Na foto, hospital de Khan Younis, bombardeado pelas tropas israelenses | Foto: AFP

Em carta aberta ao presidente Joe Biden e à vice-presidente Kamala Harris, que gentilmente recepcionaram Netanyahu nesta quinta-feira (25), na Casa Branca, 45 profissionais da saúde dos Estados Unidos, que trabalham de forma voluntária na Faixa de Gaza e presenciam as atrocidades israelenses, exigem: “Acabem com essa loucura agora”.

A carta começa com depoimentos individuais de quatro dos profissionais, relatos contundentes sobre milhares de crianças e mulheres mutiladas, mortes de bebês atingidos por balas de atiradores de elite, uma rotina no dia a dia do grupo de voluntários.

Dr. Feroze Sidhwa, cirurgião de trauma e cuidados intensivos: “Nunca vi ferimentos tão horríveis, numa escala tão grande, com tão poucos recursos. As nossas bombas estão estraçalhando mulheres e crianças aos milhares. Os seus corpos mutilados são um monumento à crueldade”.

Dr. Thalia Pachiyannakis, ginecologista e obstetra: “Vi tantas mortes de recém-nascidos e mães que poderiam ter sido facilmente evitadas se os hospitais estivessem funcionando normalmente”.

Asma Taha, enfermeira pediátrica: “Todos os dias eu vi bebês morrerem. Eles nasceram saudáveis, mas suas mães estavam tão desnutridas que não conseguiam amamentar e não tínhamos fórmula nem água potável para alimentá-los, por isso eles morriam de fome”.

Dr. Mark Perlmutter, cirurgião ortopédico: “Em Gaza foi a primeira vez que segurei o cérebro de um bebê nas mãos. O primeiro de muitos”.

Diante de tanto horror, o manifesto do grupo estadunidense defende uma ação imediata para pôr fim ao genocídio praticado sob mando de Netanyahu. “Não somos políticos. Não afirmamos ter todas as respostas. Somos simplesmente médicos e enfermeiros que não podem permanecer em silêncio sobre o que vimos em Gaza. Cada dia que EUA continua fornecendo armas e munições para Israel é mais um dia em que mulheres são destruídas por nossas bombas e crianças são assassinadas por nossas balas”, denunciaram.

Citando detalhes da barbárie em primeira mão, disseram que gostariam que Biden e Kamala “pudessem ver os pesadelos que afligem tantos de nós desde que retornamos: sonhos de crianças mutiladas por nossas armas, e suas mães inconsoláveis ​​implorando para que as salvemos”. “Gostaríamos que vocês pudessem ouvir os gritos e lamentos que nossas consciências não nos deixarão esquecer. Não podemos acreditar que alguém continuaria a armar o país que está deliberadamente matando essas crianças depois de ver o que vimos”, protestaram.

Em contraposição ao banho de sangue promovido por Netanyahu deste 7 de outubro, os profissionais de saúde propõem que o governo estadunidense “retenha o apoio militar, econômico e diplomático ao Estado de Israel” e participe de um embargo internacional de armas contra “até que um cessar-fogo permanente seja estabelecido e que negociações de boa-fé entre Israel e os palestinos levem a uma resolução permanente do conflito”.

Na carta a Biden e Kamala, os profissionais de saúde escreveram que Israel “visou diretamente e devastou deliberadamente todo o sistema de saúde de Gaza” e “visou nossos colegas em Gaza para a morte, o desaparecimento e a tortura”.

“Nós também acreditamos que isso é evidência probatória de violações generalizadas das leis norte-americanas que regem o uso de armas americanas no exterior, e do direito humanitário internacional. Não podemos esquecer as cenas de crueldade insuportável dirigidas a mulheres e crianças que nós mesmos testemunhamos”, frisaram.

De acordo com números do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, as forças israelenses mataram um em cada 40 profissionais de saúde no território palestino desde outubro, à medida que as doenças se espalham e o número de moradores de Gaza mortos ou feridos cresce a cada hora.

Com base nas evidências disponíveis e nas suas experiências, o grupo de médicos e enfermeiros enfatizou que o número de mortos na agressão“é muitas vezes maior do que o relatado pelo Ministério da Saúde de Gaza”, que atualmente é de mais de 39.100. Na avaliação dos profissionais, o número de mortos pode ultrapassar a 92.000, o que representa mais de 4% da população de Gaza. E as perspectivas para o futuro são tétricas, uma vez que, “apenas com exceções marginais, todos em Gaza estão doentes, feridos ou ambos”. “O deslocamento contínuo e repetido por Israel da população desnutrida e doente de Gaza, metade da qual são crianças, para áreas sem água encanada ou mesmo banheiros disponíveis é absolutamente chocante”, condenaram.

Para completar estupidez, segundo relatou a própria CNN, Israel está impedindo a entrada de médicos com ascendência palestina em Gaza como parte de missões humanitárias internacionais.

Fonte: Papiro