Com curativo no ouvido, Trump olha para seu escolhido, Vance | Foto: Brian Snyder/Reuters

O jovem senador por Ohio, ex-executivo do setor de tecnologia e comentarista da tevê, James David Vance, de 39 anos, foi o escolhido pelo ex-presidente Donald Trump para seu vice, anúncio feito no primeiro dia da Convenção Nacional Republicana, que está ocorrendo em Milwaukee, Wisconsin, em clima de euforia, e irá até quinta-feira (18).

A chapa republicana já está formalizada. O início da convenção foi marcado por um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do atentado contra Trump durante um comício no sábado. Pelo menos 50 mil republicanos devem participar da convenção. Vance está apenas no segundo ano de seu primeiro mandato.

“Após longa deliberação e reflexão, e considerando os tremendos talentos de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos é o senador J. D. Vance, do grande Estado de Ohio”, postou Trump em sua plataforma de mídia social Truth.

Além da óbvia questão de optar por um vice jovem em meio à discussão sobre a senilidade de Biden, a escolha também visa fortalecer a chapa na disputa que, no sistema eleitoral norte-americano, é a que efetivamente decide a eleição nos EUA, os cinco ou seis estados-pêndulo, como visto nas duas últimas eleições presidenciais.

Conforme explicitou Trump, as atividades de campanha de Vance serão focadas em trabalhadores e agricultores em estados como Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio e Minnesota.

A escolha também sinaliza a disposição de Trump de chegar a algum acordo sobre a guerra na Ucrânia, com Vance tendo se pronunciado enfaticamente contra a perpetuação do conflito, o que deve provocar urticária em Kiev.

Ele chegou a escrever um editorial no The New York Times em que defende que “a matemática sobre a Ucrânia não fecha”. Para Vance, os EUA não têm “a capacidade de fabricar a quantidade de armas que a Ucrânia precisa que forneçamos para vencer o conflito”.

Ele também classificou como “perigosos” os planos de confiscar ativos russos para cobrir os custos da guerra por procuração na Ucrânia. No final do ano passado, ele disse que Zelensky deveria considerar abrir mão das reivindicações sobre territórios recentemente reintegrados à Rússia e negociar um acordo para encerrar o conflito. Posição antípoda da de republicanos como o senador Lindsey Graham, que lembrou os “trilhões de dólares” em riqueza mineral à espera no Donbass.

Nomes mais consolidados foram preteridos por Trump, como o senador gusano da Flórida Marco Rubio, o governador de Dakota do Norte, Doug Burgum, e o senador negro da Carolina do Sul, Tim Scott. Analistas também viram na escolha uma mudança geracional no comando republicano.

O agora candidato a vice de Trump ficou conhecido pelo seu best-seller “Hillbilly Elegy”, que deu origem a um filme da Netflix apresentado no Brasil como “Era Uma Vez um Sonho”, e que gerou uma certa percepção dele como “antissistema”.

De caráter autobiográfico, o livro mostra o drama da classe operária branca do chamado Cinturão da Ferrugem, a região que se desindustrializou sob a globalização no norte/nordeste do país, e empurrada para a pobreza, precarização e crise das famílias.

O que ajuda a entender o deslocamento de parte da população, que votava tradicionalmente nos democratas, se desencanta e vê em Trump na tábua de salvação.

Criado em Middletown, Ohio, ele foi marine e serviu na Guerra do Iraque. Formou-se na Ohio State University e na Yale Law School, tendo trabalhado com investimentos de risco em startups do Vale do Silício. É casado com a advogada Usha Chilukuri Vance, filha de imigrantes da Índia.

Inicialmente um “Never Trump”, que chegou a fazer declarações depreciativas sobre o bilionário na campanha de 2016, Vance – que chegou a falar de Trump como “Hitler da América”, mudou de ideia, segundo ele, vendo a gestão de Trump em seu mandato.

Nas questões de costumes, é bastante conservador. Declara-se um firme apoiador de Israel, considerando a sua sustentação uma obrigação sob o status dos Estados Unidos como “o maior país de maioria cristã no mundo”. Mas já chegou a advertir sobre a ameaça de escalada entre os EUA e o Irã.

Fonte: Papiro