Genocídio de Netanyahu em Gaza, com armas dos EUA, supera marca infame de 40 mil mortos
Na quinta-feira (15) o mundo recebeu, perplexo, a notícia de que o genocídio perpetrado por Israel no maior campo de concentração a céu aberto do mundo, a invadida Gaza, alcançou, sob a cumplicidade e fornecimento de bombas e mísseis por Washington ao carniceiro Netanyahu, a marca dos 40 mil assassinados – na maioria, mulheres e crianças.
“Um marco sombrio para o mundo inteiro”, consternou-se em Genebra o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk. Em média, aproximadamente 130 pessoas, todos os dias, durante os últimos 10 meses, ele observou, classificando como “profundamente chocante” a magnitude da destruição de casas, hospitais, escolas e locais de culto pelo exército de ocupação.
Em julho essa “magnitude” podia ser avaliada pela estimativa de 40 milhões de toneladas de destroços que se espalham no enclave inteiro – uma quantidade de detritos que praticamente dobrou desde março. Ou por quase todos os moradores já terem sido tangidos de suas casas sob tiro ou ameaça de tiro, uma espécie de Nakba 2.0.
No sábado passado, a chacina na escola al Tabain, na Cidade de Gaza, havia somado mais 100 corpos para que fosse alcançado esse recorde macabro de 40 mil. “A área da escola está repleta de cadáveres e partes de corpos”, disse o porta-voz dos socorristas, Mahmoud Basal. “É muito difícil para os paramédicos identificarem um cadáver inteiro. Há um braço aqui, uma perna ali. Os corpos estão despedaçados. As equipes médicas ficam impotentes diante dessa cena horrível.”
É assim que o genocídio chegou a esses 40 mil. Mas em Al Tabain há um detalhe: no ataque, ao amanhecer do dia, foram despejadas bombas GBU-39 de quase meia tonelada, fabricada pela Boeing, e que tem revestimento de urânio depletado, com os estilhaços despedaçando corpos como se fosse uma serra elétrica. A bomba explodiu sobre a sala de oração da escola, com partes de corpos espalhados até o telhado e até o pátio.
Como ensinavam os facínoras nazistas em sua matança em escala industrial, é preciso “método” na insanidade. “O exército israelense estabeleceu um padrão para sua campanha genocida. Primeiro bombardeia bairros civis, enviando pessoas aterrorizadas para abrigos como escolas e hospitais. Em seguida, anuncia ordens de evacuação geral de uma área inteira, forçando as pessoas nesses abrigos a viverem com medo, já que muitas delas não têm os meios para deixá-los e ir para outros lugares. Depois de dar essas ordens de evacuação, Israel bombardeia os abrigos protegidos, inclusive hospitais e escolas, com o argumento de que são alvos militares. Essa fórmula foi aplicada na Cidade de Gaza e em outras partes de Gaza”, assinalou o Common Dreams.
Outros dois crimes de guerra trouxeram nomes e sobrenomes, dramas pessoais e tragédias intransferíveis, a essa marcha para os 40 mil mortos. Rim, a bebê de 3 meses que foi a única sobrevivente de um bombardeio que matou os dez membros de uma família em Abasan, no leste de Khan Yunis na terça-feira (13). “Esta menina foi retirada dos escombros. Toda a sua família está morta, incluindo a mãe. Quem vai amamentá-la?”, questionava Ibrahim Barbakh, um residente de Khan Yunis, com a bebê nos braços.
Em Deir al Balah, gêmeos recém nascidos foram mortos por outro bombardeio israelense, mais a mãe e avó, enquanto o pai estava no cartório registrando-os. Uma menina, Aysal, e seu irmão, Aser, com apenas quatro dias de idade. O vídeo compartilhado nas redes sociais mostra Mohammed em estado de choque sendo consolado por outras pessoas, enquanto alguém segura o que parecem ser certidões de nascimento. “Disseram-me que foi um projétil que atingiu a casa”, diz o transtornado pai. Seus gritos se silenciam, ele parece desmaiar e outros dois homens tentam segurá-lo. A família havia sido forçada a se deslocar do norte de Gaza e se abrigado em Deir al Balah.
Os “40 mil do genocídio” foram atingidos, coincidentemente, três dias após as comemorações dos 75 Anos das Convenções de Guerra de Genebra, há dez meses violadas massivamente em Gaza, nas quais, como de hábito, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, atreveu-se a emitir considerações vadias sobre “nosso firme compromisso de respeitar o direito humanitário internacional e mitigar o sofrimento em conflitos armados”.
Às quais a deputada democrata Rashida Tlaib reagiu, indagando se isso era “uma piada?”. “Você apoiou o envio de mais bombas fabricadas nos EUA sendo usadas para cometer crimes de guerra. O governo de Israel bombardeou hospitais, escolas e tendas cheias de palestinos deslocados. Como você pode dizer que é a favor de respeitar as leis internacionais de direitos humanos?”
Ela acrescentou que as Convenções de Genebra de 1949 “consagram proteções para populações vulneráveis durante conflitos armados, incluindo soldados feridos e socorristas, prisioneiros de guerra e civis. Eles incluem proibições de tortura e ataques a hospitais, e determinam que as potências ocupantes forneçam alimentos e suprimentos médicos às populações civis. Apesar disso, Israel tornou tão difícil levar suprimentos para Gaza que a fome se espalhou por todo o território. Na semana passada, surgiram relatos de que palestinos sob custódia israelense foram submetidos a abusos sistemáticos, incluindo estupro. E Israel tem usado rotineiramente armas dos EUA para atingir áreas civis e infraestrutura em Gaza.”
E concluiu: “o resto do mundo passou os últimos 10 meses defendendo o Direito Internacional Humanitário de nós.”
Dias antes das festividades de Genebra, o governo Biden aprovou US$ 3,5 bilhões em novos fundos militares para Israel, bem como novos carregamentos de armas. “Poucas pessoas fizeram mais para tornar as Convenções de Genebra letra morta”, escreveu o autor Hari Kunzru em resposta à mensagem de Biden dos 75 anos de Genebra.
Em julho, a Reuters havia dimensionado a contribuição direta dos EUA no genocídio de Israel em Gaza, registrando que o governo Biden enviou a Israel mais de 14.000 bombas de quase 1 tonelada – usadas contra uma das áreas de maior densidade populacional do planeta -, 6.500 bombas de 250 kg, 3.000 mísseis guiados Hellfire e 1.000 bombas destruidoras de bunkers, além de 2.600 bombas de pequeno diâmetro, são números fornecidos por autoridades norte-americanas falando sob anonimato à agência britânica.
Assim, pode-se dizer que o sangue de cada um dos mais de 40 mil palestinos mortos em Gaza pelos bombardeios coloniais israelenses, ou quase 100 mil feridos, está indelevelmente marcado nas mãos de Biden e de seus principais auxiliares no Pentágono e na política externa.
Cada uma dessas 14.000 bombas de 1 tonelada, quando lançada em um quarteirão de uma cidade, danifica quase todos os edifícios dali, o que explica as fotos que mostram a devastação na Cidade de Gaza, Rafah ou Khan Younis.
São bombas que podem rasgar aço e concreto espessos. O raio de explosão desse artefato é de até 150 metros, sendo altamente letal até 75 metros. Em alguns casos, elas podem ser letais a até 1.200 metros de distância. Um dos usos mais notórios dessa classe de arma foi ataque de 31 de outubro que destruiu o campo de refugiados de Jabalia, matando ou ferindo mais de 400 pessoas.
O fato de que os EUA deram a Israel mais bombas de 1 tonelada do que todos os outros tipos de bombas e mísseis combinados evidencia que o objetivo de Washington era arrasar Gaza até o chão, como fez Netanyahu. Em janeiro, segundo a BBC, mais da metade dos prédios de Gaza haviam sido destruídos ou danificados, o que só se alastrou desde então.
A revelação do mix de bombas e mísseis fornecidos por Biden expõe a fraude completa das alegações da Casa Branca de que se oporia a “bombardeamentos indiscriminados contra civis”. A discussão surgiu quando, momentaneamente, Washington anunciou que retardaria a entrega de bombas pesadas, por causa de Rafah, então cercada por tropas israelenses.
De lá para cá, o governo Biden/Harris não parou de anunciar mais armas e mais dinheiro para o regime genocida de Netanyahu. Na terça-feira o governo Biden notificou o Congresso sobre a venda pendente de um novo pacote de armas que inclui dezenas de caças F-15, dezenas de milhares de morteiros de 120 mm, mais de 32.700 projéteis de tanques e 30 mísseis ar-ar avançados de médio alcance.
Sobre isso, a ex-diretora da divisão do Oriente Médio e Norte da África da Human Rights Watch, Sarah Leah Whitson escreveu que a venda de armas a Israel pelos EUA no dia do bombardeio à escola Al Tabin demonstrou um “condicionamento pavloviano para um exército selvagem”.
Desde outubro, o Congresso e o governo Biden aprovaram mais de US$ 14 bilhões em ajuda militar incondicional a Israel. Isso, além dos US $ 3,8 bilhões em ajuda armada anual que os EUA já dão.
“Israel usou armas fabricadas nos EUA em maio, quando massacrou famílias palestinas que se abrigavam em acampamentos em Rafah”, denunciou a Voz Judaica pela Paz (JVP), organização norte-americana que repudia Netanyahu e o genocídio, e pede o cessar-fogo.
“Israel usou armas fabricadas nos EUA quando bombardeou a escola al-Mutanabbi em Khan Younis no início de julho, matando mais de duas dúzias de palestinos deslocados que buscavam refúgio lá. E usou armas fabricadas nos EUA no sábado para assassinar mais de 100 palestinos enquanto eles oravam. Este é um genocídio perpetrado pelos EUA tanto quanto pelos israelenses.”
Em tempo: no dia em que em Gaza se chegou aos 40 mil mortos, na Cisjordânia mais de uma centena de fascistas israelenses, muitos deles encapuzados, acossaram uma aldeia palestina, mataram um morador a tiros e feriram gravemente outro, além de incendiarem casas e carros. O que até o presidente de Israel, Isaac Herzog, chamou de “pogrom na Samaria”. Para esses fascistas e ladrões de terra alheia, nada nem ninguém pode lhes tirar esse sacrossanto direito de perpetrar um pogrom quando der vontade.
Fonte: Papiro