A editora do Portal Vermelho foi a jornalista brasileira escolhida para discursar no Fórum de Cooperação de Mídia sobre Cinturão e Rota de 2024 realizado em Chengdu.

Nesta quarta-feira (28), a China realizou um dos maiores fóruns de cooperação de mídia da história, em um esforço para combater a desinformação e reafirmar seu compromisso com a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). O evento foi organizado pelo Diário do Povo, em Chengdu, capital da província de Sichuan, conhecida mundialmente pelo parque de preservação dos ursos pandas gigantes. A cidade, com 2,3 mil anos de história e mais de 20 milhões de habitantes, recebeu 200 executivos de mídia, editores e repórteres de 191 organizações em 76 países, além de autoridades, especialistas, acadêmicos e representantes empresariais. Representando o Portal Vermelho, a editora Guiomar Prates integrou a comitiva brasileira presente no evento.

Até o momento, 151 países aderiram à BRI. No Brasil, o projeto tem sido pauta nas discussões diplomáticas, especialmente por ser um membro dos BRICS. Em junho, o presidente Lula fez uso de uma metáfora futebolística para destacar a intenção do Brasil em “jogar no time principal” com a China. A expectativa é que a adesão formal do Brasil à BRI seja anunciada durante a visita oficial do presidente Xi Jinping ao país, prevista para novembro deste ano.

A editora do Portal Vermelho compartilhou suas impressões sobre os esforços do país asiático em promover o desenvolvimento sustentável, combater as fake news e fortalecer laços com outras nações, incluindo países da América Latina. Guiomar enfatizou o papel do governo chinês em mobilizar recursos e esforços em todos os níveis para alcançar esses objetivos. “A China, quando se propõe a fazer algo, envolve todo o Estado e governo nisso. É um esforço concentrado”. Ela ressaltou que a China está intensificando seu compromisso com a sustentabilidade, conforme evidenciado pelo projeto de carbono zero, que envolve grandes transformações urbanas em diversas regiões do país.

Guiomar também mencionou a parceria entre o Portal Vermelho e o Diário do Povo, destacando as coincidências entre as visões dos dois veículos de comunicação. “Temos uma linha de visão parecida, que inclui a promoção da paz, da democracia e do desenvolvimento soberano de cada país. Esse alinhamento é fundamental em um momento em que as narrativas conservadoras e neoliberais dominam a grande mídia.”

Discurso brasileiro

A editora do Portal Vermelho foi a jornalista brasileira escolhida para discursar no Fórum de Cooperação de Mídia sobre Cinturão e Rota de 2024 realizado em Chengdu.

Durante seu discurso no evento, representando os profissionais de imprensa do Brasil, Guiomar também ressaltou essas convergências. “A linha editorial do Portal Vermelho, em sua cobertura internacional, defende a paz mundial, a resolução pacífica das controvérsias, e a consolidação de uma nova ordem mundial multipolar que respeite a soberania das nações na busca por caminhos próprios de desenvolvimento e democracia, valores que consideramos consentâneos com os objetivos do Projeto um Cinturão e uma Rota”.

Guiomar ressaltou que o Fórum de Mídia representa uma oportunidade valiosa para o intercâmbio de experiências e o debate sobre os desafios enfrentados no atual cenário da comunicação global, especialmente com o avanço da Inteligência Artificial. Ela destacou que, para os países do Sul Global, o acesso a essa tecnologia ainda é limitado, o que agrava a dependência tecnológica dessas nações.

“A China tem a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento comum ao traçar a Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, não apenas no que diz respeito à economia, mas cooperando com os países do Sul Global para o acesso à tecnologia a fim de que se desenvolvam”, explicou durante o evento.

Desinformação sobre a BRI

A cúpula do Partido Comunista Chinês, juntamente com as administrações provincial e municipal, estiveram presentes em peso, somados a dirigentes de empresas e institutos. Durante a abertura, Wang Xiaohui, secretária da província de Sichuan, rebateu as fake news que circulam sobre a China, em especial a de que o país não conseguirá sustentar a BRI. Ela destacou que, mesmo com um crescimento de 5% em 2023, a China ainda superou em dobro o crescimento dos EUA e quatro vezes o da União Europeia.

Além dos avanços em sustentabilidade, Guiomar ressaltou em entrevista a preocupação da China com o combate às fake news, especialmente em relação à imagem do país no cenário global. “O combate às fake news também envolve o que acontece na China, informações que não são divulgadas no mundo. A China tem sido alvo de desinformação, e é importante que a verdade seja trazida à tona”, comentou.

Destacando o papel crucial da mídia na divulgação dos resultados do desenvolvimento e na facilitação da cooperação pragmática, os delegados pediram colaboração para contar histórias de cooperação vantajosas para todos da BRI e de sua contribuição para o mundo. A mídia também deve abordar os desafios impostos pela tecnologia da informação, promover a conectividade e aprimorar suas capacidades digitais e inteligentes, disseram eles. 

Foto: Diário do Povo Online

Durante o evento em Chengdu, Guiomar observou a presença de altos representantes do governo chinês e de diversos países, destacando a importância dada ao desenvolvimento sustentável e à cooperação internacional. “Foi impressionante ver a presença de praticamente todos os ministros chineses, que falaram sobre os projetos em suas respectivas áreas, como transporte, economia verde e saúde. A China está muito preocupada em desenvolver uma nova indústria da saúde, entre outras transformações.”

A cerimônia de abertura contou com a presença de Li Shulei, membro do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e Ministro do Departamento de Publicidade do Comitê Central do PCCh, que proferiu um discurso ressaltando a importância da iniciativa Cinturão e Rota, lançada em 2013 pelo presidente Xi Jinping. Desde então, a cooperação internacional entre os países participantes tem gerado resultados significativos, promovendo desenvolvimento e parcerias em diversas áreas.

Durante o fórum, os participantes enfatizaram o papel crucial da mídia como uma janela para mostrar os resultados do desenvolvimento e como um elo para promover a cooperação prática. Além das discussões e palestras, o fórum também contou com uma exposição sobre as conquistas da construção conjunta da BRI e a terceira Reunião do Conselho da Rede de Notícias do Cinturão e Rota. Os jornalistas internacionais presentes terão a oportunidade de visitar várias regiões de Sichuan para conhecer de perto alguns dos projetos-chave da Nova Rota da Seda.

O Fórum de Cooperação de Mídia Cinturão e Rota 2024 reforçou o compromisso dos participantes em aprofundar a cooperação midiática, promover o entendimento e a amizade entre os povos, e enfrentar juntos os desafios globais, em um momento crucial para a comunicação internacional.

Além disso, foi divulgada a “Iniciativa de Cooperação Midiática de Chengdu ‘Cinturão e Rota’”, e realizada a terceira reunião do conselho da Aliança de Cooperação de Notícias da Cinturão e Rota. O evento também incluiu um sub-fórum dedicado à colaboração entre meios de comunicação social da Iniciativa Cinturão e Rota, onde foram discutidas formas de potencializar a sustentabilidade urbana e a criação de cidades-parque, temas relevantes para o desenvolvimento global.

Ganha-ganha

Lançada em 2013 pelo presidente Xi Jinping, a Iniciativa Cinturão e Rota visa estimular o crescimento global por meio de investimentos em infraestrutura, conectividade e cooperação econômica entre países ao longo das antigas rotas da Rota da Seda. Este vasto projeto abrange a construção de rodovias, ferrovias, portos e outras instalações, além de parcerias em diversos setores como agricultura, saúde, energia e intercâmbio cultural.

Os líderes chineses ressaltaram que a BRI é um projeto pessoal de Xi Jinping e simboliza a abertura da China ao mundo. Repetidamente, foi destacado que o projeto é um “ganha-ganha” para todos os países participantes, e que a adesão é voluntária. “Estamos numa década de ouro e queremos promover o bem-estar da humanidade”, afirmou Wang Xiaohui.

O exemplo de Chengdu

Chengdu, conhecida como a capital dos pandas gigantes, foi escolhida como sede do fórum devido à sua crescente importância como centro de conectividade internacional. A cidade, que passou de um interior isolado a um hub internacional, exemplifica os avanços proporcionados pela iniciativa Cinturão e Rota, com 72 linhas aéreas internacionais regulares e conexões ferroviárias que ligam a China a 112 cidades estrangeiras.

Chengdu, escolhida para sediar o evento, desempenha um papel central na BRI. A cidade passou de uma região isolada a um hub de abertura internacional, conectando-se ao mundo por meio de 72 linhas aéreas internacionais e uma extensa rede ferroviária que liga 112 cidades estrangeiras. Com dois aeroportos internacionais e 23 consulados estrangeiros, Chengdu se tornou um ponto crucial na implementação da BRI.

Iniciativa de integração global

A Iniciativa Cinturão e Rota, inspirada na antiga Rota da Seda da Dinastia Han, visa conectar a Ásia com a África e a Europa através de redes terrestres e marítimas ao longo de seis corredores. A BRI é composta pelo Cinturão Econômico da Rota da Seda, uma rede de rotas terrestres que conecta a China com a Europa, e a Rota da Seda Marítima do Século 21, que desenvolve portos e rotas marítimas para facilitar o comércio e o transporte de mercadorias.

O Banco Mundial estima que a BRI pode aumentar o fluxo comercial nos países participantes em 4,1%, reduzir o custo do comércio global em até 2,2%, e aumentar o PIB dos países em desenvolvimento da Ásia Oriental e Pacífico em até 3,9%. Consultores do Centro de Pesquisas Econômicas e Empresariais (CEBR) preveem que a BRI pode aumentar o PIB mundial em US$ 7,1 trilhões por ano até 2040, com benefícios abrangentes à medida que a infraestrutura melhorada reduz as barreiras ao comércio global.

O evento em Chengdu reforça a ambição da China de posicionar a BRI como uma força motriz para o desenvolvimento global, enquanto continua a enfrentar desafios de desinformação e resistência internacional.

(por Cezar Xavier)