Ricardo Leyser fala de políticas públicas para o desenvolvimento esportivo
Ricardo Leyser como ministro durante as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro
Em entrevista ao programa Entrelinhas Vermelhas, Ricardo Leyser, membro independente do Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e ex-ministro do Esporte no governo Dilma Rousseff, ofereceu uma visão detalhada sobre o impacto dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, comparando-os com os Jogos Paris 2024 e refletindo sobre o legado deixado pelo evento no Brasil.
A entrevista com o ex-ministro, conduzida pela editora do Portal Vermelho, Guioma Prates e pelo jornalista Inácio de Carvalho, oferece uma visão valiosa sobre os desafios e sucessos enfrentados pelo Brasil no contexto dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, destacando a importância de políticas públicas bem elaboradas e do apoio contínuo aos atletas para o desenvolvimento do esporte no país.
Assista a íntegra da nova edição do Entrelinhas Vermelhas:
Leyser destacou a complexidade e os desafios enfrentados pelo Brasil ao sediar os Jogos Olímpicos em comparação com Paris. Segundo ele, a diferença entre a capital francesa, uma cidade consolidada com uma longa história e uma infraestrutura bem desenvolvida, e o Rio de Janeiro, uma cidade tropical com uma infraestrutura ainda em desenvolvimento, é significativa. “Observar a diferença nos desafios enfrentados e nas soluções adotadas por cada cidade é crucial para entender a magnitude do que foi realizado no Rio de Janeiro”, afirmou Leyser.
Ele enfatizou que, apesar das comparações frequentemente desfavoráveis, o Rio de Janeiro apresentou um legado de transformações urbanas e melhorias na infraestrutura de transporte, como a nova linha de metrô e três corredores de ônibus. Esses investimentos proporcionaram um impacto muito mais direto e visível na vida cotidiana dos cariocas em comparação com os jogos em cidades mais desenvolvidas como Paris.
O legado do esporte no Brasil
Leyser também destacou como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos contribuíram para a expansão da cultura esportiva no Brasil. “O evento ajudou a ampliar o interesse do público em esportes antes menos populares no país, como tiro com arco, triatlo e ciclismo”, observou. Ele atribuiu esse crescimento à exposição que os atletas brasileiros ganharam e ao estímulo que os grandes eventos proporcionaram.
No entanto, o ex-ministro destacou que o sucesso do Rio 2016 não deve obscurecer a realidade dos desafios enfrentados por grandes eventos esportivos em qualquer cidade do mundo. Paris, mesmo com toda sua infraestrutura avançada, enfrentou problemas como a contaminação do Rio Sena e questões na gastronomia, que, segundo Leyser, evidenciam que até as cidades mais desenvolvidas podem encontrar dificuldades na organização de eventos dessa magnitude.
Políticas públicas e investimentos em esporte
Leyser fez questão de ressaltar a importância das políticas públicas e do investimento em esporte para o crescimento e sucesso dos atletas brasileiros. Ele mencionou a criação da Lei Agnelo-Piva em 2002 e do programa Bolsa Atleta, que desempenharam papéis cruciais na profissionalização e no suporte aos atletas.
“A Lei Agnelo-Piva estabeleceu um financiamento estável para o Comitê Olímpico e para o esporte paralímpico, o que foi fundamental para o desenvolvimento contínuo dos atletas brasileiros”, explicou Leyser. Ele também destacou o impacto positivo do Bolsa Atleta, que oferece suporte financeiro essencial para atletas em diferentes estágios de suas carreiras. “Hoje, cerca de 85% dos atletas brasileiros em Paris recebem recursos do Bolsa Atleta. Esse apoio é crucial para a manutenção do treinamento e para a eliminação de preocupações externas que podem afetar o desempenho”, acrescentou.
Legado do PCdoB no Esporte
Em relação à contribuição do PCdoB para o esporte brasileiro, Leyser mencionou o impacto positivo das políticas desenvolvidas durante o período em que o Partido teve papel de destaque no Ministério do Esporte. Ele elogiou a atuação de dirigentes e políticos associados ao PCdoB, como o deputado Agnelo Queiroz e os ministros Orlando Silva e Nádia Campeão, ressaltando que essas iniciativas ajudaram a estruturar e consolidar o esporte no Brasil.
Leyser argumentou que, apesar de o grande público talvez não reconhecer plenamente a contribuição do PCdoB, os principais gestores e atores do esporte no Brasil valorizam a importância das políticas públicas implementadas. Ele sugeriu que seria útil para o país escrever uma história detalhada sobre essa contribuição, para que o legado do PCdoB no esporte seja amplamente reconhecido.
Perspectivas futuras
Finalmente, Leyser abordou o potencial do Brasil para alcançar patamares mais altos no cenário esportivo global. Ele mencionou a importância da massificação do esporte e da formação de uma base sólida de atletas. “O Brasil precisa investir na base esportiva e garantir que haja programas estruturados para identificar e desenvolver talentos desde cedo”, afirmou.
Leyser enfatizou que o sucesso futuro dependerá de uma combinação de políticas públicas eficazes, investimento em infraestrutura e suporte contínuo para os atletas em todos os níveis. O desafio é grande, mas o legado das políticas implementadas até agora oferece uma base sólida para que o Brasil continue a crescer no cenário esportivo global.
(por Cezar Xavier)