Palestina dobra uma tenda para voltar a se deslocar sem saber onde cairá a próxima bomba de Netanyahu | Foto: Bashar Taleb/AFP

Ataques israelenses mataram 101 palestinos e feriram 169 nas últimas 24 horas, denunciou o Ministério da Saúde de Gaza no sábado (22). O que inclui 25 mortos e 50 feridos na tarde de sexta-feira, que estavam abrigados em tendas perto da sede da Cruz Vermelha em Rafah.

Trata-se do maior número diário de mortes desde 8 de Junho, quando as forças israelenses mataram 274 palestinos para libertar quatro prisioneiros israelenses no campo de refugiados de Nuseirat.

Pelo menos 42 palestinos foram mortos no norte de Gaza, no campo de refugiados de Shati e no bairro de Tuffah, disse à Al Jazeera no sábado o chefe do Gabinete de Comunicação Social do Governo de Gaza, Abu Azzoum.

“As equipes de resgate, com a ajuda de civis, estão tentando vasculhar os escombros em busca de sobreviventes. Está aumentando o número de vítimas que chegam ao Hospital Al Aqsa”, ele acrescentou.

Azzoum assinalou que Israel está “atacando novamente áreas onde operou, apesar do seu anúncio anterior de que conseguiu controlar militarmente a parte norte de Gaza”.  

No oeste de Rafah, tanques israelenses tentaram avançar, enquanto aviões de guerra e artilharia atacaram a cidade. Um blindado foi destruído por um dispositivo explosivo improvisado plantado pelo Hamas.

“A noite passada foi uma das piores noites no oeste de Rafah: drones, aviões, tanques e navios de guerra bombardearam a área. Sentimos que a ocupação está tentando completar o controle da cidade”, disse Hatem, morador de Rafah, à Reuters.

Na sexta-feira, bombardeio israelense perto da sede da Cruz Vermelha no campo de al Mawasi – designado por Israel como zona segura – matou pelo menos 25 pessoas e feriu outras 50, em dois ataques, informou a agência de notícias Associated Press.

Testemunhas cujos familiares morreram em um dos bombardeamentos contaram à AP como as forças israelenses dispararam uma segunda saraivada que matou pessoas que saíam das suas tendas tentando se salvar.

 “Estávamos em nossa tenda e eles lançaram uma ‘bomba sonora’ perto das tendas da Cruz Vermelha, e então meu marido saiu ao primeiro som”, disse Mona Ashour, cujo marido foi morto no ataque, à AP em frente ao Hospital Nasser nas proximidades de Khan Younis.

“Depois atacaram com o segundo, que ficava um pouco mais perto da entrada da Cruz Vermelha”, disse ela.

“Tínhamos acabado de comer e estávamos prestes a dormir e descansar um pouco, e a próxima coisa que ouvimos foi o som de explosões retumbantes destruindo nossos lugares. Ficamos sozinhos sem saber o que fazer. Ainda não conseguimos processar o que aconteceu”, relatou outro sobrevivente.

A Cruz Vermelha (CICV) condenou o ataque ao campo e disse que a localização do seu escritório humanitário, que foi atingido, era conhecida pelas partes em conflito.

 “Disparar tão perigosamente perto de estruturas humanitárias, cujas localizações as partes em conflito têm conhecimento e que estão claramente marcadas com emblemas da Cruz Vermelha, colocam em risco a vida de civis e de funcionários da Cruz Vermelha”, afirmou num comunicado.

“O ataque danificou a estrutura do escritório do CICV, que está cercado por centenas de civis deslocados que vivem em tendas, incluindo muitos dos nossos colegas palestinos.”

A OMS alertou que o sistema de saúde em Gaza está à beira do colapso, à medida que as vítimas do ataque israelense à “zona segura” de al Mawasi chegavam ao Hospital Al Aqsa.

O massacre dessa sexta-feira ocorreu apenas dois dias depois de a comissão de investigação da ONU sobre a guerra em Gaza ter oficialmente acusado o governo israelense de “extermínio”, “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.

“A única conclusão que você pode tirar é que o exército israelense é um dos exércitos mais criminosos do mundo”, disse o membro da comissão Chris Sidoti.

CUMPLICIDADE DOS EUA

Navi Pillay, que presidiu a investigação da ONU, condenou implicitamente os Estados Unidos por servirem como facilitadores do genocídio de Gaza. “Se não fosse a ajuda de países poderosos, Israel não teria sido capaz de realizar essa ocupação perpétua de forma tão agressiva quanto tem”, ela sublinhou.

Israel está sob investigação da mais alta instância mundial judicial, a Corte Internacional de Justiça da ONU (CIJ), por genocídio em Gaza, acusação apresentada pela África do Sul e que foi aceita, e reforçada pelo endosso de uma dezena de países. Também o procurador Karim Khan, do Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga pessoas, não países, anunciou a intenção de emitir mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Segundo as denúncias, as vítimas do genocídio perpetrado por Israel já passam de 37 mil palestinos, há uma punição coletiva contra a população palestina por meio do bloqueio de alimentos, remédios e combustível, 90% da população foi deslocada de seus lares, a infraestrutura civil e as residências foram destruídas e o enclave está à beira de uma fome catastrófica.

Fonte: Papiro