Dmitry Belik, deputado que integra o Comitê de Relações Internacionais da Duma, denuncia ataque à RT | Foto: Reprodução

Para Dmitry Belik, membro do Comitê de Assuntos Internacionais do parlamento russo (Duma), as sanções dos EUA contra a RT e Sputnik “são ridículas e justificadas com pretextos rebuscados; este é mais um ataque ilegítimo à liberdade de expressão, que priva os cidadãos de outros Estados da oportunidade de conhecer um ponto de vista alternativo e, de fato, priva-os do acesso à informação”.

Em uma operação casada, como se diz no jargão do mercado, o Departamento de Justiça dos EUA e o Departamento do Tesouro desencadearam, nesta semana, um ataque a colaboradores e dirigentes dos portais de notícias russos RT, Sputnik, Ria Novosti e do grupo de mídia Rossiya Segodnya, misturando a mais descarada censura aos pontos de vista que refutam o imperialismo e seus crimes à ridícula alegação de que a Rússia “interfere nas eleições norte-americanas”. Entre os atingidos, está a editora-chefe da RT, Margarita Simonyan.

Para a porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia, Maria Zakharova, o ataque à mídia russa “é um sinal da profunda da crise do sistema democrático dos Estados Unidos e faz parte da sua contínua supressão da mídia”.

Segundo o Estado Profundo norte-americano e seus operativos, só é liberdade de expressão quando os meios de comunicação estão papagaiando a mídia de Washington e suas lorotas sobre genocídio em Gaza ser “direito de defesa” de Israel. Ou que “não há” nazistas no regime de Kiev.  Ou, ainda, que o mundo deve ser regido pela ordem unipolar “sob regras”.

E que a clivagem nos tempos atuais é entre “democracias” e “autocracias”, não entre a Maioria Global – que busca a soberania e o desenvolvimento – e o minúsculo punhado de países imperialistas e neocolonialistas que teima em manter seu jugo.

Essa é a parte da censura. Noves fora a Primeira Emenda, a liberdade de expressão e uma década tentando extraditar Assange para calar a verdade.

Para um país manjado por se gabar de seu “excepcionalismo”, com um século de invasões, golpes de estado, Operações Condor, Mi Lais e Abu Graibs, ingerências mil em terras alheias, chantagens e sanções, além da predileção por espalhar o caos onde não pode dominar, é de um cinismo ímpar alegar interferência de quem quer que seja em “suas” eleições.

Lacração que desde 2016 é pespegada na Rússia, na esteira da derrota da preferida de Wall Street, Hillary Clinton, para um desclassificado como o biliardário fascista Trump, que conseguiu se autointitular ‘campeão dos pobres’, graças à iníqua operação de salvação dos Bancos sob Obama “Yes we can” pós-2008, mais três décadas de desindustrialização, precarização e brutal transferência de renda para os 0,01%, o que empurrou parcela expressiva da população a apostar em qualquer coisa.

Lacração que é ainda mais nojenta porque a interferência – essa sim, real – foi dos EUA nas eleições russas de 1996, “Ianques ao resgate [de Yeltsin]”, gabou-se na época a revista Time, para fraudar as eleições, impedir a vitória do comunista Gennady Ziuganov e manter no poder o beberrão e a pilhagem do patrimônio coletivo.

E aquela enxurrada de “terceiros turnos” sempre que perdem uma eleição, inventados na Iugoslávia e na Ucrânia, entre outros, para depor governos que não eram subservientes o suficiente aos olhos da Casa Branca.

Um estudo acadêmico norte-americano famoso compilou 64 golpes de Estado promovidos pelos EUA entre 1950 e 1989. E, se contar bem, tem mais. A partir da década de 1990, já no mundo unipolar, a Casa Branca mandou ver. E são esses que se arrogam fazer preleções sobre liberdade de expressão e “não interferência”.

Os cidadãos russos afetados estão incursos em sanções ou processados por supostamente ocultarem sua condição de “agente estrangeiro”, o que pode incluir “lavagem de dinheiro”. Estariam recebendo ouro de Moscou para reproduzirem as ideias de Putin.

Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, o grupo de mídia RT e suas subsidiárias terão de informar sobre funcionários e propriedades nos EUA.

As autoridades norte-americanas também anunciaram uma recompensa de até 10 milhões de dólares por informações que “comprovem a interferência” destes meios de comunicação nas próximas eleições presidenciais dos EUA.

Para o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, os meios de comunicação russos estariam supostamente “fingindo ser sites de notícias como The Washington Post ou Fox News” para espalhar “propaganda russa”.

Já o chefe do FBI, Christopher Wray, asseverou que a RT dependia de pessoas que viviam nos Estados Unidos para estabelecer ligações com os americanos e espalhar a sua “propaganda” no seu país, o que era apresentado como “jornalismo independente”.

Acusação que busca calar respeitados críticos da política norte-americana de guerras sem fim, que ficam na prática impedidos de utilizar a RT para criticar os crimes do império e as mazelas inegáveis nos EUA, para não se sujeitarem ao rótulo de “agentes estrangeiros”.

A Rússia já avisou que irá responder conforme manda o princípio da reciprocidade, esclareceu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

A editora-chefe Simonyan reagiu de forma humorada às sanções: “Woke” [Despertem], ela comentou no canal Telegram.

E ironizou: “Não entendo uma coisa: se nos expulsarem completamente, como vão conduzir as próximas eleições? Eles geralmente não têm outros cenários além de afogar um competidor, assustando os pinguins com suas ligações com a toda-poderosa RT. Eles vão cancelar as próximas eleições, ah, eles vão cancelar, posso sentir isso no meu coração”.

 “Este é mais um passo hostil e agressivo em relação aos nossos meios de comunicação social e, mais uma vez, lembra-nos de que tipo de liberdade midiática estamos falando, de que tipo de convenções internacionais no domínio da liberdade midiática, quando os Estados Unidos proíbem não apenas jornalistas e não apenas algumas publicações, mas os acervos de informações, proíbem e não permitem a transmissão ou o envolvimento em atividades profissionais. Portanto, outro triplo padrão dos EUA”, disse à RT Ivan Solovyov, doutor em direito russo e professor.

Fonte: Papiro