“Coragem de Sinwar inspira a luta de libertação do povo palestino”, afirma movimento Hamas
O movimento palestino de resistência islâmica Hamas confirmou a morte em combate de seu líder, Yahya Sinwar, em Rafah, no campo de refugiados de Tal al-Sultan, na quarta-feira (16), confrontando as forças coloniais israelenses.
“Nossos corações estão pesados, mas estamos cheios de determinação e determinação”, afirmou o dirigente Khalil Al Hayya, que ressaltou que embora o inimigo sionista tenha disparado 2 projéteis de tanque, bem como um míssil de ombro contra o líder da Resistência, Sinwar “permaneceu desafiador, resistindo até seu último suspiro”.
Asssim, ao invés de decapitar a resistência, como pretendido pelo fascismo aboletado em Tel Aviv, o sacrifício de Sinwar o torna uma lenda da luta pelo direito a ter uma pátria palestina.
“Lamentamos o grande líder nacional, combatente da liberdade e mártir Yahya Sinwar (Abu Ibrahim), o chefe do Birô Político do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e o comandante da Operação Al-Aqsa Flood. Ele se levantou como um bravo mártir, avançando e não recuando, com sua arma na mão, enfrentando o exército de ocupação na linha de frente. Ele se moveu entre posições de combate, firmemente na terra de Gaza, defendendo o solo da Palestina e seus locais sagrados, inspirando resiliência, paciência e espírito de resistência”, disse o comunicado, apresentado por Al Hayya na sexta-feira (18). Sinwar assumira o posto em agosto, após o assassinato, em Teerã, de Ismail Hanyeh, em um atentado.
Na véspera, o comando israelense havia anunciado ter assassinado Sinwar ao acaso, no decorrer de uma operação de bombardeio na maior cidade no sul de Gaza, e que a identidade havia sido confirmada por impressões digitais e DNA. Também divulgou um vídeo captado por um drone.
Crime prontamente comemorado em Washington, sob a declaração de “fez-se a justiça”, enquanto em Tel Aviv se intensificava o clima de embriaguez sanguinolenta e impunidade, sintomático da cada vez mais imparável queda de Israel e seu apartheid à condição de pária no mundo. A ponto do fascismo israelense declarar o secretário-geral da ONU como “persona non grata”.
Al Hayya prestou homenagem a Sinwar, descrevendo-o como um dos homens mais honrados e corajosos que dedicou sua vida à causa palestina e que passou 23 anos em um cárcere israelense. E reiterou que, como nas tentativas fracassadas anteriores de decapitação da liderança palestina, o sangue de mártires só impulsionou mais resistência e alavancou a luta de libertação.
Abordando a questão dos prisioneiros israelenses mantidos pelo Hamas, al-Hayya observou que esses prisioneiros só seriam libertados se a agressão israelense cessasse, a ocupação se retirasse de Gaza e os prisioneiros palestinos fossem libertados.
Como registrou o portal libanês Al Mayadeen, “Sinwar, ao contrário das alegações israelenses de que ele estava escondido em túneis e usando prisioneiros como escudos humanos, estava em uma casa com vários outros combatentes, ele mesmo vestindo traje militares, incluindo um colete, granadas, munição e um rifle de assalto”.
“Ele estava confrontando as forças israelenses no campo de refugiados de Tal al-Sultan, em Rafah, enfrentando-as e jogando granadas contra elas para impedir seu avanço. Quando ele conseguiu, as forças de ocupação israelenses recuaram e dispararam um projétil de tanque contra a casa em que ele estava se abrigando como parte do confronto em andamento”.
“Eles então enviaram um drone para inspecionar a área, e ele pôde ser visto gravemente ferido, coberto de poeira e vestindo o kafiyyeh palestino para esconder sua identidade. Com nada além de um pedaço de pau na mão, sentado em um sofá, ele tentou jogá-lo no drone israelense, que então recuou antes que a casa em que ele estava fosse bombardeada mais uma vez pelo tanque, levando ao seu martírio. Ele morreu como um guerreiro, combatendo até o último suspiro.”
Segundo o Times of Israel, “[Sinwar] não estava sendo alvo direto, e as tropas só perceberam que um dos três mortos no incidente era aparentemente Sinwar quando inspecionaram a cena na manhã de quinta-feira.”
No relato do jornal israelense, Sinwar supostamente estava acompanhado de dois guarda-costas, quando foram avistados pelas tropas de ocupação, alvejados e feridos. Dois entraram num prédio e aquele que acabou sendo Sinwar, em outro. Tanques abriram fogo contra as duas casas. Um pelotão de infantaria avançou para procurar. Sinwar jogou duas granadas, uma das quais explodiu, fazendo os soldados recuarem e mandarem um drone. Ele encontrou um homem com o braço ferido e o rosto coberto – Sinwar – que jogou uma vara de madeira no drone. Outro projétil de tanque foi disparado contra o homem, matando-o.
Enquanto os crápulas e os desavisados comemoraram, pessoas de bem no mundo inteiro homenageiam Sinwar e sua luta.
Um internauta publicou que “os psicopatas genocidas israelenses transmitiram os momentos finais da vida do mártir Al Sinwar, na esperança de minar o moral daqueles que apoiam a resistência. Quem foi o tolo que os aconselhou a fazê-lo?”
“De costas para a câmera, usando um keffiyeh, ele joga um bastão – como um Hanzala moderno. Ferido, sozinho, espancado, mas lutando até o último suspiro. Assim como a Palestina.”
“Essa mesma filmagem transformou al-Sinwar em um novo ícone palestino, enchendo nossos corações com nada além de orgulho e dignidade.”
“Ele teve uma morte honrosa. A morte de um guerreiro, entre seus homens, um com seu povo, em defesa de sua terra contra um intruso, ocupante e colonizador genocida”, escreveu um usuário.
“O último episódio da vida de Sinwar não poderia ter sido melhor escrito pelo dramaturgo mais talentoso: não em um túnel, um bunker secreto ou um palácio distante, e não enquanto se envolvia em algum ato indigno. Ele morreu resistindo”, postou outro.
“[Ele] jogou um pedaço de pau no drone que o filmava – um ato final de desafio… Em sua morte, ele se tornou uma lenda”, comentou um usuário do X em um post que ganhou mais de 27.000 compartilhamentos no momento da publicação.
Há poucos dias, Sinwar havia recontatado os mediadores das negociações pelo cessar-fogo, depois de um prolongado silêncio em razão do esforço de decapitação visível de parte de Tel Aviv contra os líderes da resistência.
Como observou um analista, cada vez que o fascismo israelense assassinou um líder palestino achando que havia “resolvido” o problema da resistência à dominação colonial e ao apartheid, outro vinha substituir, ainda mais determinado.
Em 2011, Sinwar foi um dos mais de mil presos palestinos libertados em troca do soldado sequestrado Gilad Shalit. Ele havia sido condenado a quatro penas de prisão perpétua. No cárcere, aprendeu a falar e ler fluentemente o hebraico e estudou as concepções que moviam o regime de apartheid e colonialismo.
Mas Sinwar será para sempre lembrado pela Operação Inundação AlAqsa, a “ofensiva do Tet” palestina que quebrou a lógica perversa dos Acordos de Abraão de Trump, para normalização de relações entre Israel e os países do Golfo, sem Estado Palestino e, portanto, sem “paz por terra” e com reconhecimento do regime de apartheid.
O que havia sido exposto sem qualquer disfarce em setembro de 2023, por Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU, em que exibiu um mapa em que não havia qualquer vestígio de Palestina, apenas “Israel do rio ao mar”, apagando da história a soberania palestina. “A região está mais silenciosa do que há décadas”, chegou a se gabar o conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sulivan, em um ensaio para a revista Foreign Affairs.
Tal qual nos idos de 1968 a Ofensiva do Tet original decretou a falência da fantasia reacionária de que seria eterno o jugo colonial sobre o Vietnã e seu povo. Como revelado em tantos episódios da luta anticolonial, expressado por Brecht em seu famoso poema: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ mas ninguém diz violentas/ as margens que o comprimem”.
Um ano depois, o genocídio perpetrado por Israel contra os palestinos em Gaza – recém estendido ao Líbano -, pôs por terra o ocultamento da opressão colonial contra a população local, palestina, revelando em toda a extensão o caráter de apartheid do regime supremacista instaurado em 1948.
O mundo inteiro se chocou ao constatar que descendentes das vítimas da maldade do nazismo perpetravam o extermínio de mulheres, crianças e velhos palestinos, levando Tel Aviv a um isolamento global jamais visto anteriormente.
Também jamais foi tão ampla a solidariedade para com os palestinos, com as novas gerações descobrindo essa causa. As manifestações contra o genocídio são as maiores desde os atos contra a invasão do Iraque e lembram os protestos contra a Guerra do Vietnã.
Outro aspecto notável é que a juventude norte-americana tem abraçado a solidariedade aos palestinos, apesar de toda a pressão contrária por parte do establishment, processo no qual jogaram grande peso grupos como Voz Judaica pela Paz e IfNotNow.
Como salientou o chanceler russo Sergey Lavrov em discurso ao Conselho de Segurança da ONU, é imperioso estabelecer um Estado palestino soberano, nas fronteiras de 1967, contíguo e viável e com capital em Jerusalém Oriental.
“A Palestina tornou-se a causa número um de direitos humanos do mundo e está no topo da agenda de esforços para garantir a justiça internacional, com casos em andamento no Tribunal Penal Internacional e na Corte Internacional de Justiça”, registrou David Hearst, do Middle East Eye.
E como resultado de sua guerra, Israel “perdeu o Sul Global e grande parte do Ocidente também.”
Fonte: Papiro