Biden dá 30 dias a Israel para executar “plano Eiland” de extermínio pela fome em Gaza
Em meio a duas semanas sem que um único caminhão de ajuda humanitária fosse autorizado a entrar no norte de Gaza e a ataques sanguinários ao campo de refugiados de Jabalia, tornou-se público no final de semana a existência de um plano israelense de extermínio ou expulsão dos 400 mil palestinos que permanecem na região, que está separada do resto do enclave pelo invasor, conforme registraram meios de comunicação como o Haaretz e o Local Call (israelenses), a Associated Press e Democracy Now (norte-americanos) e a Al Jazeera (árabe), organismos da ONU e organizações humanitárias.
O assim chamado “plano dos generais” ou “plano Eiland” parece ser, no todo ou em parte, confirmado pelas últimas ações do exército agressor. Referida por seus apologistas como a “estratégia de ‘render-se ou morrer de fome”, trata-se, para os palestinos, as vítimas, de um “genocídio dentro do genocídio”.
A carta, assinada pelos chefes do Departamento de Estado e do Pentágono, dando “30 dias” para Israel “melhorar a entrada da ajuda humanitária”, sob risco de que o fornecimento de armas possa vir a ser afetado, também aponta para a confirmação da denúncia.
O prazo de 30 dias se encerra depois das eleições de 5 novembro e, assim, parece mais uma tentativa de aceno aos eleitores árabe-americanos às vésperas de uma eleição extremamente apertada, os chamados “não-compromissados”, do que algum esforço efetivo para pressionar o regime de apartheid.
Ainda mais depois dos US$ 17,9 bilhões em armas fornecidos por Washington e do envio do sistema antimíssil mais sofisticado dos EUA a Israel, inclusive operado por 100 militares norte-americanos, para proteger os genocidas.
Também o Conselho de Segurança da ONU discutiu na terça-feira, a pedido da Argélia, o agravamento da situação em Gaza.
De acordo com o plano pra nazista nenhum botar defeito, os palestinos seriam forçados a sair por corredores de evacuação para o sul de Gaza, a parte norte seria formalmente isolada e qualquer pessoa que permanecesse seria considerada um combatente inimigo e, portanto, um alvo, e todos os suprimentos – água, comida, remédios – seriam bloqueados, em um cerco completo. A formulação é atribuída ao ex-conselheiro de Segurança Nacional israelense, general Eiland.
“Desde 1º de outubro, as autoridades israelenses têm cortado cada vez mais o acesso a suprimentos essenciais no norte de Gaza”, disse Muhannad Hadi, coordenador humanitário para o Território Palestino Ocupado, em um comunicado no domingo. “A pressão sobre as mais de 400 mil pessoas que permanecem no norte de Gaza para abandonarem o território e rumarem para sul está aumentando”, ele sublinhou.
A declaração acrescentou que as operações militares forçaram o fechamento de padarias, postos médicos e abrigos, enquanto “hospitais registraram um afluxo de feridos por trauma”.
“Nas últimas duas semanas, mais de 50 mil pessoas foram deslocadas da área isolada de Jabalia, enquanto outras permanecem presas nas suas casas devido ao aumento dos bombardeamentos e dos combates”, acrescentou.
Na sexta-feira, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas denunciou que nenhum alimento entrou no norte de Gaza desde o início de outubro e a distribuição de cestas básicas foi interrompida. Em setembro, a entrada de caminhões de ajuda humanitária já caíra pela metade.
“Pontos de distribuição de alimentos, bem como cozinhas e padarias no norte de Gaza, foram forçados a fechar devido a ataques aéreos, operações militares terrestres e ordens de evacuação”, disse o órgão da ONU em um comunicado. “A única padaria em funcionamento no norte de Gaza, apoiada pelo PAM, pegou fogo depois de ser atingida por uma munição explosiva.”
Antoine Renard, diretor do PAM para a Palestina, disse que a parte norte do enclave “está basicamente isolada e não podemos operar lá”. “Estamos comprometidos em entregar alimentos que salvam vidas todos os dias, apesar dos desafios crescentes, mas sem acesso seguro e sustentado, é praticamente impossível alcançar as pessoas necessitadas.”
No início desta semana, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que “setembro registrou o menor volume de suprimentos comerciais e humanitários entrando em Gaza desde pelo menos março de 2024”.
Uma coligação de ONG israelenses instou na segunda-feira (14) a comunidade internacional a agir, observando que “há sinais alarmantes de que os militares israelenses estão começando a implementar discretamente” o plano. “Os Estados têm a obrigação de prevenir crimes de fome e transferências forçadas”, assinalaram.
No domingo, a Associated Press informou que Netanyahu está “examinando um plano para selar a ajuda humanitária ao norte de Gaza na tentativa de matar de fome os militantes do Hamas, um plano que, se implementado, poderia prender sem comida ou água centenas de milhares de palestinos que não querem ou não podem deixar suas casas. “
De acordo com a AP, os palestinos do norte de Gaza teriam uma semana para deixar o país antes que a área seja declarada uma “zona militar fechada”. “Aqueles que permanecerem serão considerados combatentes – o que significa que os regulamentos militares permitiriam que as tropas os matassem – e negados comida, água, remédios e combustível”, acrescentou a agência de notícias. Um funcionário com conhecimento do assunto disse que “partes do plano já estão sendo implementadas, sem especificar quais partes”, acrescentou a AP.
Já o Haaretz informou no domingo que o governo de Netanyahu “não está tentando reviver as negociações com reféns e a liderança política está pressionando pela anexação gradual de grandes partes da Faixa de Gaza”.
Segundo a publicação, a recente decisão de lançar operações no norte de Gaza foi tomada sem qualquer discussão aprofundada. “É possível que a operação esteja lançando as bases para uma decisão do governo de colocar em prática o chamado plano de rendição ou fome do major-general (aposentado) Giora Eiland”, observou.
Para a ONG israelense Gisha, os militares adotaram uma política de “saia ou morra de fome”, forçando os palestinos a se refugiarem no sul.
Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados da Palestina (UNRWA), em uma declaração na segunda-feira (14), disse que os civis palestinos “não têm escolha a não ser morrer de fome ou ir embora”. “Em Gaza, muitas linhas vermelhas foram cruzadas”.
A CNN registrou a situação no campo de refugiados de Jabalia, um dos oito campos históricos de Gaza: corpos espalhados por ruas empoeiradas, estradas inteiras destruídas por ataques israelenses, pessoas morrendo de fome. “Você pode ver os sinais de fome nas pessoas no norte de Gaza”, disse à emissora Fares Afana, chefe dos serviços de emergência no norte de Gaza, por telefone “As forças israelenses estão destruindo tudo que representa vida ou sinais de vida.”
Afana denunciou que é tal a degradação em Jabalia sob a incursão israelense que “cães de rua que estão com fome estão comendo os corpos… Isso dificulta a identificação dos corpos”. Ele compartilhou uma foto com a CNN mostrando os restos mortais de uma criança cujo corpo ele disse ter sido comido por cães de rua.
Ele relatou que na segunda-feira as forças israelenses atiraram em moradores famintos que buscavam comida em um centro de ajuda administrado pela UNRWA. “A situação está piorando”, disse ele.
A UNRWA disse que um ataque de artilharia em seu centro de distribuição de alimentos em Jabalia na segunda-feira matou pelo menos 10 pessoas e ferido outras 40.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) estima que 50 mil pessoas foram deslocadas de Jabalia nas últimas duas semanas, enquanto outras permanecem presas em suas casas devido aos fortes combates ao redor. De acordo com a OCHA, cerca de 84% do território está sob “ordem de evacuação” pelos militares israelenses.
Os três hospitais que operam minimamente no norte de Gaza estão enfrentando “terrível escassez” de combustível, suprimentos para traumas, medicamentos e sangue, e enquanto as refeições estão sendo entregues todos os dias, a comida está diminuindo, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
“Quase não há comida para distribuir, e a maioria das padarias será forçada a fechar novamente em apenas alguns dias sem combustível adicional”, disse ele.
“Alertamos desde os primeiros dias do ataque de Israel que seu objetivo era o deslocamento forçado do povo palestino e a anexação do território palestino. O que estamos vendo no norte de Gaza é exatamente isso”, disse o enviado da Palestina na ONU, Riyad Mansour, disse na reunião do CS da ONU. “O chamado Plano do General Israelense está em movimento”, acrescentou.
“O que está acontecendo no norte de Gaza agora é outro nível de monstruosidade”, disse Mansour, concentrando-se no contínuo ataque implacável de Israel ao norte da Faixa de Gaza.
“Silêncio e inação não são uma opção. Você está pronto para proclamar que, embora os palestinos se recusem a se render mesmo quando confrontados com a pena capital coletiva, este conselho decidiu se render?”
“Sabemos que muitos membros ao redor desta mesa se recusam a fazê-lo, e pedimos a eles hoje que lutem, com as ferramentas fornecidas pela carta [da ONU] e pela lei, para combater aqueles que estão obliterando a carta e a lei. Esta é a responsabilidade do conselho e de todos os estados do mundo”.
“Os massacres têm que parar; cessar-fogo agora”, finalizou.
Fonte: Papiro