Equador enfrenta apagões e crise energética devido à seca
Parlamento critica o governo por resposta insuficiente e tardia às crises, que prejudica a economia e a segurança pelos apagões.
Um cliente compra roupas numa loja sem eletricidade devido aos apagões programados decretados pelo Ministério de Energia, em Quito (Equador).
O governo equatoriano anunciou a suspensão da eletricidade em 12 das 24 províncias do país no último domingo (22), com um apagão programado para durar nove horas, das 8h às 17h, no horário local. A medida, divulgada pela Presidência na noite de sábado (21) via redes sociais, faz parte de um esforço emergencial para enfrentar a grave crise energética causada pela pior seca registrada no país em 61 anos. A seca reduziu drasticamente os níveis de água nas usinas hidrelétricas, responsáveis por 70% da geração de energia no Equador.
A decisão de suspender o fornecimento elétrico no domingo foi tomada após uma reunião do Comitê de Operações de Emergência, e as autoridades ressaltaram que a medida visa proteger os já escassos recursos hídricos do país. A ministra do Meio Ambiente, Ines Manzano, declarou em Cuenca que 19 províncias estão em alerta vermelho devido à falta de água, incêndios florestais e ameaças à segurança alimentar.
Além do apagão de domingo, o governo anunciou na última terça-feira (17) planos de cortes noturnos de energia, que ocorrerão de segunda a quinta-feira em todo o país. As interrupções terão duração de até oito horas, agravando a já tensa situação econômica e social. Essa crise de energia é vista por muitos como resultado não apenas da seca, mas também da falta de manutenção adequada das barragens e da ausência de novos contratos para garantir a geração de energia.
Críticas ao governo e consequências econômicas
O parlamento equatoriano, com 93 votos a favor, criticou duramente o governo do presidente Daniel Noboa, afirmando que a resposta às crises tem sido insuficiente e tardia. Os deputados alertaram que os cortes de energia prejudicam ainda mais o desenvolvimento econômico, pois indústrias, comércios e sistemas de segurança são diretamente afetados pelos apagões. Além disso, há temores de que a crise energética possa agravar ainda mais os problemas de segurança pública do país, que já enfrenta uma alta nos índices de criminalidade.
O Congresso pediu medidas urgentes para restaurar o fornecimento de eletricidade em todo o país e reforçar a segurança nas ruas. A situação é especialmente grave nas províncias de Guayas, Los Ríos, Manabí, Orellana, Santa Elena e El Oro, que já estão sob estado de exceção devido à crescente violência.
Impactos ambientais e sociais
O Equador, assim como outros países da América do Sul, enfrenta as duras consequências das mudanças climáticas. A seca prolongada, exacerbada pelo aquecimento global, vem causando estragos em todo o país. Desde agosto, mais de 1.300 incêndios florestais foram registrados em 21 das 24 províncias equatorianas, destruindo cerca de 23 mil hectares de vegetação. A Secretaria Nacional de Gestão de Riscos (SNGR) indicou que as chuvas na região de Sierra, uma das mais afetadas, estão 90% abaixo da média histórica.
Os incêndios, alimentados pelos ventos fortes e altas temperaturas, estão difíceis de controlar, especialmente nas áreas montanhosas. Cerca de 45 mil animais de fazenda morreram em consequência do fogo, e o impacto ambiental e econômico continua a se agravar.
Estado de exceção e toque de recolher
Diante da crise de energia e da crescente violência, o governo de Noboa também impôs um toque de recolher em seis províncias, com 46 mil policiais mobilizados para patrulhar as ruas e garantir a segurança. No entanto, essa medida é amplamente vista como um reforço ao autoritarismo, já que o estado de exceção não foi aprovado pela Corte Constitucional, que considerou injustificada a militarização diante da situação atual.
A população do Equador, já sobrecarregada por uma crise econômica que remonta a 2017 e agravada pela pandemia, agora enfrenta a incerteza de racionamentos energéticos e uma seca devastadora, deixando o futuro do país cada vez mais imprevisível.
(por Cezar Xavier)