Ex-vice-prefeita de São Paulo discute as perspectivas apontadas por pesquisas eleitorais, além dos desafios políticos do atual cenário eleitoral

Nádia Campeão durante a gestão de Fernando Haddad, em 2016. Foto: Cesar Ogata/Divulgação Prefeitura de São Paulo

No recente episódio do programa Entrelinhas Vermelhas, Nádia Campeão, ex-vice-prefeita de São Paulo (2013-2016) durante a gestão de Fernando Haddad, trouxe reflexões sobre a importância das prefeituras e o atual cenário político-eleitoral. Com a experiência acumulada à frente de uma das maiores metrópoles do mundo, Nádia traçou um panorama da responsabilidade das administrações municipais e sua relevância no cotidiano dos cidadãos.

A entrevista com Nádia Campeão no Entrelinhas Vermelhas foi uma reflexão sobre os desafios das gestões municipais, as dinâmicas eleitorais e a importância da representação democrática. Sua análise reflete uma visão experiente sobre como o cenário político impacta diretamente o dia a dia da população e a necessidade de um olhar atento às questões locais e nacionais nas eleições de 2024. Ela também avaliou as perspectivas apontadas pelas pesquisas de intenção de voto nas capitais.

“A prefeitura é o poder federativo mais próximo do cidadão”, destacou ela ao longo da entrevista. Segundo ela, esse papel de proximidade é evidenciado no cuidado com questões cotidianas, como a manutenção das ruas, a oferta de serviços de saúde, educação, transporte e outros aspectos diretamente ligados à vida nas cidades. A vice-prefeita também enfatizou que essa conexão torna as prefeituras o primeiro espaço de experiência cidadã: “Você pode organizar um movimento, fazer um protesto em frente à prefeitura, marcar uma audiência com o prefeito, participar de atividades… isso é muito diferente do governo estadual ou federal, que têm uma distância maior.”

No entanto, Nádia ressalta que, apesar de uma boa gestão poder transcender orientações políticas, os prefeitos progressistas, em sua visão, tendem a colocar o interesse público e o social em primeiro lugar. Ela reforça que a saúde e a educação públicas de qualidade devem ser prioridades de qualquer prefeito que se alinhe com os princípios democráticos e de esquerda.

Confira a íntegra da entrevista:

O prefeito como líder político

Longe de ser um simples “gestor” ou “gerente” de uma cidade, Nádia afirma que o prefeito tem um papel central enquanto liderança política. “Obviamente, ele é uma liderança política e vai ter que fazer parte dessa disputa que ocorre ao longo dos quatro anos de mandato”, disse, ressaltando que os prefeitos podem agir como indutores de projetos de desenvolvimento e articular parcerias com o setor privado, trabalhadores e outras esferas de governo.

Ela também pontuou a importância de os prefeitos se associarem a um projeto de desenvolvimento nacional. “Senão, ele vira as costas para as políticas nacionais e condena o município a se prender aos seus próprios problemas”, disse Nádia, reforçando a relevância do alinhamento entre os projetos locais e federais.

O cenário eleitoral de 2024

Ao abordar o cenário eleitoral, Nádia reconheceu a complexidade do momento atual, destacando que o PCdoB, partido do qual é secretária de Organização, teve uma redução expressiva no número de candidaturas comparado ao último pleito. Ela explicou que uma das causas foi a mudança nas regras eleitorais, como a criação do Instituto da Federação, que permitiu alianças partidárias. “PT, PCdoB e PV estão disputando juntos pela primeira vez nas eleições municipais”, afirmou, destacando que essa mudança impactou o número de candidaturas lançadas pelo partido.

Outro ponto de destaque foi a maior representatividade de mulheres e candidatos negros nas candidaturas do PCdoB. Para Nádia, essa característica é fruto da identidade popular do partido, que historicamente representa a classe trabalhadora e, por isso, naturalmente reflete a diversidade racial e de gênero do Brasil.

A dirigente partidária aproveitou o espaço para reafirmar o compromisso histórico do PCdoB com a emancipação feminina e a luta contra o machismo. Segundo ela, o partido sempre teve essa postura, diferentemente de legendas mais tradicionais e conservadoras. “Nosso partido não é de donos, em que o marido ou o pai decide as candidaturas femininas; nós lutamos pela participação política consciente de cada militante”, disse.

(por Cezar Xavier)