Convocado pelas centrais sindicais e movimentos sociais, ato tomou o centro de Buenos Aires | Foto: CTAA

Dezenas de milhares de pessoas ocuparam a Plaza de Mayo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira (7 de agosto), Dia de São Caetano, para exigir uma política de emprego e renda, e denunciar o aumento vertiginoso da desigualdade e o corte dos programas sociais praticado pelo por Milei.

Liderados pelas centrais sindicais e movimentos sociais, com a participação de religiosos, os manifestantes alertaram para a queda abrupta na renda, o que fez com que 54,6% da população fosse jogada na pobreza e na miséria. Houve também alertas para o violento corte nos programas sociais, o fato dos ministérios se negarem a entregar alimentos para a população carente e a queda nas contribuições do Bolsa Família e do Cartão Alimentação.

As igrejas se somaram ao evento logo pela manhã fazendo a bênção das ferramentas de trabalho, próximo à igreja de Liniers, com o padre Gustavo Carrara, indicado bispo pelo Papa Francisco, e o arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, Jorge García Cuerva. No palco, em homenagem à estátua da Nossa Senhora de Luján, uma banda começou a tocar a marcha peronista.

Destoando com o tom ecumênico, Milei fez com que mais de 300 policiais fortemente armados e com escudos, buscassem intimidar os manifestantes que foram mantidos cercados em duas colunas de infantaria, com barreiras e veículos.

Coordenador da Federação Nacional Territorial e secretário de Ação Social da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA-Autônoma), Omar Giuliani, recordou que “nesta celebração de São Caetano, padroeiro do pão e do trabalho, estamos recuperando com o movimento popular o lema de ‘pão, teto, terra e trabalho’ ”. “Acreditamos que a religiosidade, juntamente com a unidade do campo popular, é uma forma de construir resistência contra este governo neofascista que tenta matar o nosso povo”, enfatizou.

O secretário-geral da CTA-Autônoma, Hugo Godoy, recordou que em oito meses de Milei e seu governo por decreto “houve a duplicação da pobreza e hoje são oito milhões e meio de pessoas”. “Está favorecendo grandes grupos econômicos e já não lhes basta a destruição do Estado, mas a fuga de capitais e do ouro das nossas reservas, a devastação de todas as necessidades dos setores populares”.

O secretário-geral da CTA-T (dos Trabalhadores) e deputado nacional, Hugo Yasky, apontou que o país “sofre como nunca antes um processo de fome de seu povo”. De um lado, demarcou, “o lucros dos poderosos, os rendimentos extraordinários”, enquanto do outro “está a fome, a falta de emprego e de assistência social”. O governo aplica uma política implacável de ajuste fiscal, protestou, “e o faz de uma forma que mostra toda a sua insensibilidade”.

Com um boneco gigante com um cartaz no pescoço ridicularizando o monstro neoliberal, a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE) enfatizou: “Sem paz, nem pão, teto nem trabalho”. Rodolfo Aguiar, secretário-geral da ATE, destacou a unidade expressa pelo movimento e “o elevado cumprimento da greve nacional dos servidores, contando com mais de 90% de adesão”. “Isto mostra o elevado consenso entre os trabalhadores para exigir que Milei nos devolva todos os empregos e o salário que nos tirou com a sua política de superávit fiscal”, esclareceu.

Uma delegação do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, liderada por secretário de Desenvolvimento Comunitário, Andrés Larroque, e pelo secretário de Governo, Carlos Bianco, respaldou o protesto junto a um grupo de prefeitos.

Conforme Pablo Moyano, líder da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), “a fome e a pobreza crescem cada vez mais, por isso este dia de união nas ruas é tão importante”. “Com esta casta que nos governa, a Argentina não tem destino. Este é um governo que ataca os trabalhadores e devemos enfrentá-lo nas ruas e formar uma grande frente nacional para o próximo ano, que nos permitirá ter maioria em ambas as câmaras. Temos que acabar com isso, nas ruas e no Congresso Nacional”, acrescentou.

Representando a Mãe das Praças de Mais (Linha Fundadora), Taty Almeida disse que “se a fome é um crime, quem esconde comida é criminoso”, repudiando a prática do governo de Milei e entoando: “entregue a comida!”. O ativista e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, se somou ao rechaço e lembrou que “estamos sofrendo uma guerra silenciosa, quando a fome tem consequências”.

O dirigente da União dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular (UTEP), Alejandro “Peluca” Gramajo reiterou que com Milei, “estão nos empurrando para a pior crise humanitária que já vivemos”. Por isso, destacou a necessidade de “manter a unidade para voltar a ser governo e construir tendo foco nas pessoas humildes e trabalhadoras”. Diante deste momento crítico, concluiu, “acreditamos que venceremos esta batalha com a força da união e da solidariedade”.

Simultaneamente ao protesto realizado na capital, a população foi às ruas em Misiones, Jujuy, La Rioja, Chaco, Corrientes, Santiago del Estero, Córdoba, Santa Fé, San Juan, San Luis, Río Negro, Entre Ríos e Tierra del Fuego, congregando a mesma frente de centrais sindicais, movimentos sociais e religiosos.

Fonte: Papiro