Multidão em Chicago, no 1º dia da Convenção Democrata, exige cessar-fogo já em Gaza
Na abertura da Convenção Nacional Democrata, em Chicago, na segunda-feira (19) milhares de manifestantes foram às ruas para exigir um embargo de armas a Israel e cessar-fogo imediato, enquanto a convenção propriamente dita marchava para sagrar como candidatos à presidência a vice Kamala Harris e o governador Tim Walz em novembro, depois de um tumultuado mês até a aceitação, pelo presidente Joe Biden, de que seu partido não acreditava em vencer com ele na cabeça da chapa.
No relato da Associated Press, famílias com bebês em carrinhos, estudantes, líderes eleitos e outros segurando cartazes e bandeiras se juntaram à marcha até o United Center, onde a convenção está sendo realizada, para repudiar o genocídio em Gaza e o fim do acobertamento e entrega de armas a Israel por parte da Casa Branca. A multidão clamava “acabe com a ocupação agora” e “o mundo inteiro está assistindo!”.
“Biden, você não pode se esconder. Nós os acusamos de genocídio”, gritavam os manifestantes em meio ao bater de tambores, chamando-o de “Genocide Joe” e ensaiando cânticos semelhantes para Kamala.
Também presença de ativistas da Voz Judaica pela Paz, e cartazes e faixas com os dizeres: “Fim da violência do Estado, de Chicago a Gaza” e “Silêncio dos democratas = violência de Israel”. Famílias reunidas em suas varandas e do lado de fora de suas portas saudaram a passagem dos manifestantes.
Algumas crianças usavam keffiyeh, sopravam bolas ou seguravam cartazes de “punhos livres”. Algumas dezenas de manifestantes, que se separaram do fluxo principal, derrubaram pedaços da cerca de segurança, com vários detidos e algemados.
“As pessoas estão morrendo”, disse à AP Cameron Benrud, um professor de educação especial do ensino médio de 25 anos de Minneapolis. Ele dirigiu cinco horas para participar do comício no Union Park para pedir às autoridades democratas que suspendessem o financiamento a Israel. “Eu sou da pequena e velha Minnesota, e você se sente meio impotente… Você tem que fazer alguma coisa”, ele acrescentou.
“Estamos orgulhosos do comparecimento, especialmente considerando o grau de repressão da cidade”, disse o organizador Faayani Aboma Mijana. A área de Chicago tem uma das maiores comunidades palestinas e os ônibus traziam ativistas de todo o país.
Medea Benjamin, fundadora da organização pacifista feminina Codepink, que viajou da capital, Washington, para Chicago com um grupo de manifestantes liderado por mulheres pedindo paz, disse que ficou chocada com o fato do governo Biden ter aprovado recentemente mais US$ 20 bilhões em armas para Israel.
“Há uma discrepância incrível entre o que as pessoas estão pedindo neste país e o que o governo está fazendo”, disse ela antes do comício em Union Park. “Estamos tão enojados com isso.”
“Para os palestinos-americanos, esta é uma questão fundamental”, disse o sociólogo Eman Abdelhadi ao Democracy Now! na marcha. “Passamos 10 meses vendo nosso povo morrer todos os dias e nos pedir para simplesmente esperar e esperar que alguma mudança aconteça… é ofensivo e completamente insensível.”
Taylor Cook, um organizador da Organização Socialista Freedom Road, viajou de Atlanta para a marcha. “Estamos dizendo a Kamala, ela foi cúmplice disso. As pessoas pensam que é apenas Joe Biden, mas ela é vice-presidente”, disse Cook. “Então, estamos dizendo, você precisa parar se quiser nosso voto.”
Antes da marcha, o candidato presidencial independente Cornel West se dirigiu à multidão, que o recebeu com aplausos. “Não se trata de uma política maquiavélica ou de algum cálculo utilitário sobre uma eleição”, gritou ele ao microfone. “Trata-se de moralidade. Trata-se de espiritualidade.”
Além da melancólica despedida de Biden, o primeiro dia de convenção também mostrou a reaparição de múmias como Hillary Clinton, a favorita de Wall Street, e o costumeiro desfile de ativistas, lobistas e personalidades.
Harris fez uma aparição surpresa na primeira noite da Convenção em Chicago, onde, em breves comentários, agradeceu a Biden por sua “liderança histórica” e “vida inteira de serviço”.
O ativista pelos direitos civis e pré-candidato presidencial democrata em 1984 e 1988, Jesse Jackson, de 82 anos, foi aclamado na Convenção de Chicago, ao entrar no palco em uma cadeira de rodas. Também foi muito aplaudida a deputada Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) ao dizer que Trump “venderia o país por um dólar”.
Tentando deixar para trás Biden, a convenção será marcada por conclamações à “alegria” – mote da campanha de ressurreição democrata para novembro e que busca ignorar os quatro anos de Harris como uma vice insossa e incompetente, mas que tem como fator objetivo a rejeição, agora concentrada em Trump, após a derrocada de Genocide Joe.
E, claro, o discreto pavor de que se repita Chicago 1968, quando Lindon Johnson renunciou à reeleição sob os protestos contra a Guerra do Vietnã e furor pelos assassinatos de Martin Luther King e Bob Kennedy, a pancadaria comendo solta contra os manifestantes ao vivo pela tevê, e o então entronizado Hubert Humphrey, na época o candidato da “alegria” e da continuação da guerra, conseguindo a façanha de perder para Richard Nixon.
Fonte: Papiro