresentada porque a polícia considerou as alegações falsas”, disse a porta-voz de Trump, Karoline Leavitt.
Ainda segundo a BBC, a polícia foi notificada pela primeira vez sobre a suposta agressão por uma enfermeira do pronto-socorro, que entrou em contato com os agentes da lei depois de tratar uma mulher que alegou ter sido drogada e agredida sexualmente enquanto bebia com colegas em uma reunião política.
O relatório do Departamento de Polícia de Monterey foi obtido pela Mediaite e outros sites de notícias dos EUA. A enfermeira disse à polícia que a mulher “acredita que algo pode ter sido colocado em sua bebida, pois ela não consegue se lembrar da maioria dos eventos da noite”. A mulher no centro da reclamação, que não é identificada no relatório, mais tarde identificou o homem como Hegseth.
A mulher conheceu Hegseth em uma conferência republicana onde ele foi um orador de destaque, de acordo com o relatório. Ela disse que viu Hegseth agindo de forma inadequada com outras mulheres e o confrontou em uma festa em uma suíte de hotel.
Ela então foi para o bar do hotel com Hegseth e um grupo de pessoas, momento em que “as coisas ficaram confusas”, disse ela à polícia. A mulher disse que se lembrava de discutir com Hegseth perto da piscina do hotel. Um funcionário do hotel que abordou o distúrbio confirmou isso à polícia.
A mulher disse à polícia que se lembrava de mais tarde estar com Hegseth em um quarto de hotel desconhecido, onde alegou que ele bloqueou a porta e tomou seu telefone.
Ela disse à polícia que se lembrava de “dizer muito ‘não’”, de acordo com o relatório. Sua próxima lembrança foi Hegseth pairando sobre ela enquanto ela estava deitada em um sofá ou cama, ela disse à polícia.
Hegseth disse à polícia que estava “tonto” na noite do incidente, mas não bêbado, de acordo com o relatório. Ele disse que conheceu a mulher no bar e alegou que ela o levou pelo braço até o quarto do hotel.
A polícia recomendou que o caso fosse encaminhado ao Gabinete do Procurador Distrital do Condado de Monterey para revisão. Hegseth nunca foi preso ou acusado; o acordo de pagamento, como admitiu o advogado Parlatore, evitou que a vítima avançasse com uma ação judicial.
No caso da indicada por Trump para dirigir o Departamento da Educação, a bilionária Linda McMahon, coproprietária de uma agência de promoção de espetáculos de luta livre, além de doadora de sua campanha, ela pessoalmente não é acusada desse tipo de coisa, mas de ter feito vista grossa para o assédio contra garotos de 12 anos, por parte de um locutor de lutas de seus espetáculos.
De acordo com um processo aberto em outubro de 2024, “McMahon e outros executivos da WWE conscientemente permitiram que um locutor do ringue, Mel Phillips, preparasse e abusasse sexualmente de meninos de até 12 anos. Os demandantes, todos sobreviventes desse abuso, afirmam que a liderança da WWE não interveio, apesar de estar ciente das ações de Phillips.” O processo descreve o abuso como “aberto e desenfreado”, facilitado por promessas de acesso a estrelas do wrestling.
O fato de as indicações para três dos mais importantes cargos públicos envolverem esse tipo de questão é sintomático da crise moral e de valores nos EUA. Da degeneração e niilismo que se abate sobre a sociedade norte-americana, depois de três décadas de ditadura sobre o planeta, invasões, apologia da tortura, desindustrialização, hiperfinanceirização e ultraindividualismo.
E, claro, o problema não fica só em um lado da divisa partidária. Aí estão, no establishment democrata, a notória presidência de Bill Clinton; as caronas no Air Lolita do pedófilo que foi suicidado, Jeffrey Epstein; as festas privê e o tráfico sexual de Sean “Diddy” Combs. No lado republicano, Trump é hors concours – e até já foi condenado.
Fonte: Papiro