“Eu queria ao menos salvar um dos olhos das vítimas”, disse médico libanês sobre terrorismo de Israel
Em uma noite “extraí mais olhos do que em toda a minha carreira”, disse em entrevista à BBC, o oftalmologista libanês, Elias Warrack, resumindo a perversidade com que Israel desencadeou o terror explodindo bipes e walkie-talkies por ação remota no dia 17, para estender ao Líbano o genocídio que perpetra em Gaza e tentar provocar uma guerra generalizada no Oriente Médio.
“Eu queria salvar pelo menos um dos olhos das vítimas (para salvar sua visão) e, em alguns casos, não consegui, tive que remover os dois olhos porque os estilhaços haviam entrado direto nos olhos.”
“Foi muito difícil”, diz ele. “A maioria dos pacientes eram homens jovens na casa dos vinte anos e, em alguns casos, tive que remover os dois olhos. Em toda a minha vida eu não tinha visto cenas semelhantes ao que vi ontem.”
Foram quase 4 mil feridos e mutilados ao longo de três dias e 37 mortos, de acordo com o ministro da Saúde do Líbano, Firas Abiad.
“O mundo inteiro pôde ver que esses ataques ocorreram nos mercados”, diz ele. “Estas foram não pessoas que estavam no campo de batalha lutando. Elas estavam em áreas civis com suas famílias”, ele denunciou.
“Um crime de guerra”, assinalou Abiad, advertindo que “a militarização da tecnologia” foi algo muito sério, não só para Líbano, mas também para o resto do mundo e para outros conflitos.
“Cenas horríveis”, disse também à BBC um membro da equipe do Centro Médico LAU no distrito de Ashrafieh, em Beirute. “Muitas vítimas perderam dedos, em alguns casos, todos eles”, acrescentou.
Segundo a repórter da emissora britânica em Beirute, Carine Torbey, uma das explosões aconteceu durante um funeral de uma das vítimas das detonações do dia anterior.
Em outro depoimento, o médico Dania El Hallak, relatou, pelas redes sociais, que “uma vítima foi levada às pressas para o pronto-socorro com os intestinos para fora!! Tentamos estabilizá-lo até que finalmente pudéssemos levá-lo para a sala de cirurgia.”
Ele acrescentou que teve “que remover as bandagens apenas para não encontrar nenhum globo ocular no lugar”. “Eu vi pessoas massacradas pela primeira vez. Alguém pode se recuperar de tal cena?”
TERROR E COVARDIA
Como de costume, o regime supremacista de Tel Aviv não assumiu explicitamente a autoria dos atentados mas, convenientemente, vazou para a mídia imperial que se tratava de outra “façanha hollywoodiana” do Mossad, e se gabando da operação, cuja preparação fora anterior a outubro passado.
“O ataque simultâneo a milhares de indivíduos, sejam civis ou membros de grupos armados, sem conhecimento de quem estava de posse dos dispositivos visados, sua localização e seus arredores no momento do ataque, viola, na medida aplicável, o direito internacional humanitário”, disse chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, que exigiu uma “investigação independente, completa e transparente”.
SALVA DE ABERTURA
Na prática, os atentados terroristas com bipes e walkie-talkies foram a salva de abertura da tentativa do regime israelense, contra o qual se aprofunda a repulsa do mundo inteiro devido ao genocídio em Gaza, de empurrar a região inteira para uma conflagração, na expectativa de atrair o Pentágono diretamente para a carnificina, em especial na esperança de um confronto com o Irã.
Ao contrário da União Europeia, Washington não condenou o terror kahanista (como é denominado o fascismo israelense) no Líbano, apenas alegou não ter sabido por antecedência.
Atualização dos números das vítimas feita pelo ministro Abiad na quarta-feira registrou 558 mortos – incluindo 50 crianças e 94 mulheres – e 1.835 feridos nos bombardeios cometidos pelos israelenses desde sexta-feira passada. Dezenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar suas casas no sul e em outras partes e se dirigiram para Beirute.
Enquanto o regime supremacista ataca indiscriminadamente os libaneses, a resposta do Hezbollah se concentrou, segundo relatos da mídia, em atingir bases militares israelenses e até mesmo o prédio do Mossad.
“NÃO DEIXEM O LÍBANO VIRAR OUTRA GAZA”
Em seu discurso na abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral Antonio Guterres chamou a deter a escalada e apelou às partes em conflito e ao mundo inteiro para evitarem que o Líbano “se torne outra Gaza”.
“A comunidade internacional deve mobilizar-se para alcançar um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional dos reféns e o início de um processo irreversível rumo à Solução dos Dois Estados”, ele enfatizou.
Ele também se referiu à escalada do regime Netanyahu/Gvir/Smotrich em curso contra a população palestina da Cisjordânia ocupada. “Para aqueles que continuam a minar este objetivo [dos Dois Estados] com mais colonatos, mais apropriação de terras e mais incitamento, pergunto: qual é a alternativa? Como poderia o mundo aceitar aquele Estado [supremacista] que incluiria um grande número de palestinos sem qualquer liberdade, sem direitos ou dignidade?”, disse o chefe da ONU.
Fonte: Papiro