Metalúrgicos rejeitam demissões e fechamento de fábricas da Volkswagen na Alemanha
Os executivos da Volkswagen anunciaram aos representantes dos trabalhadores na última quarta-feira (4) que cogitam o fechamento de pelo menos duas fábricas na Alemanha pela primeira vez nos seus 87 anos de existência.
Assim, umas das saídas pensadas pela marca para que os trabalhadores paguem pela crise é o fechamento de plantas (algo nunca antes feito na Alemanha desde que a empresa foi fundada em 1937), o que coloca na berlinda as unidades de Dresden e Osnabruck, que atualmente produzem os modelos ID.3, T-Roc Cabriolet e os Porsches Cayman e Boxster. Além disso, fala em subverter os acordos pactuados com os 680.000 funcionários que têm em todo mundo.
Conforme os representantes da Volks, houve um sério encolhimento do mercado alemão – superior a 500 mil veículos por ano – após a pandemia, o que foi agravado pela estagnação que se seguiu à submissão de Berlim às sanções contra a Rússia e a sabotagem aos gasodutos Nord Stream que cortou o fornecimento de gás russo mais barato que alimentava as unidades industriais alemãs.
Isto se agravou em paralelo à queda nas vendas com o avanço da fabricação própria pelos chineses, que investiram em modelos elétricos com mais tecnologia e independência.
Diante destes fatores, o CEO da Volkswagen, Oliver Blume, reconheceu que “a indústria automobilística europeia se encontra em uma posição desafiadora e séria”, e que não pode descartar o fechamento de unidades e demissões.
Os 25 mil trabalhadores reunidos em assembleia na sede da empresa, em Wolfsburg, entoaram o slogan “nós somos a Volkswagen, vocês não” e despacharam o chefe de finanças da empresa, Arno Antlitz, com um “até mais ver” enquanto ele tentava justificar a política de cortes. Na sua provocação, Antlitz sustentou que “precisamos aumentar a produtividade e reduzir custos”. Nenhuma vírgula sobre mexer nos ganhos dos diretores ou dos acionistas.
Em nome do Conselho dos Trabalhadores da Volks, Daniela Cavallo, reagiu à ladainha de Antlitz de que diretores e trabalhadores deveriam fazer a sua parte e afirmou que a direção da empresa “danificou massivamente a confiança” dos milhares de homens e mulheres ali presentes. Cavallo comparou a ameaça de fechar fábricas a uma “declaração de falência” e acusou o CEO da Volkswagen, Oliver Blume, de priorizar um acordo de cerca de 5,5 bilhões de euros (R$ 34 bilhões de reais) com a empresa americana de softwares Rivian, ao invés de proteger os empregos locais.
Em resposta à provocação de Blume, o Sindicato dos metalúrgicos IG Metall avalia realizar greves e comunicou que não retrocederá nas suas exigências de aumento salarial nas próximas rodadas de negociação. A estagnação econômica e a inflação, assinalam os sindicalistas, devem ser combatidos com investimento em ciência e tecnologia e ampliação do mercado interno.
Frente aos crescentes protestos, o governo do chanceler alemão Olaf Scholz disse que a Volkswagen está “ciente da importância” da companhia para o país. O ministro do Trabalho, Hubertus Heil, informou que o gabinete de Scholz chegou a um acordo para reduzir impostos e, assim, aumentar a demanda por carros elétricos.
Inicialmente, a empresa pressionou para tentar pôr fim a um acordo de décadas com trabalhadores que garante a segurança do emprego nas seis fábricas da empresa, e admitiu que o fim desse “pacto” seria parte da sua estratégia para reduzir gastos em até 10 bilhões de euros (R$ 62,5 bilhões). Na prática, o que os executivos da Volks queriam era ampliar a margem de lucro para obscenos 6,5% até 2026, obtendo uma alta significativa em relação aos 2,3% obtidos no primeiro semestre de 2024, às custas da compressão de salários e direitos.
“A Volkswagen não está sofrendo por causa de suas fábricas alemãs e dos custos de pessoal na Alemanha. O problema da Volkswagen é que o conselho de administração não está fazendo o seu trabalho”, ressaltou o sindicato.
Só no primeiro semestre deste ano, a Volkswagen relata queda de 15,2% nas vendas de veículos elétricos na Europa e recuo de 15,4% nos EUA. Falta dinheiro para os investimentos necessários e flexibilidade para reagir às mudanças tecnológicas no mundo.
O fato é que os chineses, até então compradores de marcas estrangeiros, consolidaram sua preferência pelas marcas locais em detrimento de opções europeia. Em 2023, por exemplo, a Volkswagen perdeu a liderança de vendas na China para a BYD após décadas de hegemonia. “A indústria automotiva mudou muito no segmento de volume em apenas alguns anos”, disse Blume.
Diante do anúncio da empresa de que se sente “compelida a rescindir o acordo de proteção ao emprego que está em vigor desde 1994”, o prefeito de Emden, com apoio de dirigentes sindicais como Thorsten Gröger, descreveu o fechamento da fábrica da VW como “plano irresponsável”.
“Isso coloca todas as unidades alemãs na mira – independentemente de serem locais ou subsidiárias da VW, no oeste ou leste da Alemanha”, avaliou Daniela Cavallo, reafirmando que haverá uma “resistência feroz”.
Fonte: Papiro