1,5 milhão de argentinos marcham pela educação pública e contra cortes de Milei
Um milhão e meio de argentinos voltaram às ruas na quarta-feira (2) para exigir o cumprimento da Lei de Financiamento da Educação, que recompõe o orçamento universitário duramente golpeado pelos cortes do governo de Milei que anunciou “déficit zero” e que “vetará tudo que atente contra o equilíbrio fiscal”. Comprometido com a implementação desta camisa de força, nos primeiros oito meses do ano, ele fez as transferências para as universidades despencarem 30,1% – em termos reais – em relação ao mesmo período de 2023.
Como resposta, uma gigantesca mobilização tomou a capital, Buenos Aires, e se repetiu por ruas e praças de Mar del Plata, Córdoba, Santa Fé, Mendoza e das principais cidades do país. Nas faixas, cartazes e cantos da população que respondeu ao chamado, um alerta: caso seja vetada a lei sancionada no dia 10 de setembro – como anunciado por Milei – o presidente terá de responder pelas consequências.
Convocados pela Frente Sindical de Universidades Nacionais, os trabalhadores na educação e os estudantes ganharam apoio de organizações sindicais, políticas e populares, e o protesto ganhou peso em um momento de disparada dos índices de pobreza e indigência, que refletem a queda da produção, dos salários e do emprego.
“Esta é uma marcha massiva que supera a de abril. As fotos de drones vão rodar o mundo”, sentenciou o deputado nacional e secretário-geral da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky, reiterando a grandiosidade da segunda edição da marcha universitária federal.
A poucos metros do Congresso, no Instituto Pátria, a ex-presidente Cristina Kirchner foi até a sacada saudar a passagem dos manifestantes e juntos com eles entoar o hino peronista, sendo entusiasticamente aplaudida. Cristina declarou ser uma “filha e tributária da universidade pública, nacional e gratuita” e reiterou seu compromisso em lutar conjuntamente para “reconquistar” a mobilidade social ascendente.
A secretária-geral da Federação Nacional de Docentes Universitários (Conaduh), Francisca Staiti, condenou os permanentes ataques movidos pelo desgoverno neoliberal contra a educação pública e ridicularizou o gigantesco aparato policial e “a ameaça repressiva da ministra da ‘Segurança’ Patricia Bullrich”. “Por isso respondemos com mais força e estamos aqui concentrados com muita alegria e espírito de luta. Chegamos à praça e dizemos a Milei: Não, agora basta!”, enfatizou.
Staiti elogiou o trabalho das organizações comunitárias e as mulheres dos bairros que sustentam os restaurantes populares, em um país que tem 52% da população mergulhada na pobreza. Ao mesmo tempo, elogiou a determinação e o compromisso dos Sindicatos de Aeronautas e das Aerolineas Argentinas, assim como “de todas as empresas públicas que querem privatizar”. “Temos que estar nas ruas dizendo não a este modelo de país”, sentenciou.
O secretário de Formação da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA-Autônoma), Oscar Vallejos, apontou para “o protagonismo de universitários, estudantes secundaristas, trabalhadores docentes e não docentes, assim como de toda a cidadania contra esse governo”. Afinal, é uma administração que vai na contramão: “que em vez de resolver problemas, decidiu atacar a universidade em todas as frentes”. E reiterou que “o mais angustiante é a situação da defasagem salarial, da ordem de 50%, e o ataque aos estudantes pela não atualização das bolsas, que são o principal apoio à permanência nas universidades”.
O secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA-Autônoma), Hugo Godoy, comemorou a massividade do protesto, que se estendeu de norte a sul do país de Perón. “Este povo maravilhoso defende a escola, a educação e a universidade e não vai sair das ruas até barrar definitivamente este governo neofascista que quer nos entregar, nos assaltar para beneficiar um punhado de empresas transnacionais”, condenou.
Para Godoy, há uma crescente tomada de consciência sobre a necessidade de derrubar o Decreto Nacional de Urgência (DNU 70/23), responsável pelo avanço da fome na Argentina. “Estes são os desafios para que tenhamos uma democracia real e não um governo administrado como por um monarca, com decretos e vetos destruindo o patrimônio do povo argentino e arrasando com o Congresso e as Instituições democráticas”, assinalou.
“A universidade pública, base da democracia e do desenvolvimento social, luta pela sua sobrevivência” é o título do documento de três páginas lido pela presidenta da Federação Universitária Argentina (FUA), Piera Fernández de Piccoli, no encerramento da Marcha.
Conforme Piera Fernández sintetizou, é necessária a promulgação da lei de financiamento universitário, aprovada pelo Congresso, por uma questão de justiça social, pois dá ao sistema a “previsibilidade e a possibilidade de recuperar o poder aquisitivo dos salários”. Além disso, esclareceu, “necessita de somente 0,14% do PIB para a sua implementação”.
“Exigimos também que o orçamento para 2025 seja reconsiderado porque a situação das universidades e do sistema científico será muito mais grave do que é hoje; é a sua continuidade que está em jogo”, alertou. A líder estudantil finalizou agradecendo “à sociedade argentina, que se mobiliza cada vez que a história bate à sua porta”.
Fonte: Papiro