Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebe o Presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, no Palácio do Planalto. Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Na próxima quinta-feira (5), o presidente Lula viaja para Montevidéu, capital do Uruguai, onde acontece da 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Ele deve permanecer no país vizinho até a sexta (6). Na perspectiva da comitiva brasileira o encontro deve marcar avanços no debate sobre o acordo do grupo com a União Europeia.

O deslocamento marca o retorno do presidente a viagens internacionais após o acidente doméstico sofrido no final de outubro. Desde 10 de novembro o presidente já havia sido liberado pela equipe médica que o acompanha para tomar voos de maior distância.

O comparecimento na Cúpula já estava na agenda de Lula, mas foi selado oficialmente na sexta-feira passada, dia 29, quando recebeu o presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi. O novo mandatário assume somente em março do próximo ano, mas deverá ter presença ativa já nesta edição do encontro do Mercosul como forma dos esforços de transição entre o governo do atual presidente, Lacalle Pou, para o seu.

A última reunião de chefes de Estado do Mercosul aconteceu no mês de julho, em Assunção, Paraguai. Na ocasião, a Bolívia selou a entrada no bloco.

Acordo Mercosul-União Europeia

Lula recebeu o líder uruguaio, representante da coalizão de esquerda Frente Ampla, no Planalto. Orsi destacou que as negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia serão prioritárias na Cúpula do Mercosul, nesta semana.

O acordo é arrastado em debates por mais de 20 anos e é de sumo interesse do governo brasileiro e dos países do grupo sul-americano que seja concretizado. Para a maioria dos países europeus também. No entanto, o avanço dos trâmites finais da negociação tem causado manifestações contrárias em países como a França.

Protestos de agricultores franceses por medidas protetivas geraram atritos como no caso com o Carrefour, em que o seu diretor-presidente,  Alexandre Bompard, teve que se desculpar publicamente por criticar a procedência das carnes brasileiras – situação que levou a uma pequena crise com produtores brasileiros que deixaram de fornecer produtos para os mercados da rede no Brasil até que a retratação ocorresse.

Outra medida infundada foi a votação do parlamento francês contrária às carnes brasileiras, já em pauta contra o acordo Mercosul-União Europeia. Apesar dessa decisão, a votação é apenas simbólica, uma vez que os acordos serão decididos pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento do bloco e não pelos países que pertencem à União Europeia de forma individualizada.

Otimismo

Tanto Lula como Orsi seguem otimistas por um desfecho positivo para o acordo. O interesse é recíproco com a maioria dos países do bloco europeu.

Para o presidente brasileiro, que lidera os esforços pela conclusão do acordo desde os seus primeiros governos, um desfecho positivo marcaria uma vitória sem precedentes para a política externa nacional.

No último mês de novembro o governo brasileiro já marcou um golaço com a aprovação por 82 países pela criação da Ação Global contra a Fome e a Pobreza no âmbito do G20.

Com a Europa o governo aposta numa política de ganha-ganha entres os dois blocos para criar uma das maiores zonas de livre-comércio do mundo.

O acordo prevê a ampliação de mercados para os envolvidos com redução e eliminação de tarifas.

Para o bloco europeu há o interesse, principalmente, em aumentar exportações de produtos industriais, assim como ter acesso a minerais críticos (lítio, grafitem níquel) para suas fábricas.

Para os sul-americanos há o incremento nas exportações de commodities e a possibilidade de atrair investimentos e incrementar o parque fabril com máquinas e equipamentos mais acessíveis, o que pode impulsionar a produtividade e a competitividade.

Especificamente para o Brasil, o governo trabalha com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que indica um crescimento de 0,46% no PIB brasileiro com o acordo entre 2024 e 2040. Além disso, o acordo pode aumentar os investimentos no país em 1,49%, na comparação com o cenário sem a parceria, atribui o Planalto.