Ministro do Exterior de Kiev é recebido pelo chanceler chinês | Foto: Ren Pengfei/Xinhua

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, recebeu em Guangzhou seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, a quem reiterou a convicção de Pequim de que a solução para o conflito na Ucrânia só virá com a volta à mesa de negociações, enquanto este dizia que Kiev estaria “disposta e preparada para conduzir o diálogo e as negociações com a Rússia” e até falou que devem ser “racionais” e destinadas a alcançar uma “paz justa e duradoura”, conforme relato do jornal chinês em língua inglesa, Global Times.

A Kuleba, a China disse que a resolução de todos os conflitos, em última análise, requer o retorno à mesa de negociações e que todas as disputas devem ser resolvidas por meios políticos.

Anteriormente, Pequim se recusou a participar das duas conferências-farsa às quais a Rússia não foi convidada, cujo menu era o endosso de uma pressão por rendição incondicional de Moscou à Otan, sob a suposta “fórmula de paz” do regime de Volodymyr Zelensky.

Durante a reunião, Wang disse ainda que a China e a Ucrânia são nações amigas e pediu o desenvolvimento saudável e estável das relações China-Ucrânia.

Sobre a reunião Kuleba-Wang, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reiterou que a Rússia está aberta a negociações de paz com Kiev – como fez com os protocolos de Minsk e nas conversações de Istambul -, mas que a interferência ocidental, o mandato expirado de Zelensky e a lei ucraniana que proíbe negociações com a Rússia representam entraves ao processo diplomático.

“Primeiro, precisamos entender o quão pronto o lado ucraniano está e se o lado ucraniano tem permissão para [negociações de paz] de seus patronos. Até agora, estamos vendo declarações muito diferentes”, afirmou Peskov, referindo-se à interferência de Washington e Bruxelas, e à conhecida recusa de Zelensky a negociações com a Rússia.

O porta-voz também frisou que Moscou considera nula a legitimidade de Zelensky como chefe de Estado, considerando que seu mandato terminou em maio e as eleições não foram realizadas devido à lei marcial. O presidente russo, Vladimir Putin, disse anteriormente que a legitimidade de Zelensky é importante no que diz respeito a um possível tratado de paz, uma vez que documentos cruciais devem ser assinados com autoridades legítimas.

Peskov acrescentou que outro obstáculo é o decreto que proíbe as negociações entre Kiev e a atual liderança em Moscou, assinado por Zelensky em 2022. O porta-voz do Kremlin observou que, como “essas proibições ainda se aplicam”, isso dificulta a possibilidade de negociações do ponto de vista legal.

“Mas, do ponto de vista prático, estamos abertos a alcançar nossos objetivos por meio de negociações”, Peskov enfatizou. Existem várias opções para lançar o processo de paz e a Rússia está considerando-as ativamente, acrescentou.

O chanceler Wang assinalou que a crise na Ucrânia entrou em seu terceiro ano, com o conflito ainda em andamento e o risco de escalada e transbordamento permanecendo, apontando que a China tem se comprometido consistentemente em promover uma solução política para a questão, com base em quatro princípios estabelecidos pelo presidente Xi Jinping.

A viagem de quatro dias de Kuleba à China sinaliza uma certa mudança de atitude de Kiev, até então inteiramente voltada para ser peão na guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia, como dizem os analistas, “até o último ucraniano”, com a situação cada vez mais adversa diante do colapso das forças pró-Otan no terreno, do clamor na Europa pela redução da ajuda a Kiev e em meio ao terreno pantanoso das eleições de novembro nos EUA, com a desistência de Joe Biden e Trump prometendo “acabar com a guerra” e até telefonando a Zelensky sobre isso, depois de meses de atraso na entrega de dinheiro e armamento.

Wang destacou que a China e o Brasil delinearam conjuntamente seis entendimentos comuns para uma resolução política da crise na Ucrânia, incluindo três princípios para administrar o conflito, três elementos para um plano de paz, três preocupações humanitárias, bem como medidas importantes para prevenir riscos nucleares e garantir a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos.

“Embora as condições e o momento ainda não estejam maduros, apoiamos todos os esforços conducentes à paz e estamos prontos para continuar a desempenhar um papel construtivo para um cessar-fogo e a retomada das negociações de paz”, disse Wang, acrescentando que a China está acompanhando de perto a situação humanitária na Ucrânia e continuará a fornecer assistência ao país.

No sábado, a CNN registrou os planos de Zelensky – mais provavelmente de Antony Blinken -de uma terceira conferência de “paz” em novembro, agora supostamente com a presença de uma delegação russa, para a qual tentam atrair a China, Brasil e outros países que se recusam a coonestar a guerra por procuração da Otan contra a Rússia.

Para o GT, o reconhecimento pela Ucrânia dos esforços da China na promoção de negociações de paz, depois dos recentes sucessos da China em mediar o restabelecimento dos laços diplomáticos entre a Arábia Saudita e o Irã e a Declaração de Pequim de restauração da unidade palestina, sinalizam que os conceitos de segurança inclusivos e abrangentes da China estão sendo aceitos por um número crescente de nações.

Em uma reunião com os mais altos escalões da diplomacia russa nas vésperas da conferência-farsa na Suíça, o presidente Putin disse que a base para a assinatura de um acordo de paz efetiva e duradoura já existe, o protocolo de Istambul, que chegou a ser negociado pelas duas partes, mas do qual o regime de Kiev recuou por ordem de Washington.

O protocolo tem como centro a restauração do estatuto de país não-alinhado e livre de armas nucleares que existia desde 1991; a desmilitarização; a desnazificação; o respeito aos direitos das etnias que integram a Ucrânia, em particular a russa, inclusive o uso do idioma; e o reconhecimentos dos territórios [Donetsk, Lugansk, Kherson, Zaporozhye e Crimeia] que deliberaram pela reunificação com a Rússia. Além, sem dúvida, o fim das sanções contra a Rússia.

“Assim que Kiev concordar com essas condições, concordar em retirar completamente suas tropas das regiões de DPR, LPR, Zaporozhye e Kherson e realmente lançar esse processo, estamos prontos a iniciar negociações sem demora. Repito, a nossa posição de princípio é a seguinte: o estatuto neutro, não alinhado e não nuclear da Ucrânia, a sua desmilitarização e desnazificação”, destacou Putin.

“Esses parâmetros foram geralmente acordados por todos durante as negociações de Istambul em 2022. Tudo estava claro em relação à desmilitarização, tudo estava explicitado, inclusive o número de tanques, e tudo estava acertado. É claro que os direitos e liberdades dos cidadãos russófonos na Ucrânia têm de ser plenamente assegurados, as novas realidades territoriais e o estatuto da Crimeia, Sebastopol, das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, das regiões de Kherson e Zaporozhye como círculos eleitorais russos têm de ser reconhecidos. No futuro, todas essas disposições básicas e de princípios devem ser registradas em termos de acordos internacionais fundamentais”, acrescentou Putin.

“Claro, isso também significa o levantamento de todas as sanções ocidentais contra a Rússia”, disse o presidente. Putin enfatizou que o plano da Rússia significaria acabar com o conflito de uma vez por todas, não congelá-lo. “A essência da nossa proposta não é algum tipo de trégua temporária ou suspensão de fogo, como o Ocidente quer, a fim de restaurar as perdas, rearmar o regime de Kiev e prepará-lo para uma nova ofensiva. Repito, não estamos falando de congelar o conflito, mas de encerrá-lo”, disse o presidente.

O líder russo acrescentou que, se Kiev e os países ocidentais recusarem mais uma vez a oferta da Rússia, as condições de acordo se tornarão mais rígidas. “Se Kiev e as capitais ocidentais o recusarem, como antes, então, afinal, este é o seu negócio, a sua responsabilidade política e moral de continuar o derramamento de sangue. Obviamente, as realidades no terreno, na linha de compromisso continuarão a mudar, e não a favor do regime de Kiev. As condições para o início das negociações vão mudar”, esclareceu.

Fonte: Papiro