Alexandre Ramagem | Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Documentos obtidos pela Polícia Federal mostram que o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, escrevia para Jair Bolsonaro textos com orientações para os “ataques às urnas” e com sugestões para tentar acabar com os inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente.

Os textos estavam arquivados no e-mail de Ramagem, que hoje é deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro com apoio de Jair Bolsonaro. As informações são do Globo e do G1.

Em um dos documentos, Alexandre Ramagem faz apontamentos sobre a linha política que Jair Bolsonaro deveria utilizar para o “ataque às urnas”. O termo “ataque às urnas” foi utilizado por Ramagem.

“Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do Sr. presidente Bolsonaro no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos”, escreveu Ramagem em uma das anotações.

Em seguida, ele diz que “o argumento na anulação de votos não teria esse alcance todo. Entendo que argumento de anulação de votos não seja uma boa linha de ataque às urnas”.

“Na realidade, a urna já se encontra em total descrédito perante a população. Deve-se enaltecer essa questão já consolidada subjetivamente (…) A prova da vulnerabilidade já foi feita em 2018, antes das eleições. Resta somente trazê-la novamente e constantemente”, continuou o então chefe da Abin.

Em outra mensagem escrita para Jair Bolsonaro, Ramagem sugere que as eleições de 2022 exigiam do então candidato à reeleição “atitude belicosa com estratégia”.

Alexandre Ramagem falou para Bolsonaro que a Procuradoria-Geral da República (PGR), que era chefiada por Augusto Aras, deveria conseguir arquivar um inquérito “do Celso de Mello”, ministro do STF que se aposentou em 2020, “para expor todas as nulidades do procedimento do Alexandre de Moraes”.

Com isso, “o Sr. [Jair Bolsonaro] terá total legitimidade de contestar decisões monocráticas do STF, além de passar a expor todas as arbitrariedades dos ministros no STF”.

Em um ato na Avenida Paulista realizado em 2021, Jair Bolsonaro falou “que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”. Logo em seguida, teve que recuar e pedir desculpas publicamente.

Celso de Mello era relator do inquérito 4.831, aberto para investigar a interferência ilegal de Jair Bolsonaro na atuação da Polícia Federal para ajudar criminosos. Por sorteio, Alexandre de Moraes se tornou relator desse caso depois da aposentadoria de Celso de Mello.

Na mensagem apreendida pela Polícia Federal, Alexandre Ramagem diz: “Bom dia, presidente. O Sr. mais do que ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma na sua eleição, mas ruptura com esquema dos poderes (…) nenhuma crise conseguiu enfraquecer sua base e não aparenta haver políticos à altura de vencê-lo em 2022. Portanto, parece que a batalha maior será agora, requerendo atitude belicosa com estratégia”.

E seguiu afirmando:

“Há armadilhas sendo colocadas. O inquérito do Celso de Mello possui relação com o inquérito das fake News do Alexandre de Moraes com intuito de fundamentarem o golpe no TSE”.

“Sendo assim, primeiro é necessário que a PGR arquive o inquérito do Celso de Mello, para expor todas as nulidades do procedimento do Alexandre de Moraes”.

“Neste segundo momento, o Sr. terá total legitimidade de contestar decisões monocráticas do STF, além de passar a expor todas as arbitrariedades dos ministros no STF.”

Durante seu depoimento à Polícia Federal, Alexandre Ramagem foi confrontado com os documentos encontrados em seus aparelhos. Ele admitiu que escrevia textos “para comunicação de fatos de possível interesse” de Jair Bolsonaro. O deputado ainda não falou publicamente sobre o caso.

Fonte: Página 8