Milhares diante do Capitólio repudiam presença de Netanyahu em Washington | Foto: AFP

Milhares de manifestantes repudiaram em Washington na quarta-feira (24) o genocídio perpetrado por Israel em Gaza e exigiram o cessar-fogo e a prisão do criminoso de guerra Benjamin Netanyahu, em visita aos EUA e aguardado no Congresso, engalanado para o aclamar.

No protesto, oradores se sucederam denunciando a carnificina, a cumplicidade do governo norte-americano e bradando, enquanto a multidão acompanhava, “libertem a Palestina”. Entre os oradores, o presidente do principal sindicato dos EUA, Shawn Fain, dos operários das montadoras (UAW).

Na véspera, sete grandes sindicatos norte-americanos, o UAW, o dos Eletricitários e o dos Correios, enviaram a Biden uma carta pedindo um cessar-fogo imediato e a interrupção do envio de armas para o genocídio. “Cortar imediatamente a ajuda militar dos EUA ao governo israelense é necessário para trazer uma solução pacífica para este conflito”, disse a carta.

Também na terça-feira centenas de manifestantes foram presos no Capitólio ao rechaçarem a presença de Netanyahu em Washington, grande parte deles, judeus. Eles ocuparam a Rotunda do Edifício Cannon com camisetas que diziam “Não em nosso nome”, “Judeus dizem para parar de armar Israel” e cantando: “Deixe Gaza viver!”

O protesto foi encabeçado pela Voz Judaica pela Paz (JVP, na sigla em inglês), mais a organização judaica IfNotNow, o grupo de israelenses de antissionistas Shoresh e o Democratic Socialists of America.

“Por nove meses, assistimos horrorizados ao governo israelense realizar um genocídio, armado e financiado pelos EUA”, disse Stefanie Fox, diretora executiva do JVP. “O Congresso e o governo Biden têm o poder de acabar com esse horror hoje. Em vez disso, nosso presidente está se preparando para se encontrar com Netanyahu e a liderança do Congresso o honrou com um convite para discursar no Congresso. Já basta.”

Jane Hirschmann, filha de sobreviventes do Holocausto e membro do JVP, disse que “os americanos – incluindo os judeus americanos – estão enojados com a cumplicidade de nosso próprio governo neste genocídio”.

O convite a Netanyahu para a homenagem pelo Congresso norte-americano foi bipartidário, formalizado pelo presidente republicano da Câmara, Mike Johnson, e pelo líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, no final de maio, poucos dias depois das tropas coloniais israelenses usarem bombas fabricadas nos EUA em um ataque devastador a um acampamento de refugiados palestinos.

Já a aclamação propriamente dita de Netanyahu pelos congressistas norte-americanos ocorre dias após a principal revista médica do mundo, The Lancet, estampar estudo que demonstra que, entre mortes diretas e indiretas, a escala do genocídio chega a quase 200 mil civis, como se sabe, na maior parte crianças e mulheres.

Como registrou o Washington Post, o primeiro dos seis discursos de Netanyahu ao Congresso dos EUA foi em 1996, “quando ele e seus aliados de direita tinham acabado de chegar ao poder após o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, a cujos esforços para forjar a paz com os palestinos eles se opunham.”

Após seu discurso ao Congresso, Netanyahu planeja se encontrar com o presidente Joe Biden na Casa Branca na quinta-feira antes de viajar para Mar-a-Lago para se encontrar com Donald Trump, o candidato presidencial republicano.

A deputada democrata progressista Cori Bush, que boicotou o discurso de Netanyahu, disse em um comunicado na terça-feira que ao conceder a ele um discurso conjunto, “o Congresso não está apenas continuando a dar luz verde ao genocídio; está celebrando ativamente o homem na vanguarda desse genocídio.”

Na terça-feira, o senador Bernie Sanders, após chamar Netanyahu de criminoso de guerra, disse ser uma “vergonha” que ele tenha sido convidado a falar ao Congresso. “É um extremista de direita e um criminoso de guerra que dedicou sua carreira a matar as perspectivas de uma Solução de Dois Estados e uma paz duradoura na região”.

Em sua peroração, o fascista Netanyahu asseverou que o genocídio que acontece em Gaza é um “enfrentamento entre a barbárie e a civilização, aqueles que glorificam a morte e aqueles que santificam a vida”, com ele – e seus anfitriões – sendo, claro a “civilização”. “EUA e Israel têm que permanecer juntos para a civilização triunfar”, ele exortou aos cúmplices da carnificina que o adulavam.

Na terça-feira, enquanto Netanyahu viajava para os EUA, as tropas israelenses mataram 89 palestinos e feriram 329 em toda a Faixa de Gaza. Em Khan Younis, as IDF panfletaram avisos dando ordem de evacuação minutos antes de bombardearem. No relato da Reuters, “algumas famílias fugiram em carroças de burro, outras a pé, carregando colchões e outros pertences”. Duas das clínicas do Crescente Vermelho Palestino [equivalente à Cruz Vermelha] foram arrasadas nesse ataque.

Segundo a Al Jazeera, estima-se que há dezenas de pessoas soterradas sob os escombros. Um homem que chegou ao hospital Nasser com uma ambulância carregando cadáveres disse ao jornalista: “Uma família, incluindo crianças, foi despedaçada enquanto dormia”.

Fonte: Papiro