Brasil condena no BRICS “sanções coercitivas unilaterais” dos EUA contra países
Em seu discurso na 16º Cúpula do BRICS, nesta quinta-feira (24), em Kazan, na Rússia, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Mauro Vieira, criticou, em nome do presidente Lula, aqueles que “se dizem defensores dos direitos humanos” e “fecham os olhos para a maior atrocidade da história recente” na Palestina.
“Já foram lançados sobre Gaza mais explosivos do que os que atingiram Dresden, Hamburgo e Londres na Segunda Guerra Mundial”, destacou o embaixador, pontuando que não há justificativa para atos terroristas como os praticados pelo Hamas, mas “a reação desproporcional de Israel tornou-se punição coletiva ao povo palestino”.
O ministro expressou, ainda, o posicionamento do Brasil de que não haverá paz “enquanto não houver um Estado palestino independente”. E enfatizou que a decisão de existência dele foi tomada pela própria Organização das Nações Unidas (ONU) há 75 anos.
Durante o discurso, o ministro brasileiro destacou a necessidade de “máxima cautela” e atenção para evitar a ampliação dos confrontos, para que “não se transforme em uma guerra total”, especialmente após a invasão e os ataques do regime israelense contra o Líbano.
Mauro Vieira reforçou iniciativas dos países do Sul Global em meio ao conflito — como a Iniciativa pela Paz da Liga Árabe, o papel do Catar na mediação das negociações por um cessar-fogo e a ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o que classificou como “genocídio” na Faixa de Gaza. “Enquanto isso, o papel desempenhado por outros países tem sido, no mínimo, decepcionante, para não dizer conivente”.
O representante brasileiro também mencionou que “o BRICS não é um simples acrônimo inventado por um economista”. “Por trás dessas cinco letras, há uma realidade palpável construída em décadas de esforço para [alcançar] um mundo mais justo”, disse ele, reforçando a ideia de que o bloco representa o nascimento de um mundo multipolar em contraposição a um mundo unipolar baseado em pressões, sanções e ameaças.
O chanceler disse ainda que o Brasil se opõe a “sanções coercitivas unilaterais, que violam o direito internacional e causam danos ilegítimos”. “O caso de Cuba é emblemático da irracionalidade dessas medidas, que afetaram o desenvolvimento econômico do país por mais de seis décadas e, nos últimos tempos, contribuíram para piorar a situação energética, alimentar e sanitária do país caribenho”, lamentou.
“Renovamos nossa solidariedade com o povo cubano e fazemos um apelo para que sejam imediatamente flexibilizadas essas medidas e, sobretudo, para que Cuba seja retirada da lista unilateral de Estados que patrocinam o terrorismo, o que, como sabemos, é injusto e injustificado”, afirmou Vieira.
“Somos herdeiros dos que lutaram por uma Nova Ordem Econômica Internacional e dos que conceberam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Somos os vetores dinâmicos do crescimento econômico que o mundo vem experimentando neste século. O Sul Global também é uma força positiva para a paz”, prosseguiu o embaixador.
Sobre o conflito da Otan contra a Rússia, Vieira falou das iniciativas de paz. “Formamos um clube da paz para fomentar o diálogo e buscar uma solução duradoura. Essa solução duradoura só virá com o respeito ao direito internacional, incluindo os propósitos e princípios consagrados na Carta da ONU e o papel central das Nações Unidas no sistema internacional”, prosseguiu. Para Vieira, é preciso evitar o acirramento do conflito entre os dois países. “Essa é a mensagem que o entendimento Brasil-China busca promover”, destacou.
Fonte: Página 8