Entre os corpos, o de uma criança com o número 12 desenhado em vermelho na bochecha | Foto: Reprodução

O Exército dos EUA tentou ocultar os horripilantes detalhes do massacre que a The New Yorker acaba de trazer à luz. Foi perpetrado pelos invasores norte-americanos em novembro de 2005. Entre as vítimas, uma criança de três anos e sua irmã, de cinco anos

“Quando os marines dos EUA mataram 24 pessoas em uma cidade iraquiana, eles também filmaram as consequências de suas ações. Durante anos, o exército tentou esconder essas fotos do público”, registra a respeitada revista The New Yorker, finalmente tornando público mais esse massacre, abafado por quase duas décadas pelo Pentágono e pela Casa Branca.

No dia 19 de novembro de 2005, uma patrulha de marines que percorria em quatro veículos Humvee a estrada para a cidade de Haditha, no noroeste do Iraque, foi atingida por um artefato explosivo, colocado pela resistência à invasão.

Como relata The New Yorker, a explosão matou o cabo Miguel Terrazas, e feriu outros dois marines. Após a explosão, o grupo de marines dedicou-se a uma revanche sanguinária e covarde, matando a tiros 24 civis – homens, mulheres e crianças.

“Perto do local da explosão, eles mataram a tiros cinco homens que estavam se dirigindo para uma universidade em Bagdá”, assinalou a revista.

Em seguida, os marines entraram em três casas e mataram os moradores. “Os marines alegaram mais tarde que estavam lutando contra insurgentes naquele dia, mas os mortos eram todos civis”, disse a revista.

Entre outros detalhes sórdidos, os marines enviados algumas horas depois para transportar os corpos para um necrotério local numeraram os cadáveres semeados por sua unidade com um marcador vermelho.

Ayesha Younis Salim, de apenas três anos de idade, teve o número 12 rabiscado na bochecha direita. Baleada na cabeça, sua irmã de cinco anos, Zainab, tem o número 11 nas costas.

Sinal dos tempos e da impunidade, os cabos Ryan Briones e Andrew Wright fizeram questão de fotografar os chacinados.

Essas “fotos chocantes […] mostram homens, mulheres e crianças indefesos, muitos dos quais foram baleados na cabeça de uma distância relativamente próxima”, observa a New Yorker. 

A revista acrescenta que quatro marines chegaram a ser acusados de participar do massacre, mas as acusações foram retiradas. Na época, o comandante do Corpo de Marines, Michael Hagee, se gabou de ter ocultado as fotos do crime de guerra.

“A imprensa nunca as recebeu, ao contrário de Abu Ghraib”, teria dito o general em uma entrevista em 2014, referindo-se ao escândalo causado pela publicação em 2004 de fotos de abusos e tortura infligidos a prisioneiros iraquianos por soldados americanos e agentes da CIA.

Enquanto o Pentágono se recusou a fornecer documentos que comprovassem as atrocidades cometidas pelos marines, a equipe da New Yorker foi até o Iraque para se encontrar com as famílias das vítimas e obter as fotos em questão, agora mostradas ao mundo.

A invasão do Iraque no governo de W. Bush foi perpetrada em 2003, usando como pretexto a invencionice, desde a CIA e repercutida pelos maiores jornais norte-americanos, de que o governo de Saddam Hussein teria “armas de destruição em massa”.

Antes da invasão propriamente dita, os EUA mantiveram o Iraque sob pesadas sanções por dez anos, que reconhecidamente mataram 500 mil crianças iraquianas, como admitiu em entrevista na TV a então secretária de Estado de Bill Clinton, Madaleine Albright.

No auge da ordem unipolar sob Washington, a invasão do Iraque foi feita à revelia do Conselho de Segurança da ONU, apesar da oposição da China, Rússia, França e Alemanha. Segundo W. Bush, os marines seriam recebidos com flores pelos iraquianos, mas uma feroz resistência à ocupação rapidamente demoliu tal alucinação.

Na sequência, na assim chamada Estratégia El Salvador, Washington fomentou uma guerra civil no país, para poder roubar o petróleo iraquiano, expulsou mais de quatro milhões de pessoas dos seus lares e matou centenas de milhares, destruiu a infraestrutura e massacrou cidades inteiras, como Faluja, e acabou tendo de bater em retirada no governo Obama. Depois, com a guerra por procuração contra a vizinha Síria e o governo Assad, os EUA fomentaram o desvario do mal denominado ‘Estado Islâmico’.

Outros massacres já foram revelados anteriormente, como o dos 11 civis, inclusive dois jornalistas, abatidos em 2007 por um helicóptero de guerra Apache em Bagdá, o tristemente famoso “Assassinato Colateral”, que também continua impune e cuja exposição, pelo jornalista Julian Assange, lhe custou uma década de implacável perseguição pelos maníacos de guerra dos EUA e seu establishment.

Fonte: Papiro