Protesto em Naha, ilha de Okinawa, contra onda de crimes sexuais de militares dos EUA | Foto: Kyodo

Protestos eclodiram em Okinawa após revelações de que o governo japonês ocultou informações sobre agressões sexuais de tropas americanas contra mulheres locais, com moradores expressando indignação e exigindo maior responsabilização de Tóquio.

O problema surgiu no final do mês passado, gerando comoção devido a relatos de que dois militares americanos haviam sido acusados ​​de agressões sexuais meses antes.

Ambos os casos foram relatados pela primeira vez na mídia local no final do mês passado. Em uma prisão feita em março, um membro da força aérea dos EUA foi acusado de sequestro e agressão sexual de uma adolescente, e em maio um fuzileiro naval dos EUA foi preso sob acusações de tentativa de estupro resultando em ferimentos. Mais detalhes sobre as supostas vítimas não foram divulgados.

A polícia de Okinawa disse que não anunciou os casos por considerações de privacidade relacionadas às vítimas. O Ministério das Relações Exteriores, por decisão da polícia, também não notificou as autoridades da prefeitura de Okinawa.

Diante da indignação da população com o descaso do governo de Tóquio com esses crimes dos militares norte-americanos, parlamentares da província do Sul do Japão aprovaram por unanimidade resolução em repúdio aos reiterados crimes de violência sexual perpetrados pelos militares americanos.

Contundente, o documento exige do governo norte-americano um pedido de desculpas e o pagamento de indenização às vítimas, bem como cuidados de saúde mental diante dos horrores praticados pelos soldados.

Nos casos mais recentes, um membro da Aeronáutica estadunidense foi denunciado pelo estupro de uma adolescente em dezembro, e em maio, um fuzileiro naval foi acusado de agressão sexual a uma jovem de 21 anos.

Direcionado ao governo dos EUA e também ao embaixador Raham Emanuel, a decisão afirma que violência sexual é um crime hediondo que viola a dignidade humana e não pode ser tolerado nem pelas leis nem pela Justiça de nenhum dos países.

De forma enfática, a resolução defende que os EUA – que contam com 50 mil soldados no Japão, 25 mil somente em Okinawa – apresente aos residentes medidas concretas e eficazes para evitar reincidências, uma vez que os relatos são cada vez mais sombrios.

Também dirigida ao governo japonês e ao primeiro-ministro Kishida Fumiol, o documento assinala que as autoridades investigativas e o Ministério dos Negócios Estrangeiros falharam ao não fornecer ao governo de Okinawa e aos municípios locais informações sobre a gravidade dos incidentes.

O governador de Okinawa, Denny Tamaki, afirmou que se opõe à presença das tropas americanas na ilha e disse estar “sem palavras e indignado” diante dos crimes e acidentes envolvendo militares dos EUA.

Para o vice-governador de Okinawa, Takekuni Ikeda, as agressões sexuais praticadas pelos soldados estadunidenses representam graves violações dos direitos humanos. “Nós os consideramos absolutamente imperdoáveis e estamos indignados”, acrescentou.

O fato de não ter havido notificação imediata e sem a proteção da privacidade das vítimas aumentou ainda mais a desconfiança entre os moradores da província que trazem doída na memória o ocorrido em 1995, quando uma menina de 12 anos foi estuprada por três soldados norte-americanos. Tamanha brutalidade gerou protestos massivos na ilha e levou a um acordo em 1996 entre Tóquio e Washington para fechar uma importante base aérea americana. Mas o plano acabou sendo adiado devido às enormes manifestações contrárias realizadas no local designado para a sua transferência na outra parte da ilha.

Fonte: Papiro