Presidente Nicolás Maduro inicia campanha eleitoral no estado de Zulia — Foto: Flickr Gobierno de Venezuela

Com os olhos voltados para o próximo domingo (28), as diferentes coalizões políticas da Venezuela encerram suas campanhas eleitorais na quinta à noite (25), movimentando o cenário político com manifestações massivas tanto em apoio à coalizão governista quanto à oposição. Mais de 21 milhões de venezuelanos poderão escolher seu próximo presidente.

O Painel de Especialistas Eleitorais das Nações Unidas chegou a Caracas para acompanhar o processo eleitoral, reforçando a transparência e a robustez tecnológica das eleições. Mais de 635 observadores internacionais garantem um acompanhamento rigoroso do pleito.

Algumas características estão definindo os dois principais blocos em disputa: o chavismo, nucleado na candidatura de Nicolás Maduro, e boa parte da oposição, que aposta em Edmundo González Urrutia.

À medida que o país se prepara para as eleições presidenciais, tanto o governo quanto a oposição intensificam suas estratégias e mobilizações. Com um contexto econômico em recuperação e um ambiente político altamente polarizado, a Venezuela caminha para um processo eleitoral histórico, marcado pela intensa participação e vigilância nacional e internacional.

Com pé na economia ou mãos nas pesquisas

O processo eleitoral ocorre em meio a uma melhora na economia venezuelana, que registrou uma inflação de 1,5% em maio passado, a menor dos últimos 20 anos, segundo o Banco Central da Venezuela (BCV). O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que a Venezuela será um dos países latino-americanos com maiores oportunidades de crescimento em 2024.

As campanhas eleitorais, que formalmente começaram no dia 4 de julho, têm mostrado diferentes estratégias entre os principais blocos. O chavismo, liderado por Nicolás Maduro, concentrou-se em fortalecer a estrutura organizativa do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que integra estruturas comunitárias e mantém um diálogo direto com a população.

Para garantir a vitória nas eleições, o chavismo não se limita à mobilização, mas requer uma máquina eficiente, que funcione de forma sincronizada, auditável e comprovada, alinhada com as estratégias e linhas de ação de Maduro, e cuja base seja o diálogo com as pessoas.

Essa estratégia pode estar respondendo às características inéditas que cercam estas eleições — o país atravessa nove anos ininterruptos de sanções e sobre Maduro pesa uma ordem de captura internacional —, o que exige o fortalecimento dos vínculos com o eleitorado no âmbito local. Maior detentora e dependente da indústria de petróleo do mundo, a economia venezuelana tem sido bloqueada pelas sanções norte-americanas, que dificultam a extração e refino, assim como acesso a mercados internacionais.

Diferentemente da oferta opositora, o chavismo pode falar abertamente do programa de governo de seu candidato, centrado nas capacidades do país, sem recorrer às políticas neoliberais de privatização e redução do Estado propostas pela oposição.

O governo Maduro destaca seu compromisso com o desenvolvimento nacional por meio de uma estratégia que valoriza a capacidade interna do país. Maduro enfatiza a necessidade de fortalecer o setor produtivo venezuelano, afastando-se das políticas neoliberais que, segundo ele, fragilizariam a soberania e a economia nacional. O governo tem promovido um novo modelo econômico que busca a democratização do crédito e a eliminação de impostos que oneram as transações financeiras internas em bolívares.

Edmundo González e Maria Corina Machado em ato de campanha | Reprodução X

Maduro destaca as conquistas econômicas do governo, como o controle da inflação e a estabilidade cambial. Em contraste, a oposição liderada por Edmundo González Urrutia tem apostado na narrativa de um “avassalador” apoio popular, utilizando pesquisas para sustentar essa percepção. No entanto, a presença constante de María Corina Machado nas atividades opositoras acaba relegando González e os partidos que o apoiam a um plano secundário, criando uma dinâmica interna complexa.

Dentro do próprio ecossistema opositor, vozes críticas têm alertado para os riscos de dar a vitória de González como garantida apenas com base nas pesquisas feitas pela imprensa corporativa. Francisco Rodríguez, um analista político, acredita que as pesquisas podem estar superdimensionando o voto opositor, o que projeta uma imagem distorcida das verdadeiras preferências eleitorais da população. Luis Vicente León, outro analista, reforça que a dinâmica eleitoral é muito mais complexa do que indicam as campanhas e os jingles eleitorais. Ele lembra que a popularidade não garante vitória, citando exemplos internacionais como a derrota de Marine Le Pen na França, que de favorita terminou em terceiro lugar.

Há temores de que, se os resultados não forem favoráveis à oposição, isso possa levar a uma mobilização violenta, apoiada por uma narrativa de fraude e desconhecimento dos resultados. O chavismo, por sua vez, continua a fortalecer sua base eleitoral através da organização e mobilização, mantendo uma postura firme na defesa da paz e da estabilidade democrática.

O cansaço da aventura golpista

As campanhas eleitorais revelam um ponto em comum entre quase todos os candidatos: a defesa da democracia nacional, a não interferência estrangeira e o progresso econômico. Cada candidato, no entanto, apresenta suas próprias nuances e abordagens para alcançar esses objetivos.

Maduro reafirmou esses princípios em sua campanha, destacando a importância de um grande diálogo nacional envolvendo todos os setores sociais, políticos e econômicos. Ele anunciou que, se reeleito, assinará um decreto um dia após as eleições de 28 de julho para formalizar esse compromisso. Maduro ressaltou os avanços econômicos recentes, apontando para a menor redução inflacionária em 39 anos como um resultado de um “esforço nacional, empresarial e coletivo”.

Em discurso a 1.500 empresários, Maduro prometeu um novo modelo de produção baseado no diálogo com o setor privado e a eliminação do Imposto sobre Grandes Transações Financeiras (IGTF) em bolívares. Ele destacou o papel crucial dos empresários na superação da pandemia e das sanções econômicas, prometendo 1 milhão de novos créditos para empreendedores, jovens e mulheres. O presidente criticou o modelo econômico dependente do petróleo, propondo um novo modelo baseado na produção interna.

Claudio Fermín, candidato pelo partido Soluciones para Venezuela, também apoia a união nacional e propôs um “governo de amplitude política” que envolveria todos os setores da sociedade. Fermín criticou a ideia de derrubar o governo a qualquer custo, citando golpes de Estado e interferência estrangeira como estratégias prejudiciais que agravam a crise.

Luis Eduardo Martínez, do partido Acción Democrática, enfatizou a necessidade de trabalho conjunto por uma Venezuela melhor, independentemente de filiação partidária. Em entrevista à Rádio Nacional da Venezuela, ele destacou a diferença entre a campanha presencial, marcada pelo desejo de participação e resolução pacífica, e as campanhas nas redes sociais, muitas vezes dominadas por insultos e fake news.

Seis prefeitos da oposição declararam apoio a Maduro, alegando defender a paz e a estabilidade democrática. Eles rejeitaram a violência extremista e qualquer tentativa de retorno à “diatribe inútil”. Félix Rivas, do Partido Vente Venezuela de Carabobo, retirou seu apoio a Edmundo González, citando que sua candidatura representa um “salto no escuro” perigoso para a estabilidade democrática.

As novidades da disputa

Depois das contínuas reeleições do atual bloco chavista, com uma oposição violenta e sabotadora do próprio processo eleitoral, pela primeira vez candidaturas alternativas se propõem a disputar corações e mentes dos venezuelanos dentro das regras eleitorais.

As nove forças de oposição — Mesa Unitária Democrática (MUD), Esperanza por el Cambio, Primero Venezuela, Arepa Digital, Alianza del Lápiz, Soluciones para Venezuela, Centrados en la Gente, Acción Democrática e Confederación Nacional Democrática — revelam a dimensão diversa da política na Venezuela, apesar da aparente polarização em dois blocos das últimas eleições.

Pela segunda vez, um candidato evangélico (Javier Bertucci) compete em uma eleição presidencial. Em 2018, Bertucci obteve mais de 1 milhão de votos, posicionando-se como a terceira força nacional. A Igreja Maranatha, principal pilar de seu aparato de mobilização, tem crescido de forma constante no interior do país nos últimos anos.

Antonio Ecarri é o candidato que busca explorar eleitoralmente o centro político. Nas eleições regionais de 2021, Ecarri se posicionou como a segunda força em Caracas, superando em votos o candidato da MUD.

O empresário e comediante Benjamín Rausseo (conhecido pelo seu personagem Er Conde del Guácharo) está levando sua candidatura presidencial a sério, tentando capitalizar o grande número de indecisos e eleitores independentes. Ele já não pode ser visto como o “elemento folclórico” de anos anteriores.

A ala mais radical da oposição participa de uma eleição com um candidato sem nenhuma experiência governamental prévia, rompendo com a ideia de utilizar as governadorias como um meio de divulgar a gestão. Também é a primeira vez que se desenha uma “candidatura delegada” acordada pelos partidos tradicionais.

Além destas surpresas, os mais proeminentes sindicatos de representação empresarial exibem um comportamento público neutro em relação às candidaturas, evitando a politização dentro de suas estruturas. Esta postura de “cada um no seu lugar” é uma novidade no cenário político venezuelano.

Cezar Xavier com informações da Comunicasul