Putin adverte EUA a não liberar mísseis de longo alcance contra a Rússia
O presidente Vladimir Putin advertiu na quinta-feira (12) que a autorização, por Washington/Otan, ao regime de Kiev, para ataques com sistemas ocidentais de longo alcance a alvos em profundidade na Rússia, mudaria a essência do conflito e significaria uma guerra direta entre a Otan e a Rússia.
De acordo com a mídia da Otan e com declarações dos maníacos de guerra à frente do complexo de segurança ianque, o fim das assim chamadas “restrições” a ataques à Rússia com armas ocidentais está em pauta em Washington, Londres e Kiev. E nesta sexta-feira (13) o presidente pato manco Joe Biden e o primeiro-ministro britânico Sir Keir Starmer se reunirão na Casa Branca, sobre o assunto.
A advertência de Putin foi feita no Fórum das Culturas Unidas, em São Petersburgo, atendendo a uma pergunta do jornalista do canal de televisão Rossiya-1, Pavel Zarubin, que o abordou após seu discurso no evento.
“Nos últimos dias, temos visto e ouvido como o tema está sendo discutido a um nível muito elevado no Reino Unido e nos EUA, de que o regime de Kiev será capaz de atacar profundamente o território russo com armas ocidentais de longo alcance. E aparentemente essa decisão está prestes a ser tomada ou, aparentemente, já foi tomada. Isto é, obviamente, uma coisa extraordinária. Queria pedir-lhe que comentasse o que está acontecendo”, disse Zarubin.
“Não estamos falando em permitir ou proibir o regime de Kiev de atacar o território russo. Ele já faz isso com a ajuda de veículos aéreos não tripulados [drones]”, observou Putin. “Quando se trata de usar armas de precisão de longo alcance fabricadas no Ocidente, a história é completamente diferente.”
“Qualquer especialista confirmará tanto aqui como no Ocidente que o exército ucraniano não é capaz de realizar ataques com sistemas modernos de alta precisão e longo alcance de produção ocidental”, ele acrescentou
“Isto só é possível utilizando dados de inteligência de satélites, que a Ucrânia não possui. Trata-se de dados de satélites da União Europeia ou dos Estados Unidos, em geral – de satélites da Otan. Este é o primeiro”.
“Em segundo lugar, e muito importante, talvez fundamental. Está no fato de apenas militares da Otan poderem, de fato, operacionalizar missões de voo nestes sistemas de mísseis”, disse Putin.
Assim, ele acrescentou, a questão “é se os países da Otan estão diretamente envolvidos num conflito militar ou não”. Continuando, o líder russo assinalou que permitir que Kiev dispare mísseis de longo alcance seria a “participação direta dos países da Otan”.
“Esta é a participação direta deles. E isto, claro, muda significativamente a própria essência, a própria natureza do conflito. Isto significará que os países da Otan, os EUA e os países europeus estão em guerra com a Rússia. E se assim for, então, tendo em conta a mudança na própria essência deste conflito, tomaremos decisões apropriadas com base nas ameaças que serão criadas para nós”.
Na véspera, o presidente Putin havia se reunido com o chanceler chinês Wang Yi, encontro que ocorre em meio ao maior exercício naval da Rússia desde o fim da Guerra Fria, com 400 navios, 90 mil marinheiros, no Pacífico, Mediterrâneo, Báltico e Rota do Ártico, no qual a China está participando.
Segundo as agências de notícias, o presidente cujo mandato expirou, Volodymyr Zelensky, entregou ao secretário de Estado Antony Blinken uma lista de alvos na Rússia para ataque com mísseis ocidentais de longo alcance. Blinken foi a Kiev em companhia do chanceler inglês, David Lammy. Na semana passada, o chefe da CIA, William Burns, foi a Londres trocar figurinhas com seu congênere inglês.
Com a Rússia acelerando no Donbass e diante do fracasso da provocação ucraniana contra a região de Kursk, nas últimas semanas recrudesceram nos meios ocidentais os temores de colapso do regime neonazista, o que poderia ser fatal para as pretensões democratas, sob o risco de óbvia comparação com a queda de Cabul.
Assim, desde julho, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca e neocon desvairado, Jake Sullivan, tem trabalhado dia e noite para dar fim a qualquer restrição à Ucrânia, devido à “mudança de circunstâncias”.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, o veterano Sergei Lavrov, em uma mesa redonda com 80 embaixadores sobre a crise ucraniana, expressou sua convicção de que os EUA e a Otan aboliram o veto aos ataques ucranianos com mísseis ocidentais contra instalações dentro da Rússia.
“Não temos dúvidas de que a decisão de cancelar as restrições ao uso de armas de longo alcance para atacar o território russo já foi aprovada”, disse ele.
Em entrevista a um portal norte-americano dedicado a debater questões sobre a neutralidade, o fundador dos Veteranos da Inteligência pela Sanidade, e ex-agente da CIA, Ray McGovern, advertiu que o mundo está diante de “dois meses” muito perigosos até as eleições de 5 de novembro, já que existe a tentação de ir à guerra, para definir a eleição, que está muito apertada.
Ele foi durante muitos anos o oficial da CIA responsável pelos informes diários aos presidentes norte-americanos, inclusive quando os principais tratados de controle de armas foram assinados, tendo rompido em 2003, por se opor à aventura da Guerra no Iraque.
Desde então, é uma das mais lúcidas personalidades nos EUA que denunciam o excepcionalismo e o militarismo norte-americano, assim como criticado a demonização de Putin e da Rússia para fins de política interna, como ocorre desde a fabricação do chamado “Russiagate”.
Na quinta-feira, em mais uma provocação, o Pentágono divulgou a contratação de uma empresa americana para estudar o impacto das armas nucleares no setor agrícola, com o objetivo de simular as consequências de uma explosão nuclear não só na Europa Oriental, mas também na Rússia. No mês passado, Lavrov havia advertido Washington sobre a perigosa ilusão de que, como na I e II Guerra mundiais, só os europeus sofreriam e os norte-americanos ficariam imunes, por estarem separados da Eurásia por dois oceanos, mas não se pode esquecer que estamos nessa época de mísseis intercontinentais e mísseis hipersônicos.
Fonte: Papiro