Lula e Boulos durante convenção eleitoral. Foto: Ricardo Stuckert

A imagem de Jair Messias Bolsonaro (PL) não anda muito boa em São Paulo, situação que tem contaminado a campanha pela reeleição de seu apadrinhado, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). A cidade tem importância central para as eleições de 2026 e, também por isso, tem uma das disputas municipais mais nacionalizadas e acirradas do país neste ano. Neste contexto, a rejeição ao padrinho pode ser determinante para o resultado do pleito. 

Segundo pesquisa feita pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) e divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (25), em uma simulação de segundo turno, Guilherme Boulos (PSol) cresce dez pontos percentuais quando associado a Lula, enquanto o apoio de Bolsonaro faz com que o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) perca cinco. 

Dessa forma, Boulos, que teria 36% das intenções de voto no segundo turno, passa a ter 46% quando é apresentado como o candidato de Lula. Já Ricardo Nunes, que teria 43%, vai para 38% quando é dito que ele é o nome defendido pelo ex-presidente para a prefeitura. 

No caso do peso dos vices, a vantagem também é de Boulos. Marta Suplicy (PT) faz a preferência pelo psolista sair de 36% para 46% quando é dito que compõe sua chapa, ao passo que o coronel Ricardo Mello Araújo (PL) faz as intenções de Nunes caírem de 43% para 36%. 

Pelas redes, Boulos comentou o efeito-Lula: “Tenho muito orgulho de receber o apoio do melhor presidente que este país já teve e a confiança da população de São Paulo!”. Nada consta nos principais perfis do prefeito sobre o assunto.

Esses efeitos podem ter muitas razões, mas cabe ponderar que na capital paulista, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bateu Jair Bolsonaro nas urnas no segundo turno de 2022 (53% a 46%). Da mesma forma, o atual ministro da Fazenda e ex-prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), venceu o bolsonarista Tarcísio de Freitas (REP) na disputa pelo governo, por 54% a 45%. 

Além disso, Bolsonaro está bastante encalacrado com a Justiça, o que pode influenciar o eleitor mais à direita que não seja exatamente um “bolsonarista raiz” — para quem todos os ilícitos levantados sobre o Messias não passam de perseguição política. 

No começo deste mês, o ex-presidente e outros 11 nomes do seu entorno foram indiciados, pela Polícia Federal, por apropriação ilegal de joias milionárias presenteadas ao Estado brasileiro. Neste caso, Bolsonaro responderá pelo crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. 

Em março, Bolsonaro já havia sido indiciado por fraude na carteira de vacina contra a Covid-19. Os crimes em questão são o de inserção de dados falsos em sistema de informações e novamente o de associação criminosa. 

E, conforme noticiado recentemente, o relatório da investigação sobre a articulação de Bolsonaro e militares para viabilizar um golpe de Estado pode ser finalizado em agosto. Soma-se a tudo isso uma série de outros possíveis crimes e ilícitos ainda sob investigação. 

Talvez esse cenário, mais adverso do que o desejável para um candidato numa disputa tão acirrada, esteja na raiz da subida de tom dos ataques de Nunes a Boulos. Nesta segunda (22), o atual prefeito o chamou de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”. 

Pelas redes sociais, Boulos respondeu: “Ricardo Nunes me atacou pessoalmente, ontem e hoje, com fake news vergonhosas. A cada mentira, revela mais pra São Paulo sua estatura moral e despreparo. Sem falar no desequilíbrio emocional incompatível com o cargo de prefeito da maior cidade do país. Faz de tudo para agradar seu novo chefe político, Bolsonaro”. Resta saber se, para Nunes, tamanho alinhamento ainda é interessante.