Imagem: Reprodução Sabatina Uol/Folha

O deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol), participou, nesta sexta-feira (12), de sabatina promovida pelo UOL e Folha de São Paulo. Ao longo da conversa, Boulos passou por suas propostas para a cidade ao tocar em pontos latentes para o dia a dia dos moradores da capital paulista.

Como três propostas prioritárias que estão em seu plano de metas, indicou:

  • resolver a situação população em situação de rua;
  • zerar a fila da saúde;
  • garantir empregos na periferia para reduzir a distância entre moradia e trabalho.

Ao falar sobre suas referências na política citou o presidente Lula, o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica.

Sobre o desempenho de Lula, enxerga que ele está cumprindo uma função incrível em recuperar um país que estava devastado e reconstruir uma democracia ferida, com a busca pela retomada de programas sociais que tinham sido desmontados no governo anterior e com o enfrentamento a um congresso extremamente difícil: “Acho que a gente está fazendo isso com muito êxito, aliás a última pesquisa da Quaest mostrou que o povo também concorda”, defendeu.

Pesquisas

O pré-candidato foi confrontado sobre resultados de pesquisas eleitorais. Para ele, estar tecnicamente empatado com o atual prefeito Ricardo Nunes, pré-candidato à reeleição, está dentro da normalidade, ainda mais porque Nunes está “gastando R$600 milhões em publicidade” e com a máquina pública nas mãos.

Apesar disso, pondera: “Máquina [pública] não basta para ganhar eleição na periferia. Eu tenho andado a periferia da cidade inteira. Fui outro dia na UPA Doutor Sócrates, em Itaquera. 12 horas para uma senhora ser atendida. Eu estive semana passada na UPA da Cidade Tiradentes, uma tragédia, ali perto do Hospital Cidade Tiradentes. O pessoal sofrendo com falta remédio.”

Também lembra que na última eleição para a Prefeitura que a esquerda venceu, em 2012, neste momento de pré-campanha as pesquisas indicavam segundo turno entre Serra e Russomano e no fim quem venceu as eleições foi Fernando Haddad. Por isso o pré-candidato pediu cautela em projeções de segundo turno trazidas pelas jornalistas.

Para crescer entre a população mais humilde, Boulos acredita na força do apoio do presidente Lula. Por outro lado, vê desvantagem para Nunes quando o povo da periferia saber que ele está associado a Bolsonaro.

Além disso, o deputado aponta que tem menor rejeição neste público que recebe entre 1 e 2 salários mínimos.

Críticas

O deputado e pré-candidato enxerga que “esta é uma eleição sobre a cidade de São Paulo com impacto Nacional, como toda eleição Municipal da maior cidade do Brasil”.

Por conta disso existe a nacionalização do debate e dos apoios, mas que o foco deve ser a discussão da cidade.

“O meu adversário, como não tem o que mostrar, vai vir com Fake News, falando em invasão, falando em tentativa de fazer uma guerra cultural e moral, pautas que não tem nada a ver com a cidade. Ele já começou a fazer isso, já tem feito isso nas suas declarações, já tem feito isso nas suas entrevistas. Eu vou discutir a cidade de São Paulo”, diz.

Nesse ponto, acentuou as críticas feitas ao atual prefeito: “O que eu quero discutir com todos os paulistanos é por que São Paulo é a cidade mais rica da América Latina e a população de rua quase triplicou nos últimos três anos? Por que São Paulo está com maior orçamento da sua história e o problema de mobilidade continua e a fila da Saúde se agravou, dobrou a fila de exames na saúde? Por que nós temos uma Prefeitura que gasta muito e resolve pouco? Eu quero discutir os temas da cidade, mas é inevitável, ainda mais em um país polarizado por tudo o que a gente viveu nos últimos anos, a gente saber quem apoia quem. Saber que o atual prefeito, por exemplo, botou um vice indicado pelo Jair Bolsonaro que acha que a polícia tem que tratar diferente quem mora nos Jardins e quem mora na periferia”, frisou.

Mas para ele, quem mais se interessa pela polarização ideológica é Nunes, “porque ele ficou três anos no cargo e não entregou nada”. Qual é a marca desse governo? Foi começar a fazer coisa na véspera da eleição, asfalto sem planejamento, obra sem planejamento”, completou.

São Paulo

Na sabatina, Boulos mostrou que vem se preparando nos últimos anos para sentar na cadeira de prefeito. Caso seja vencedor, disse que uma vez no posto o cargo impõe a representação do povo acima de ideologias pessoais ou partidárias.

Sobre a cidade de São Paulo afirmou que a enxerga como acolhedora e solidária. Mas que, no momento, está parada no tempo: “São Paulo merece estar entre as cidades mais humanas e mais inovadoras do mundo, é isso que eu quero fazer”.

Ao ser interpelado sobre o que considera melhor na cidade, exaltou a diversidade e a vida cultural integrada: “é a cidade de todos os povos”.

Quanto ao que enxerga de pior, destacou a indiferença: “Uma coisa que a gente precisa superar é a cultura da indiferença. Perdemos a capacidade de se colocar no lugar de quem sofre, ver alguém jogado na rua e achar que faz parte da paisagem, ver uma criança revirando lixo para comer na cidade mais rica e não se indignar com isso. Eu quero também ser prefeito de São Paulo para superar essa indiferença com um choque de humanidade na cidade”, ressalta.

População de rua

Sobre as propostas para a população de rua, Boulos disse que resolver esta questão é a missão de sua vida, não apenas de campanha. Para isso pretende combinas três ações.

A primeira com acolhimento humanizado nos abrigos para que recebam os animais de estimação dos moradores de rua e que possibilitem que as pessoas não abandonem seus pertences, sendo que muitos trabalham como carroceiros para coleta de material reciclável. O pré-candidato pontuou que existe uma lei municipal obrigando ter canil em todos os abrigos, mas que não é cumprida. Além disso, os centros de acolhida devem oferecer tratamento psicossocial, uma vez que existe um profundo problema de alcoolismo dentre os moradores de rua pela situação em que se encontram.

Na sequência, indicou que é necessário oferecer oportunidades de geração de renda. Como exemplo, citou projeto do Sindicato da Construção Civil que qualificou diversas pessoas como pedreiros, ajudantes, mestres e carpinteiros, para que trabalhem na área. Essa ideia ataca duas frentes, uma vez que falta mão-de obra qualificada no setor, que paga salários iniciais em cerca de R$2.500, e auxilia as pessoas a se reerguerem com essa renda, explicou Boulos, que vê a iniciativa com enorme potencial para ser ampliada pela maior prefeitura da América Latina. Por fim, completando a abordagem para resolver este problema que implica toda a sociedade, estas pessoas já empregadas deverão ser cadastradas em programas habitacionais.

Assim, Boulos explica que, se eleito, deverá fazer um programa habitacional exemplar, diferente do que é feito na atual gestão Nunes. De acordo com o deputado, existe ‘vista grossa’ para loteamentos clandestinos nas periferias, principalmente em beira de mananciais. Estes lotes são ligados, muitas vezes, ao crime organizado, com a venda de terrenos para as pessoas necessitadas que ficam jogadas à própria sorte em caso de um futuro despejo. Algo “intolerável”, coloca o deputado.

Habitação de interesse social

Sobre a ocupação de prédios abandonados no centro de São Paulo, Boulos afirmou que irá cumprir a Lei pelo estatuto das Cidades, que determina que proprietários de imóveis subutilizados, ociosos ou abandonados devem ser notificados para que estes cumpram sua função social. Para ele, os prédios que estão abandonados há décadas devem, dentro da legislação, ter incidência de IPTU progressivo e, caso o proprietário não cumpra com a obrigação do parcelamento, o município faça a desapropriação com os pagamentos devidos e o imóvel possa se tornar habitação de interesse social.

Outra frente será a atuação para que imóveis ociosos da União possam se tornar moradias populares. Nesse caso, lembra da iniciativa levada ao presidente Lula, onde foi feito o levantamento de imóveis para tal finalidade. Inicialmente a proposta começou com imóveis do INSS e virou o Imóvel da Gente – Programa de Democratização de Imóveis da União.

‘Minhocão’

O pré-candidato também foi questionado sobre o que pretende para o ‘Minhocão’ (Elevado Presidente João Goulart). Ele indicou que reuniu diversos urbanistas como Raquel Rolnik, Ermínia Maricato, Nabil Bonduki, entre outros, para pensar soluções para este e outros temas.

Uma ideia que o agrada vem de um projeto vencedor de um edital, na gestão Serra em 2006, mas que não foi colocado em prática, que propõe o Minhocão como espécie de “túnel suspenso” em que se fecha as laterais com o parque em cima.

Com isso, a reivindicação dos moradores da região para o parque como forma de melhorar a qualidade de vida é atendida e o fluxo viário não fica comprometido. Este é um exemplo de destinação que passa por estudo de viabilidade junto a outros.

Segurança pública

Nas passagens da sabatina sobre resolver problemas de segurança pública, Boulos foi categórico em dizer que o tema será calcado na segurança cidadã, baseada nos Direitos Humanos. Para tal, irá se reunir sem problemas com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com a finalidade de ações integradas.

Em destaque, reafirma que prega tratamento igualitário pela polícia para todas as regiões da cidade. Isto contrasta com a afirmação do pré-candidato a vice na chapa de Nunes, o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello de Araújo, que já defendeu abordagens diferenciadas em bairros nobres da cidade.

Além disso, o deputado do Psol se mostrou a favor das câmeras corporais nos uniformes de Guardas Civis Metropolitanos e contrário a posse e porte de armas por civis.

Tarifa Zero

Sobre a proposta de ampliação da Tarifa Zero para passagens de ônibus, Boulos reforçou que em primeiro lugar é preciso passar a limpo os contratos feitos com as concessionárias de ônibus na capital. Conforme coloca, os subsídios dados para as empresas chegaram a R$5 bilhões ano passado e podem chegar a R$7 bilhões este ano, ao passo que houve redução em 20% no número de viagens, ou seja, paga-se mais para que as pessoas andem em veículos superlotados.

Para completar, lembra que o Ministério Público e a Polícia Civil já revelaram ligações do crime organizado com estas empresas. Com isso, antes de ampliar qualquer benefício, se eleito, Boulos fará esta devassa nos contratos para apurar as irregularidades.

Após isso, como um defensor da Tarifa Zero, diz que depois que for colocada ordem na casa com controle e fiscalização, deverá iniciar um processo paulatino para a implementação da Tarifa Zero para não colapsar o sistema. Assim, deverá iniciar o processo pelas pessoas que mais necessitam.

Mas para isso revela ser necessário trabalhar por um modelo sustentável financeiramente ao longo do tempo somado a uma frota adequada para que as pessoas viajem com conforto, diferente do que ocorre hoje com a Tarifa Zero que só é empregada aos domingos, mas que teve redução no número de ônibus que fazem as viagens, observa.

Este modelo sustentável que menciona depende de dois fatores: resolver o equilíbrio financeiro do subsídio e a mudança do modal da frota. Neste último caso, diz que é fundamental a alteração para um modal de ônibus elétricos e híbridos, pois estes possuem um custo de rodagem mais barato, além de trazer o benefício da diminuição da poluição, com a redução das emissões de carbono.

Ele pondera que o custo inicial destes veículos é maior, portanto, deverá ser aberta uma linha de crédito (por exemplo, junto ao BNDES) para aquisição. Porém calcula que o modelo se paga com o tempo, pois permite a redução do custo do sistema e a implementação de uma Tarifa Zero mais abrangente e sustentável.