Manifestação em Londres contra o racismo da extrema-direita | Foto: Reprodução

Dezenas de milhares de manifestantes marcharam por toda a Grã-Bretanha neste final de semana com a determinação de “esmagar o fascismo e o racismo” e conter a violência anti-imigrantes escarrada pela ultradireita e sua mídia. A violência racista, particularmente o islamofóbico, ganhou volume nas duas últimas semanas depois do tétrico assassinato de três meninas em uma aula de dança em Southport, explorado por ultradireitistas para incitar agressões e quebradeiras contra os imigrantes.

Com o preconceito e o segregacionismo instilados pela ultra-direita, centros de imigração e mesquitas também passaram a ser alvos, enquanto crimes de ódio contra muçulmanos crescem em frequência na Inglaterra.

Em rechaço aos distúrbios realizados por neonazis, mais de cinco mil pessoas lideradas por dirigentes comunitários, sindicalistas e ativistas dos movimentos sociais e dos direitos humanos marcharam pela movimentada área de Westminter, próxima ao Palácio de Buckingham, em Londres, e tomaram a frente da sede do partido da ultradireita Reform, para expressar o profundo rechaço aos distúrbios que atingem imigrantes e religiosos muçulmanos. Bandeiras da Palestina tremularam, expressando solidariedade aos atingidos pelo regime de apartheid israelense.

O movimento de solidariedade comemorou o êxito obtido em cidades como Edimburgo, Cambridge, Glasgow, Exeter, Sheffield, Liverpool, Newcastle, Hastings, Oxford, Manchester e outras áreas de Londres, além do centro da cidade, que elevou o número total de manifestantes antirracistas a dezenas de milhares.

“A retórica constante sobre ‘parem os barcos’, pintando a imigração como um problema nacional, e os refugiados e muçulmanos como se culpados pelos problemas da sociedade: tudo isso é retórica que foi replicada nos atos repulsivos de extrema direita”, afirmou Samira Ali, liderança nacional do Stand Up to Racism (Levante-se contra o Racismo), movimento que comanda os protestos. Conforme a dirigente, “foi isso o que criou a atmosfera tóxica na qual a extrema-direita tenta se construir”.

Uma equipe do canal de notícias britânico GB News, em que o ultraconservador Nigel Farage tem coluna cativa, foi vista no protesto, provocando reações e gritos de “GB News fora de nossas ruas!”.

Em Belfast, capital da Irlanda do Norte, 15.000 pessoas expressaram seu posicionamento pelos direitos humanos e pela solidariedade. “Quando os direitos dos migrantes estão sendo atacados, o que fazemos? Levante-se e responda com luta”, entoaram.

A vereadora de Knowsley, Chantelle Lunt, denunciou há alguns dias que seu filho e marido foram perseguidos e ameaçados de morte por um bandido da ultradireita. “A comunidade estendeu a mão com amor e solidariedade, e a solução para esse ódio sempre estará em nossas comunidades. Temos que nos unir. Não consigo entender como vivemos agora em um mundo onde meu filho sofreu um racismo pior do que eu sofri nos anos 80 e 90”, condenou.

O presidente do Sindicato dos Serviços Públicos e Comerciais (PCS), Martin Cavanagh, convocou os trabalhadores a se unirem e respaldar um movimento mais amplo para enfrentar o ódio fomentado por uma orientação política que “vende uma agenda de cortes” nos recursos públicos e na atenção a quem mais necessita. “Então, quando assumimos a luta contra os fascistas também temos que assumir a vontade de educar, de deixar claro que não são as pessoas que vêm a este país em busca de refúgio que são o inimigo: sempre serão os exploradores da mão de obra e esse estado capitalista”, acrescentou

Em Manchester, mais de 3.000 pessoas se reuniram em Piccadilly Gardens, onde um homem negro havia sido atacado na semana passada durante um comício de extrema direita com o slogan “Defenda seu país”. Outras mil foram às ruas de Newcastle, superando o grupelho de provocadores da extrema direita.

Centenas de manifestantes defenderam a palavra de ordem da ajuda mútua, atendendo à convocação do Enfrente o Racismo em Hull, onde vândalos haviam saqueado e lançado bombas do lado de fora de um hotel que abrigava pessoas que buscam asilo.

Na Escócia, na sexta-feira, trabalhadores de Paisley e Bathgate se reuniram para defender alojamentos que abrigam imigrantes. Em Paisley, centenas de pessoas se concentraram no estacionamento do Watermill Hotel, defendendo as pessoas que estavam hospedadas e fechando o acesso a bandidos que bradavam histéricos slogans racistas desde o outro lado da rua.

A participação sólida em Paisley e Bathgate não prejudicou o grande número de manifestantes que compareceram aos eventos por toda a Escócia no fim de semana.

Sintetizando o espírito coletivo que passou a tomar conta das ruas, Weyman Bennett, organizador do Stand Up to Racism, disse: “O que ocorreu nas ruas nestes dias, mostra que podemos virar a maré contra a extrema-direita e os racistas. Em todo o país, as pessoas se uniram, se organizaram e marcharam para enviar uma mensagem clara: a extrema direita não é bem-vinda. Não deixaremos que ataquem muçulmanos, migrantes e refugiados. Nossa mensagem é de esperança, solidariedade e unidade”.

Fonte: Papiro