Comunistas e jovens foram as maiores vítimas da ditadura, aponta pesquisa
Já se sabia que militantes ligados a partidos e movimentos comunistas representam a maioria das vítimas do regime militar brasileiro (1964-1985). Mas um levantamento inédito do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), divulgado nesta segunda-feira (31), detalhou o perfil dos 434 mortos e desaparecidos políticos na ditadura.
A análise se baseou no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), concluída em 2014. Segundo a pesquisa, 82,5% dos mortos pertenciam a alguma organização política – de partidos a entidades, na cidade e no campo. A organização mais alvejada foi o PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que teve 79 militantes e dirigentes executados pela ditadura. A Ação Libertadora Nacional (ALN) perdeu 60 membros, e o PCB (Partido Comunista Brasileiro), 41.
O levantamento do MDHC mostra que, de cada cinco mortos sob o regime militar, um era ligado ao PCdoB. Boa parte dessas vítimas participou da Guerrilha do Araguaia, como Maurício Grabois, Carlos Nicolau Danielli, João Carlos Haas Sobrinho, Helenira Resende, Dinalva Conceição Oliveira Teixeira (“Dina”) e Osvaldo Orlando da Costa (“Osvaldão”).
Outro episódio marcante de repressão ao PCdoB foi o Massacre da Lapa, em São Paulo, que ocorreu no final de 1976, em pleno período de distensão da ditadura. A chacina tirou a vida de três dirigentes nacionais do partido – Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Franco Drummond.
Juventude assassinada
Além dos comunistas, a ditadura mirou outro alvo preferencial: os jovens que resistiam aos crimes do regime. Nada menos que 49,3% dos mortos e desaparecidos políticos na ditadura tinham entre 18 e 29 anos. O índice chega a 77,4% se forem consideradas todas as vítimas que tinham de 18 a 44 anos. Houve, ainda, cinco assassinatos de adolescentes entre 12 e 17 anos, além da morte de uma criança de menos de um ano de idade.
A prevalência da juventude nessa lista revela que a ditadura não se limitou a pôr na ilegalidade a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Tanto que 32,3% das vítimas do regime eram estudantes – ou um a cada três mortos e desaparecidos políticos.
É o caso de Edson Luís (secundarista, morto aos 18 anos), Honestino Guimarães (ex-presidente da UNE, assassinado aos 26 anos) e Alexandre Vannucchi Leme (estudante da USP, morto aos 22). Várias instituições – entre elas, a USP (Universidade de São Paulo) – têm feito diplomação simbólica de seus ex-alunos perseguidos pelo regime.
Trabalhadores
Diferentemente do que fez com o movimento estudantil, a ditadura preferiu manter ativas as principais entidades sindicais, mas optando por enquadrar suas direções, nomeando interventores e proibindo greves. Ainda assim, a repressão aos trabalhadores levou a diversos assassinatos.
A classe operária foi a mais atingida, com 13,1% das vítimas da ditadura. Entre esses mortos estão os metalúrgicos Onofre Pinto (morto em Medianeira, no Paraná, em 1974), Manoel Fiel Filho (São Paulo, 1976), Guido Leão dos Santos (Betim, Minas Gerais, 1979) e Santo Dias (São Paulo, 1979).
A lista oficial de mortos e desaparecidos não inclui operários da construção civil que morrerem por acidentes de trabalho durante as chamadas obras faraônicas do regime. Estima-se a morte de 35 trabalhadores na construção da Ponte Rio-Niterói (RJ), 197 na Hidrelétrica de Tucuruí (PA) e 106 na Hidrelétrica de Itaipu (PR).