Foto: Reprodução/PF

A Polícia Federal afirmou, em relatório, que as joias que o ex-presidente Jair Bolsonaro furtou e vendeu nos Estados Unidos valiam R$ 6,8 milhões e o dinheiro lhe foi entregue em espécie pelos aliados que realizaram as vendas.

A investigação identificou que “os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, aponta o documento.

A PF indiciou Jair Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato/apropriação de bem público. Um relatório da corporação foi tornado público nesta segunda-feira (8) por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu 15 dias para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre o caso.

A corporação apontou um “enriquecimento inadmissível pelo presidente da República, pelo simples fato de exercer uma função pública”.

As joias foram dadas por líderes de outros países como presente. Por serem de alto valor, tinham obrigatoriamente que ser integrados ao acervo público da Presidência da República.

A PF apontou que o grupo criminoso “utilizou a estrutura do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) para ‘legalizar’ a incorporação dos bens de alto valor, presenteados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado do ex-presidente Jair Bolsonaro”.

As provas “evidenciaram a atuação de uma associação criminosa voltada para a prática de desvio de presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior”, disse a PF.

Os valores obtidos através da venda das peças de luxo “eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal” de Jair Bolsonaro “por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.

“A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”, assinalou.

A avaliação dos investigadores é que esses milhões de reais “possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”.

A análise decorre das movimentações bancárias de Jair Bolsonaro, no período em que ele estava nos Estados Unidos, mostrando que ele sequer estava utilizando o dinheiro que estava em suas contas do Banco do Brasil e do BB América.

Após a revelação do roubo e da venda das joias por parte de Jair Bolsonaro, seus aliados foram acionados, em segredo, para que “recomprassem” as peças de luxo. Ele queria entregá-las à União para tentar se livrar dos crimes que cometeu.

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, voltou à loja onde havia vendido um Rolex para recomprá-lo. Um recibo obtido pela Polícia Federal mostra que ele pagou R$ 264 mil em dinheiro vivo para conseguir o relógio de volta.

O bolsonarista ainda escreveu no recibo que estava pagando em dinheiro porque “de outra forma, como cartão de crédito, o governo brasileiro taxa muito”.

O ex-presidente Jair Bolsonaro conversou e enviou fotos do relógio Patek Philippe, um dos que roubou da Presidência, para seu ajudante de ordens, Mauro Cid. Na conversa, obtida pela investigação, Jair até mesmo enviou uma pesquisa de preço do relógio de luxo.

Sua defesa alegou, em agosto de 2023, quando a existência deste Patek Philippe foi revelada, que Jair Bolsonaro “não tem ciência dele”.

Bolsonaro enviou para seu então ajudante de ordens uma imagem de um Patek Philippe avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 280 mil).

O modelo que ele roubou do estado brasileiro, que era um presente da Arábia Saudita, foi vendido, junto com outro relógio, a uma loja especializada por US$ 68 mil (aproximadamente R$ 370 mil).

O dinheiro vivo foi entregue a Jair em mãos quando ele esteve nos Estados Unidos, em setembro de 2022, para participar da Assembleia Geral da ONU. A PF encontrou fotos da reunião em que o dinheiro foi passado ao então presidente.

Jair Bolsonaro também participou diretamente da negociação do chamado “kit ouro rosê”, que era composto por um relógio Chopard e outras peças de ouro branco rosê.

Mauro Cid enviou a Bolsonaro um link do leilão do conjunto de peças, que estava marcado para o dia 8 de fevereiro de 2023.

Os dados do celular de Jair mostram que ele abriu o link por cerca de um minuto. Depois, respondeu “selva”.

“Algumas mensagens trocadas entre o ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que evidenciam a ciência do ex-presidente sobre este conjunto de joias e sua destinação a leilão em uma loja em território norte-americano”, observou a PF.

Fonte: Página 8