Marçal e Nunes. Fotos: reprodução e Alesp

A ascensão do “ex-coach” Pablo Marçal (PRTB), a redução na preferência pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB) e, no polo oposto, a estabilidade de Guilherme Boulos (PSOL) em patamar competitivo num quadro de triplo empate técnico apontado por pesquisas recentes bagunçaram a vida da extrema-direita na disputa eleitoral em São Paulo.

Com milhares de seguidores nas redes sociais e apostando na linha histriônica do “quanto pior, melhor” típica do bolsonarismo, Marçal abocanhou parte do eleitorado desse segmento, redesenhando o comportamento de padrinhos políticos a pouco mais de um mês do primeiro turno.

Ainda que formalmente o PL e Jair Bolsonaro estejam com Ricardo Nunes (MDB), parte de seu eleitorado, dos candidatos a vereador e das lideranças políticas desse campo vêm cada vez mais flertando com Marçal e se distanciando do atual prefeito. Postulantes à Câmara Municipal de legendas que compõem a aliança com Nunes, por exemplo, já andaram aparecendo no horário de propaganda eleitoral sem o selo do candidato.

Nesse cenário, Bolsonaro teria aconselhado o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), a não mergulhar de cabeça na campanha pela reeleição do atual prefeito. Segundo o colunista Igor Gadelha, do site Metrópoles, o ex-presidente teria dito ao governador que se insistisse no apoio explícito a Nunes, Tarcísio estaria “assinando um atestado de óbito político”. 

Mesmo assim, o governador optou por se empenhar ainda mais na disputa em favor de Nunes. Isso ficou explícito no programa eleitoral veiculado nesta quarta-feira (4), no qual o governador bolsonarista disse não querer a vitória da esquerda, aglutinada em torno de Guilherme Boulos — que reúne as federações PSOL-Rede, Brasil da Esperança (PT, PCdoB, PV) e o PDT. Para tanto, argumentou que o caminho seria Nunes e não Marçal. 

Nesta quarta-feira (4), Bolsonaro e Tarcísio se reuniram para tratar dos próximos passos nessa configuração em que o candidato não-oficialmente bolsonarista é o que mais tem agradado a base extremista da direita. Outro ponto do encontro é o ato marcado para o dia 7 de Setembro, cuja tônica deverá ser, novamente, o ataque ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Tanto Nunes quanto Marçal podem estar presentes na “micareta bolsonarista”, embora o ex-coach, que é alvo  de 32 representações no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo por sua conduta nestas eleições — além de ter uma ficha pregressa nada abonadora — tenha sinalizado não ter interesse em comprar briga com o Judiciário. 

Seja quem for o “vencedor” na briga pelo espólio bolsonarista, Marçal e Nunes representam o retrocesso tanto para São Paulo quanto para a luta pelo fortalecimento da democracia no país. A candidatura de Guilherme Boulos, claramente mais preparada e comprometida com as demandas da cidade e, sobretudo, com os direitos da população mais desassistida, é também a única capaz de estancar o processo de deterioração política e democrática promovida pela extrema-direita.