Agressões políticas em SP são cinco vezes mais em relação a 2020
São Paulo, a maior e mais rica cidade do Brasil, tem sido o principal foco da atenção nacional nos últimos meses quando o assunto é a disputa municipal. Infelizmente, isso não se deu apenas pelo seu peso nos rumos do país, mas, sobretudo, pela truculência de alguns candidatos, que vem marcando a corrida à prefeitura.
A exacerbação dos ânimos foi escalando até atingir seu pico, quando houve o episódio mais emblemático: a cadeirada dada pelo candidato José Luiz Datena (PSDB) no adversário Pablo Marçal (PRTB). O ex-coach, personagem candidato da extrema-direita, tem sido o principal vetor da violência neste pleito paulistano, ao nutrir e fazer crescer o clima de beligerância, investindo no mais baixo nível de provocação de que se tem notícia nas eleições municipais mais recentes.
Mas, situações dessa natureza vão muito além do que tem sido visto na capital, se espalhando por todo o estado. Segundo o Observatório da Violência Política e Eleitoral, da Unirio, foram registradas, até o momento, 29 agressões a lideranças políticas em SP, neste ano, ou seja, quase cinco vezes mais ocorrências do que em todo o período eleitoral de 2020, quando houve seis casos.
No que diz respeito aos assassinatos, por outro lado, os números deste ano são menores, cinco, ante nove há quatro anos. As ameaças têm números próximos: 22 agora, contra 24 em 2020.
No entanto, na soma geral — incluindo ameaças a candidatos e familiares, agressões, atentados e homicídios — o Observatório levantou 74 ocorrências até o momento, contra 71 há quatro anos.
Ao UOL, o professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, declarou que “o que vemos na eleição em São Paulo este ano é outro nível”. Ele salientou que a violência, física e verbal, atingiu um patamar “jamais visto”.
Quadro nacional
Apesar de ser o mais proeminente, respondendo por 16% de todo o país, a situação do estado de São Paulo compõe um quadro geral de aumento da violência na política brasileira nestas eleições.
O próprio Observatório mostrou que em todo o Brasil, somente entre janeiro e 2 de outubro, foram verificados ao menos 311 casos de violência envolvendo somente pré-candidatos, candidatos ou seus familiares.
E esse número foi piorando mês a mês, conforme o calendário eleitoral foi se impondo: eram dois em janeiro; em maio, já eram 19; em julho, 31. E os meses de agosto e setembro registraram dois grandes saltos, com respectivamente 83 e 149 casos.
Tamanho recrudescimento vem se refletindo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesta semana, a presidenta do TSE, ministra Cármen Lúcia, anunciou a criação de um observatório permanente para combater a violência política. Segundo ela, os partidos políticos devem ser responsabilizados, de alguma forma, em casos de violência nas disputas políticas.
“Neste observatório, haverá um núcleo que vai fazer proposições para o aperfeiçoamento legislativo, inclusive das formas de atuação de prevenção, e, mais um, para que a gente tenha a celeridade nos inquérito e nos julgamentos desse tipo de crime”, disse a ministra à GloboNews.