Premiê de Bangladesh foge em meio a protestos de multidões e governo interino assume
O premiê interino de Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, dissolveu o parlamento nesta terça-feira, atendendo as demandas dos estudantes e abrindo caminho para a formação de um governo provisório, que promete convocar eleições para um novo governo.
A decisão foi tomada depois que multidões de estudantes se manifestaram contra o sistema de quotas para cargos públicos com critérios que favoreciam candidatos com conexões com o partido governista. A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, depois de semanas de protestos de estudantes indignados com a medida, fugiu de helicóptero para a Índia. Hasina governou Bangladesh durante 15 anos.
As condições de vida no país tiveram sensível piora em 2023 e 2024, com a taxa de desemprego aumentando em 3,51% no primeiro trimestre de 2024 com relação ao nível de desemprego de 2023, o que significou um total de 240 mil trabalhadores desempregados no primeiro trimestre.
A isso se soma o corte nos subsídios ao combustível e falta de uma política pública de investimentos ou que tornasse o crédito mais acessível. Segundo o Instituto de Bangladesh de Estudos sobre Desenvolvimento, 66% dos graduados em universidades do país estão sem emprego, uma vez que a maioria dos postos são os não especializados, particularmente na indústria de confecções, a serviço de corporações estrangeiras, ou na agricultura.
Os trabalhadores na indústria de confecções de Bangladesh ficaram conhecidos por enfrentarem locais de trabalho superlotados e inseguros, apesar do país ser um dos principais fornecedores destes produtos em todo o mundo para as grandes corporações do setor, com salários entre os mais baixos do Planeta.
O salário mínimo estava em torno de 430 reais, no início de 2023, quando os sindicatos do setor puxaram grandes manifestações por um salário mínimo de 1.376 reais, reivindicação não atendida. O aumento irrisório fez o mínimo chegar a 469 reais.
Em 2013, o incêndio na fábrica Rana deixou 1.100 trabalhadores mortos, o que chamou a atenção para as condições de trabalho do setor que produz roupas para redes tais como H&M e Zara.
O governo de Bangladesh inicialmente tentou reprimir violentamente os protestos deixando mais de 300 mortos, o que inflamou ainda mais a indignação do povo, que acabou por invadir a residência da primeira-ministra e outros prédios ligados à família de Hasina e ao partido governista.
O presidente interino também liberou a líder da oposição, Khaleda Zia, da prisão domiciliar. Zia foi condenada por corrupção pelo governo de Hasina em 2018.
O chefe do exército de Bangladesh, o Gen. Waker-uz-Zamam, depois da fuga de Hasina, anunciou que irá temporariamente assumir para a formação de um governo interino que irá realizar novas eleições.
Em declaração lançada com a fuga de Hasina, o Partido Comunista de Bangladesh conclamou à continuação do movimento “até que os direitos democráticos sejam plenamente conquistados”.
Para o PC de Bangladesh, o afastamento da premiê é uma vitória, mas “a vitória do povo não pode ser apropriada por setores de uma elite desacreditada”.
Apesar de todos estes problemas enfrentados pelo povo de Bangladesh, o marechal da reserva indiano, Muthumanikam Matheswaran (que em declarações de abril de 2023 considerou os sistemas de defesa S-400 da Rússia mais confiáveis que os norte-americanos), afirma que “o principal fator dos protestos que estão atingindo Bangladesh é o envolvimento encoberto dos Estados Unidos que, assim, se livraram de uma figura independente nessa região”.
“Acho que o principal fator foi o fato de os EUA considerarem Hasina muito próxima da China, ignorando a sua amizade com a Índia. Mas Hasina era vista como uma candidata independente. Os EUA atingiram seu objetivo ao tirá-la do poder”, disse Matheswaran em uma entrevista à Sputnik.
Fonte: Papiro