Bolsonaro, Michelle e o governador de SC, Jorginho Mello. Foto: @jorginhomello via Fotos Públicas

Reunidas em Balneário Camboriú (SC), cidade que se tornou uma espécie de Meca do bolsonarismo, lideranças e militantes da extrema direita nacionais e internacionais não inovaram em seus discursos, apostando na já manjada estratégia de verter ódio por tudo e por todos que não estão alinhados aos seus mais retrógrados e escusos interesses, como forma de manter sua base em transe e mobilizada para o que der e vier. 

Para eles, a questão central é a eleição de 2026. Por isso, apostam, entre outras frentes, no fortalecimento da extrema direita no pleito deste ano; no desgaste de Lula principalmente pelas vias política, das redes sociais e das ruas; nas articulações para garantir um aliado na presidência da Câmara e na tentativa de anistia do ex-presidente.

Nesse transe coletivo — que, embora bizarro, tem método e planejamento — o indiciamento de Jair Messias Bolsonaro foi tratado, como aconteceu em outros momentos em que o ex-presidente foi acusado de ilícitos, como “perseguição da esquerda”. 

E seguiram os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao PT, à esquerda, à imprensa e, claro, a Lula. O presidente segue sendo tratado por eles como “ladrão”, mesmo sendo Bolsonaro o alvo de investigação que mostra fortes indícios sobre a apropriação ilegal de joias que pertencem ao Estado brasileiro. 

Ao todo, esses itens somam R$ 6,8 milhões, segundo a Polícia Federal, valor que equivale a três vezes o valor do triplex do Guarujá que foi falaciosamente atribuído a Lula. Mas, enfim, detectar contradições nunca foi o forte dessa turma. 

O fato é que durante a “Fascistopalooza”, que atende pelo nome de Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac Brasil) — embora sua alma esteja muito mais à direita do que o conservadorismo tradicional — sobraram xingamentos e impropérios. Mas, não só: as falas foram calibradas no sentido de defender anistia ao ex-presidente, que está inelegível, e aos demais golpistas do 8 de janeiro. 

Talvez por ser alvo de mais um indiciamento — o primeiro, por conta da falsificação da carteira de vacinação — e de uma longa ficha corrida de investigações, conforme noticiado Bolsonaro não vociferou contra o STF como em outras ocasiões. Mas, não faltou quem o fizesse em seu lugar. 

Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, Adrilles Jorge, ex-comentarista de Jovem Pan denunciado em 2022 pelo Ministério Público acusado de fazer uma saudação nazista, atacou o ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “ministro abusador”; e disse, ainda, que ele estaria “usurpando a democracia”. 

Também investiram contra o ministro o “deputado príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e seu colega Luciano Zucco (PL-RS) — ambos seguiram a mesma linha da suposta ditadura da toga. 

Ainda no âmbito da Justiça, durante o evento, ficou demonstrado que Bolsonaro e seus apoiadores tentam reverter a inelegibilidade e devem apostar até o limite em sua candidatura. 

“Não só a saída de Moraes (da presidência do Tribunal Superior Eleitoral) como as sucessivas trocas de composição no TSE animaram o círculo interno bolsonarista, que avaliam que as mexidas resultaram hoje numa inclinação da Corte mais favorável ao ex-presidente”, escreveu a colunista de O Globo, Malu Gaspar. 

Soma-se a isso o fato de que os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, aliados e nomeados por Bolsonaro, irão assumir a presidência e a vice do TSE durante as eleições de 2026 — e estes dois aspectos, observou Malu, foram o tom da Cpac. 

Mas, num evento desse naipe, não poderia faltar uma figura como o presidente argentino Javier Milei. Devido à sinalização por parte da diplomacia brasileira de que haveria reação caso o ultradireitista atacasse Lula em pleno território brasileiro, Milei resolveu fazer seu discurso de maneira mais genérica, tendo como alvo o socialismo.

O circo de horrores montado em Santa Catarina mostra que apesar de seu tom desatinado, a extrema direita não deve ser subestimada — afinal, a falta de escrúpulos e a veia autoritária e fascista são, para ela, qualidades. E não falta quem se mobilize em torno das bandeiras reacionárias que defendem. 

De qualquer forma, vale destacar o resumo dessa ópera, que Lula fez quando questionado sobre o encontro, como um alerta sobre o que de fato é a essência da extrema direita: um movimento antipovo, antissocial e antidemocrático.