Astronautas foram embarcados na Starliner apesar de sucessivas falhas que adiaram a missão | Foto: Reprodução

A crise da Boeing, bastante visível na fabricação de aeronaves civis, acaba de alcançar o espaço, com a cápsula Starliner, projetada pela empresa para a Nasa para transportar astronautas até à Estação Espacial Internacional, há três semanas avariada junto à ISS, sem data para retornar, por causa de um problema de vazamento de hélio e falha em propulsores, com os dois astronautas que levou, os veteranos Barry Wilmore e Suny Williams, já sendo chamados pela mídia de “perdidos no espaço”. O mais recente adiamento foi no dia 26.

A cápsula foi lançada ao espaço no dia 5 de julho do Cabo Canaveral, na Flórida, com previsão de retornar à Terra no dia 12, em seu primeiro voo tripulado.

Aliás, já realizado com enorme atraso em relação ao cronograma do contrato de 4,2 bilhões de dólares, assinado em 2014, para desenvolvimento da Starliner, voos de teste e seis voos de rotação de tripulação da ISS.

A outra empresa contratada para desenvolver uma cápsula para a Nasa, a Space X, que recebeu US$ 2,6 bilhões, teve maior capacidade de inovação e sua nave Crew Dragon já opera regularmente para a agência espacial norte-americana desde 2020, tendo cumprido uma dezena de voos.

Durante quase uma década, após a aposentadoria dos ônibus espaciais em 2011, a Nasa ficou dependente de uma carona na nave russa, a Soyus.

A ERA DOS BUGS

Problemas de engenharia e de controle dos processos de fabricação e da qualidade, vistos na área civil da gigante aeronáutica norte-americana, se repetiram no desenvolvimento da Starliner.

Contratempos que vão desde um bug de software que colocou a nave numa trajetória errada durante o primeiro teste não tripulado em 2019, até à descoberta, após o segundo teste, de que a cabine estava cheia de fita elétrica inflamável.

O segundo voo sem tripulação aconteceu em maio de 2022, embora previsto para agosto de 2021. Antes desse voo, os engenheiros descobriram que as válvulas no sistema de propulsão do Starliner estavam presas, e o veículo teve que ser recolhido da plataforma de lançamento e enviado de volta à fábrica para reparos.

Também os testes com os cabos do sistema de paraquedas – desenvolvido para que a Starliner seja a primeira cápsula fabricada nos EUA a realizar um pouso em solo, em vez de retornar ao oceano – mostraram não corresponder à margem de segurança, exigindo a correção.

VAZAMENTO DE HÉLIO E FALHA NOS PROPULSORES

O voo tripulado inaugural da Starliner – que é considerado ainda um voo de teste – foi adiado brevemente em razão de um vazamento de hélio, gás inerte usado para pressurizar bombas dos propulsores. Mas entendeu-se que não era tão grave e a espaçonave decolou rumo à ISS. No trajeto, mais vazamentos de hélio foram identificados.

A acoplagem também apresentou problema: cinco dos 28 propulsores do módulo falharam em seu funcionamento, atrasando a ancoragem em mais de uma hora. Segundo a Nasa e a Boeing, os vazamentos de hélio estão estáveis.

Os vazamentos de hélio têm sido um desafio persistente para a Boeing e a NASA. As equipes inicialmente pensaram que os vazamentos eram causados por uma vedação defeituosa, mas ainda não conseguiram identificar a causa exata.

NO VERMELHO

Os problemas técnicos têm sido um fardo para a Boeing, que relatou US$ 883 milhões em perdas na Starliner até outubro de 2022. “Há dores de crescimento no desenvolvimento e voo de uma aeronave – estamos muito próximos”, disse Mark Nappi, vice-presidente e gerente do programa da Boeing para a cápsula. “Isso faz parte do negócio ter esse tipo de problemas”.

Após a conclusão da missão, a Boeing passará por um rigoroso processo de certificação para que a Starliner possa realizar missões regulares de transporte de tripulação para a Nasa, como determina o contrato.

A empresa precisa iniciar as missões regulares de transporte de tripulação para começar a ser remunerada por esse serviço. É que nessa nova relação da Nasa com as gigantes aeroespaciais, elas recebem um valor determinado para desenvolver as espaçonaves. E a Nasa, ao invés de possuir as espaçonaves diretamente como os ônibus espaciais, passa a pagar pelas viagens de rotação de tripulação da ISS.

Concluindo, segundo o gerente do Programa Comercial de Tripulação da Nasa, Steve Stich, “até agora, não vemos nenhum cenário em que a Starliner não vá conseguir levar Butch e Suni para casa”.

Fonte: Papiro