O diretor-presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, emitiu nota, nesta terça-feira (26), na qual se retrata pela crise causada após declaração sobre a possibilidade de não mais comercializar carnes provenientes do Brasil e demais países do Mercosul.

No comunicado, encaminhado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o CEO da rede varejista explica que “a decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais”. 

O documento informa, ainda, que “do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos”. 

Também diz saber que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”. 

Em contrapartida, o Ministério da Agricultura e Pecuária comunicou que o Brasil tem “um sistema rigoroso de defesa agropecuária”, que o posiciona como o principal exportador de carne de aves e bovina do mundo. Dessa forma, acrescentou reiterar “os elevados padrões de qualidade, sanidade e sustentabilidade da produção agropecuária brasileira”.

A nota também salienta que a produção brasileira “chega às mesas de consumidores em mais de 160 países do mundo” e que “as boas relações diplomáticas conquistadas pelo governo brasileiro fazem com que, somente nos últimos dois anos, 281 novos mercados se somassem ao extenso portfólio dos produtos agropecuários brasileiros”. 

Boicote

As notas são os mais recentes desdobramentos de uma crise que teve início no dia 20, quando Alexandre Bompard, em carta a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, divulgada nas redes sociais, anunciou que vetaria carne do Mercosul — bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai. 

Ainda segundo a rede, a restrição seria apenas às lojas situadas na França, como forma de, segundo o dirigente do Carrefour, fortalecer os produtores locais. 

No mesmo dia, o Mapa publicou nota em que rechaçou a decisão do Carrefour e reafirmou a qualidade da carne produzida no Brasil. Em seguida, entidades do setor também divulgaram uma nota de repúdio e sugeriram a possibilidade de boicotar totalmente a oferta de carne ao Grupo Carrefour no Brasil.

Na quinta-feira (21), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou: “Nos surpreende a presidência local [do Carrefour], aqui no Brasil, dizer ‘nós vamos continuar comprando porque sabemos que tem boa procedência, quem não quer comprar é a matriz, a França’. Ora, se não serve para os franceses, não vai servir para os brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil. O Brasil tem que ter muita responsabilidade e garantia da qualidade dos nossos produtos. Eu quero crer que eles vão repensar no que estão falando da produção brasileira”. 

Frigoríficos que figuram entre os maiores do Brasil, como JBS — dono da Friboi, que responde por cerca de 80% das carnes vendidas no Carrefour — e a Masterboi chegaram a suspender o fornecimento da proteína à rede varejista. 

O posicionamento assumido pela rede gerou reações do Brasil muito mais pelo efeito negativo que poderia ter para a imagem do país junto a outros compradores do que pelo receio de um impacto econômico pela suspensão da exportação. Isso porque a França compra apenas 0,53% do total de carnes que o Brasil vende à União Europeia que, por sua vez, corresponde a 2,79% do total vendido internacionalmente pelo país, segundo o Mapa. 

Atualmente, o maior destino da carne bovina brasileira é a China, que compra mais de 52%, seguida pelos Estados Unidos, com 6,05% e Hong Kong, 5,20%.