Banco Central | Foto Marcello Casal Jr/Agência Brasil

“Dificuldades surgem no horizonte da indústria, como a interrupção da queda da taxa básica de juros (Selic)”, afirma o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ao analisar o resultado negativo da produção industrial em maio deste ano.

Para o Instituto, “os sinais promissores, na entrada do ano, de um desempenho mais robusto vai dando lugar a um cenário mais nebuloso” para a indústria.

“Não apenas pelo bloqueio de atividades produtivas devido às chuvas no sul do país, mas também pela interrupção da fase de redução da taxa básica de juros (Selic)”, observa.

Em maio, a indústria registrou um declínio de -0,9% na produção frente a abril, mês em que a produção fabril brasileira havia registrado uma queda de -0,8%. No entanto, “diferentemente do mês anterior, agora todos os macrossetores e a maioria dos seus ramos ficaram no vermelho”, ressalta o Iedi.

“Em maio/24 (-0,9%), embora o resultado tenha sido muito próximo daquele registrado em abril/24 (-0,8%), na série com ajuste sazonal, há diferenças importantes. Em primeiro lugar, desta vez foi a indústria de transformação que ficou no vermelho (-2,2% ante 0% em abril/24), enquanto o ramo extrativo recuperou parte da perda anterior (+2,6% ante -3,2% em abr/24)”, explica a entidade.

“Em segundo lugar, todos os macrossetores perderam produção, como mencionado anteriormente. As quedas foram mais intensas justamente para aqueles que vinham puxando o crescimento no início do ano: -5,7% em bens de consumo duráveis e -2,7% em bens de capital, já descontados os efeitos sazonais. Ambos os setores são mais sensíveis às taxas de juros e condições de crédito”, destaca a entidade.

Em maio, 16 dos 25 ramos industriais analisados pelo IBGE registraram recuo na produção, sendo 64% do total. No mês anterior, esta parcela havia ficado em 32%.

Entre as atividades que marcaram baixas em suas produções, o Iedi destaca que “o pior caso ficou a cargo do setor de fumo (-28,2%), bastante concentrado na região sul, mas outros ramos de peso na indústria, como veículos (-15%) e máquinas e aparelhos elétricos (-8,5%) também recuaram”.

Frente a esses resultados, o Iedi avalia que “os sinais promissores, na entrada do ano, de um desempenho mais robusto vai dando lugar a um cenário mais nebuloso, não apenas pelo bloqueio de atividades produtivas devido às chuvas no sul do país, mas também pela interrupção da fase de redução da taxa básica de juros (Selic)”, afirmou o Instituto, que também cita a aversão a risco dos mercados financeiros, os movimentos bruscos de desvalorização da taxa de câmbio, entre outras, como contratempo ao setor.

Na última semana de junho, o Comitê de Política do Banco Central (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, de forma unânime, paralisar os cortes na taxa básica de juros (Selic), estacionando-a nos estratosféricos 10,5% ao ano – atendendo à demanda do mercado financeiro, que pressiona por cortes de investimentos públicos, congelamentos de salários e por mais retiradas de direitos sociais.

Os representantes da indústria condenaram a decisão do Copom do BC, afirmando que os juros altos estão freando os investimentos privados e aumentando os gastos financeiros das empresas.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) ressalta que “a decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício”, afirmou a entidade na época.

De acordo com a CNI, com a Selic mantida em 10,5%, a taxa de juros real (descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, que é de 3,6%) fica em 6,64%. Essa é a segunda taxa de juro real do mundo.

“Mesmo se o Copom tivesse reduzido a Selic em 0,25 ponto percentual, a taxa de juros real estaria em 6,4% ao ano, ou seja, 1,9 ponto acima da taxa de juros real neutra, ainda denotando política monetária fortemente contracionista”, criticou a entidade.

Já a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) destacou na época que “com a Selic permanecendo alta, o custo do crédito continua a pressionar negativamente o setor produtivo, desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país”.

“Essa política, acaba por restringir a capacidade de recuperação econômica, prejudicando a criação de empregos e a competitividade das empresas brasileiras”, condenou a Abimaq.  

Fonte: Página 8