Momento em que Trump se levanta após tiro de raspão. Foto: reprodução/Youtube

Ainda que seja cedo e faltem elementos para compreender a fundo tudo o que ocorreu, é fato que o atentado contra o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste sábado (13), tem potencial para mudar os rumos da disputa eleitoral, tanto por sua gravidade quanto por seus desdobramentos. 

Enquanto participava de um comício republicano em Butler, na Pensilvânia, Trump foi atingido por um tiro de raspão que feriu sua orelha direita. O republicano foi atendido e passa bem. “Eu levei um tiro que atingiu o pedaço superior da minha orelha direita. Eu soube imediatamente que algo estava errado quando ouvi um zumbido, tiros e imediatamente senti a bala rasgando a pele”, disse ele depois. 

O atirador foi morto por agentes de segurança e mais tarde identificado, pelo FBI, como Thomas Mattew Crooks, de 20 anos. Um participante do comício também foi morto e outros dois ficaram feridos.  O caso é tratado pelas autoridades como tentativa de homicídio e as motivações do atirador ainda não foram esclarecidas. 

Logo após ser atingido, Trump se abaixou e foi protegido por seguranças. Ao se levantar, ainda foi capaz de usar o momento para posar com o punho cerrado em riste, como quem quer mostrar força e resistência frente a um ataque malsucedido.

Reações

Após o atentado, o presidente dos EUA, Joe Biden, candidato democrata à reeleição, disse que estava “orando por ele e sua família e por todos que estavam no comício”. O presidente completou dizendo que ele e sua esposa, Jill, eram “gratos ao Serviço Secreto por tê-lo colocado em segurança. Não há lugar para esse tipo de violência nos Estados Unidos. Devemos nos unir como nação para condená-la”. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou pelas redes sociais. “O atentado contra o ex-presidente Donald Trump deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política. O que vimos hoje é inaceitável”, declarou. 

Em nota, o Itamaraty também repudiou o atentado. “O governo brasileiro condena o atentado ocorrido hoje, 13 de julho, contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Ao manifestar veemente repúdio ao atentado e desejo de pronta recuperação do ex-presidente, o Brasil reafirma ser inaceitável qualquer forma de violência política em sociedades democráticas e acompanha com atenção o pleno esclarecimento dos fatos”. 

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Marcio Jerry (MA), disse, pelas redes sociais: “Sobre Trump: Que se esclareça o caso rapidamente. E total repúdio a qualquer forma de violência. A qualquer forma!”. 

A companheira de bancada, deputada Jandira Feghali (RJ) também se manifestou: “Diante do que ocorreu hoje em comício de Trump, expressamos nossa condenação a toda e qualquer violência política, como também o vale-tudo em processos eleitorais. Vamos continuar acompanhando as informações e investigações sobre o acontecimento”. 

O caso também gerou reações de chefes de Estado, políticos e autoridades de diversos países. 

Análises iniciais

Com o tempo, novos elementos e análises poderão dizer o que de fato aconteceu e o peso que isso terá na disputa presidencial, marcada para 5 de novembro. Uma das questões que têm sido colocadas é que, ao menos num primeiro momento, a manutenção ou não da candidatura de Biden, assunto que vinha dominando a agenda política do país, pode ficar em segundo plano frente à tentativa de assassinato. 

Mas, mesmo a quente, muitas análises já vêm sendo feitas para tentar compreender a realidade e os próximos rumos da campanha dos EUA, levando em conta o peso do país na geopolítica mundial e considerando a forte polarização entre democratas e republicanos e o risco de fortalecimento da extrema direita caso Trump vença.

Uma das questões que têm sido colocadas, ao menos aqui, no Brasil, é se o efeito do atentado pode se assemelhar à facada contra Jair Bolsonaro (PL) em 2018, que selou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto. 

À revista CartaCapital, o cientista político e professor da UFRJ, Josué Medeiros, acredita que as consequências serão distintas. Após enumerar uma série de diferenças que marcam o cenário político de lá hoje e o daqui há seis anos, ele pondera que “o trumpismo fará exatamente aquilo que fez nos últimos oito anos: atacar pessoas e instituições, prometer vingança e encorajar sua horda a reações mais violentas”. 

Esse movimento, tantos meses antes da disputa, “dará a legitimidade necessária para que os democratas voltem a criticá-lo e rapidamente, e deve diminuir sua margem de vitimização. Trump será mártir, mas provavelmente só para os seus”, pondera. E conclui: “Se substituírem Biden, os democratas podem retomar o controle narrativa, criar um fato novo e enfrentar um Trump martirizado só para os seus. Se mantiverem Biden, Trump jogará sozinho rumo à vitória”. 

Já a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, que vem acompanhando os movimentos da extrema direita especialmente via redes sociais pelo mundo, analisa que o efeito político pode ser semelhante ao da facada.

Ao tratar do “suposto atentado” contra o republicano — como coloca ao longo do artigo —, Patrícia ressalta: “Trump se transforma em uma vítima e há muito pouco espaço para políticos democratas criticarem o republicano neste momento. Seriam vistos como insensíveis e cruéis. As declarações uníssonas dos democratas em solidariedade ao republicano mostram o minúsculo espaço de manobra”. 

O jornalista Ricardo Melo, do site Poder 360, segue na mesma direção: “O que parece claro é que Donald Trump sai por cima por enquanto, como na imagem captada pela agência de notícias Associated Press, com ele sendo conduzido para fora do palco do comício, sangrando na região da orelha direita, levando os braços e uma bandeira dos EUA flamulando ao fundo. De réu numa dúzia de processos, vira candidato a vítima e incendeia o sentimento patriótico dos seus apoiadores e de talvez outra parte do eleitorado”. 

Com agências