Rede Al Jazeera divulga desenhos do palestino Al Katib, que mostra os tipos de tortura utilizados por Israel | Foto: Reprodução

Desde o início da guerra em Gaza, as prisões e centros de detenção de Israel se tornaram centros de tortura sob o comando do ministro de Segurança Nacional, o fascista Itamar Ben Gvir, aponta um relatório publicado na terça-feira, 6 de agosto, pela organização israelense de direitos humanos B’Tselem.

O jornal israelense Haaretz informa que o documento, intitulado “Bem-vindo ao Inferno”, divulga depoimentos de 55 palestinos que coletivamente denunciam uma “política sistemática e institucional de abuso e tortura de palestinos em prisões israelenses”.

O relatório lista pelo menos 60 casos de morte de prisioneiros palestinos desde o início da guerra, incluindo 48 prisioneiros de Gaza que morreram em centros de detenção do exército e 12 que morreram sob custódia do Serviço Prisional.

Os palestinos descreveram torturas, incluindo estupro, violência, humilhação, fome e negação de tratamento médico adequado, nas mãos dos guardas israelenses que tomavam conta dos locais de detenção.

“Eles amarraram nossas mãos atrás das costas com braçadeiras de plástico e então arrastaram cada um de nós à força para o corredor. Da cela, ouvi o choro e os gritos dos detentos que foram levados diante de mim e espancados”, relatou um prisioneiro identificado como AH, que estava detido na Prisão de Ketziot.

“Quando cheguei ao refeitório, vi os outros prisioneiros da minha cela lá. Todos estavam completamente nus e sangrando. Eles os jogaram um em cima do outro”, assinalou, acrescentando que os guardas forçaram os prisioneiros a amaldiçoar suas próprias mães, amaldiçoar o Hamas e seu líder Yahya Sinwar, beijar a bandeira israelense e cantar o hino nacional de Israel.

AH disse que foi então despido por dois guardas. “[Eles] me jogaram em cima dos outros prisioneiros. Um dos guardas trouxe uma cenoura e tentou enfiá-la no meu ânus. Enquanto ele tentava enfiar a cenoura, alguns dos outros funcionários me filmaram com seus celulares. Eu gritei de dor e horror. Continuou assim por cerca de três minutos”, revelou, esperando que as barbaridades, mantendo sua privacidade, fossem expostas para que a sociedade conheça os israelenses que se assemelham aos fascistas que dizem combater.

O Haaretz observa ainda que o relatório do B’Tselem inclui “testemunhos adicionais descrevendo espancamentos nos órgãos genitais, uso de cassetetes e ferramentas de metal, fotografia de prisioneiros nus e realização de revistas corporais ofensivas”.

Dados do Serviço Prisional mostram que 9.881 palestinos estavam detidos em prisões israelenses em 1º de agosto. Destes, 3.432 eram presos administrativos mantidos sem acusação ou julgamento e 1.584 estavam detidos sob a Lei de Combatentes Ilegítimos, que permite ao Estado mantê-los sem acusação ou acesso a um advogado por períodos prolongados.

 “Cada membro da Nachshon [unidade de transporte de prisioneiros] segurava um detento e outro segurava um cachorro e o deixava nos atacar. O cachorro tinha uma focinheira de metal, e o guarda ficava afrouxando a guia e depois puxando-a para trás. Era muito assustador. Toda vez que eu tentava me afastar do cachorro, o guarda me chutava forte nas pernas, e outro guarda me agarrava pelos testículos e me empurrava para frente com força enquanto me xingava. Eu estava muito bravo e me senti extremamente humilhado na frente dos outros detentos”, disse outro prisioneiro, Thaer Halahleh, de 45 anos, da vila de Kharas, na Cisjordânia.

O relatório inclui depoimentos adicionais descrevendo o uso de spray de pimenta, granadas de efeito moral, paus, porretes de madeira e metal, tasers, ataques de cães e espancamentos para atacar prisioneiros.

O jornal britânico The Guardian publicou que Musa Aasi, um pintor de 58 anos e pai de quatro filhos, relatou que ouviu guardas espancarem outro prisioneiro, Thaer Abu Asab, de 38 anos, até a morte em uma cela vizinha, em Ketziot. Já o prisioneiro Firas Hassan, de 50 anos, de Belém, disse que ouviu um guarda falar: “Estamos transmitindo isso ao vivo para o ministro Ben Gvir.”

O porta-voz de Ben Gvir disse que o ministro estava “orgulhoso” de sua política prisional, alegando que ela estava de acordo com o direito internacional.

O relatório do B’Tselem foi divulgado após um incidente em 29 de julho, no qual oito soldados do exército israelense foram presos pela polícia militar por terem estuprado um prisioneiro palestino no campo de detenção de Sde Teiman, fato que não teve como ser abafado. Policiais militares prenderam as bestas israelenses e uma turba fascista invadiu a base militar de Sde Teiman na tentativa de soltá-los.

Fonte: Papiro