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Mais de 250 escritores, artistas e intelectuais se uniram para denunciar a censura sofrida pelo escritor Jeferson Tenório, autor do livro “O Avesso da Pele”, vencedor do Prêmio Jabuti de Romance Literário em 2021.

O livro, que aborda relações raciais, identidade, violência e negritude, foi alvo de veto por parte de uma diretora da Escola Ernesto Alves, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Em um vídeo, a mulher afirma que o romance contém vocabulário de baixo nível e cenas de atos sexuais, e solicita ao Ministério da Educação que recolha os exemplares enviados à escola no âmbito do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD).

Entre as pessoas que apoiam Jeferson Tenório, são nomes como Ailton Krenak, Afonso Borges, Conceição Evaristo, Bruno Lombardi, Carla Madeira, Denise Fraga, Djamila Ribeiro, Lilia Schwarz, Malu Mader, Maria Homem, Mia Couto, Milton Hatoun, Pilar Del Rio e Silvio Almeida. Na avaliação do movimento, os ataques à obra de Jeferson são preocupantes do ponto de vista democrático.

“Quando a censura é permitida, toda a cultura de um país é agredida. Ferem de morte a democracia, o direito de um autor se expressar, tiram a oportunidade de alunos entrarem em contato com textos escritos que foram observados e selecionados por comissões especializadas e preparadas para levar qualidade ao ensino”, afirma o grupo.

“Assim, mais uma vez, vimos a público apoiar o escritor Jeferson Tenório. O avesso da pele é um grande livro, aborda temas relevantes, critica o racismo e tem o poder de proporcionar ao jovem leitor reflexão e crescimento a partir de sua leitura”.

“Desejar cancelá-lo é atitude conservadora, atrasada, própria de mentes não evoluídas. Um absurdo a necessidade de se levantar a voz em defesa de um livro. Deplorável ver pretensos educadores envolvidos em esforço de se proibir a circulação de uma obra”, conclui o texto.

Para além da editora responsável pela obra, o escritor Jeferson também se pronunciou sobre o caso nas redes sociais. 

“O Avesso da pele já foi adotado em centenas de escolas pelo Brasil, venceu o prêmio Jabuti, foi finalistas de outros prêmios, teve direitos de publicação vendidos para mais de 10 países, foi adaptado para o teatro. Além disso, o livro foi avaliado pelo PNLD, em 2021, ainda no governo Bolsonaro. A própria diretora assinou a ata de escolha do livro”, elencou em uma publicação no Instagram.

O autor classificou as alegações da diretora como “fake news” e afirmou que elas “são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação”. “O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”.

“Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos. Agradeço a Companhia das Letras pelo apoio de sempre e a todos que se manifestaram contra esse absurdo”, finalizou.

Parlamentares de direita criticam o Ministério da Educação (MEC) na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por enviar a obra para escolas, com trabalho voltado ao ensino médio.

No entanto, a secretaria de Comunicação Social ​confirmou a informação de que o livro foi aprovado para integrar o catálogo de obras recomendadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) em 2021, na gestão de Bolsonaro.

Em nota, o MEC diz que “as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica”. Ou seja, o MEC só envia os livros a pedido da instituição de ensino.

Fonte: Página 8